GRITO DE
DESESPERO: Após IBOPE Mostrar Lula Imbatível, FHC Pede União De Todo O Golpe
Por Redação
Click Política Em 1 jul, 2018
Articulador
do golpe de 2016, que depôs a presidente honesta Dilma Rousseff e a subsitituiu
por Michel Temer, denunciado por corrupção e organização criminosa, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que recentemente apareceu pedindo
dinheiro a Marcelo Odebrecht, reaparece neste domingo nos jornais falando em
‘autoridade moral’ e propondo a união dos candidatos que representam o golpismo
ainda no primeiro turno.
“Se for o caso, devemo-nos unir ainda no primeiro
turno para evitar que o povo tenha de escolher entre o ruim e o menos pior”,
diz FHC, que teme um segundo turno entre Lula (ou se seu candidato) e Jair
Bolsonaro.
FHC tenta construir uma coalizão que inclua Geraldo Alckmin, Rodrigo
Maia, Marina Silva, Henrique Meirelles e Alvaro Dias.
Leia, abaixo, seu artigo
deste fim de semana.
Sejamos radicais
Devemo-nos
unir para evitar que o povo tenha de escolher entre o ruim e o menos pior
Por Fernando
Henrique Cardoso
O Brasil
exige: sejamos radicais.
Mas dentro da lei: que a Justiça puna os corruptos,
sem que o linchamento midiático destrua reputações antes das provas serem
avaliadas.
Não sejamos indiferentes ao grito de “ordem!”.
Ele não vem só da
“direita” política, nem é coisa da classe média assustada: vem do povo e de
todo mundo. Queremos punição dos corruptos e ordem para todos, entretanto, dentro
da lei e da democracia.
O País foi
longe demais ao não coibir o que está fora da lei, o contrabando, o
narcotráfico, a violência urbana e rural, a corrupção público-privada.
Devemos
refrear isso mantendo a democracia e as liberdades antes que algum demagogo,
fardado ou disfarçado de civil, venha a fazê-lo com ímpetos autoritários.
Só com
soldados armados se enfrentam os bandidos, eles também com fuzis na mão.
Se não
há mais espaço para a pregação e a condescendência, tampouco queremos,
entretanto, que a arbitrariedade policial prevaleça.
O Brasil tem
pressa: chega de governos incompetentes.
Não se trata só da falta de dinheiro,
mas da má gestão aliada às vantagens corporativas e partidárias.
Não há
crescimento da economia nem empregabilidade sem investimento público e privado.
Precisamos reintegrar nossa economia aos fluxos de criatividade e às cadeias
produtivas mundiais.
Assim como precisamos melhorar a infraestrutura para
escoar a produção.
Não haverá
adesão aos valores básicos que mantêm a coesão social sem crescimento contínuo
da economia e sem respeito ao meio ambiente.
Crescer de modo sustentável a 4%
ao ano por 20 anos assegura melhor distribuição de renda e oferece mais emprego
do que picos ocasionais de 6% ou 7% de crescimento em um ou dois anos, seguidos
de mergulhos de 1 a 3 pontos negativos a cada três anos.
Nada disso
se conseguirá sem que a educação seja o centro das atenções governamentais e
populares.
Sem
reformas, a da Previdência acima de todas, pelos danos que a legislação
previdenciária atual causa ao Orçamento público, e sem uma “reforma moral” nas
nossas práticas políticas, eleitorais e partidárias, nosso destino nacional
estará comprometido por décadas.
Um Congresso
com 26 partidos torna o País ingovernável.
Um governo que tem quase 30
ministérios, cujos titulares são desconhecidos até pelos cidadãos mais bem
informados, é incapaz de se haver com os desafios do futuro.
Há que reconhecer
que o sistema político que montamos em 1988 se exauriu.
A
Constituição preserva, e isso deve ser mantido, tanto a intangibilidade e os
limites sociais da propriedade privada como os direitos humanos fundamentais.
Mas ela não abriga atos de violência nem de desordem continuada.
Entende-se a
motivação dos sem-teto, como também a dos sem-terra. Mas fora da lei o que era
propósito de reconstrução se transforma em instrumento de deterioração. Há que
dar um basta a tanta desordem.
Façamo-lo com a Constituição nas mãos, antes que
outros o façam, em nome da ordem, mas sem lei.
É este o
radicalismo de que precisamos: decência na vida pública, crescimento da
economia, salários mais condizentes com o custo de vida, seriedade no trato das
finanças públicas, reformas em nome da igualdade social e regional e um serviço
público que atenda às demandas básicas das pessoas: moradia, transporte, saúde,
educação e segurança.
Que os governos se unam à iniciativa privada se for
necessário e lhe cedam o passo quando for mais racional para assegurar o
atendimento às necessidades do povo.
Um programa
simples como esse requer autoridade moral dos que vierem a nos comandar. Só com
ela haverá força para dar rumo seguro ao País.
Só assim levaremos adiante as reformas,
incluída a da Constituição, sem que os poderosos se tornem suspeitos de estar a
serviço das oligarquias políticas, econômicas e corporativas.
É para isso
que precisamos formar um Polo Popular e Progressista.
Por popular entenda-se
que respeite a dinâmica dos mercados, pois vivemos num sistema capitalista, mas
que saiba que ela não é suficiente para atender às necessidades de toda a
população.
Por progressista entenda-se que esse bloco seja consciente das
transformações produtivas e políticas do mundo, tenha coragem de viver nele tal
como ele é e preserve a crença no Brasil como nação.
Ou
participamos ativamente das mudanças do mundo contemporâneo ou seremos
irrelevantes.
Pior, perderemos o que de melhor podemos tirar dele: sua
capacidade de renovar-se tecnológica e politicamente.
Na campanha
eleitoral que se aproxima os temas centrais estão se delineando: o desprezo aos
partidos e à classe política, que advém da descoberta de que as bases do poder
apodreceram pela corrupção, só poderá ser ultrapassado se o povo perceber que
há alternativas à desmoralização de tudo e de todos.
O grito dos
desesperados por emprego e renda não se resolve só com assistencialismo.
Este é
necessário para a sobrevivência das pessoas.
Mas a dignidade delas requer
medidas que restabeleçam a confiança na economia, no investimento e no emprego,
dando-lhes um horizonte de futuro.
O medo da
violência reinante e a perda de oportunidades econômicas tornam o eleitorado
suscetível às pregações de “mais ordem”.
Empunhemos essa consigna, mas sem
substituir a lei pelo arbítrio. Ordem na lei e com bases morais sólidas.
Não é pedir
demais que alguns candidatos em disputa no próximo dia 3 de outubro subscrevam
essas diretrizes.
Qual deles passará ao segundo turno depende do empenho de
seus respectivos partidários e da decisão do eleitorado.
Unamo-nos desde já,
entretanto, em torno desses princípios com a firme disposição de chegar ao
segundo turno.
Se dois de nossos candidatos lá chegarem, tanto melhor: será o
povo que dirá qual deles há de conduzir-nos nos próximos anos.
Não devemos
arriscar, porém.
Se for o caso, devemo-nos unir ainda no primeiro turno para
evitar que o povo tenha de escolher entre o ruim e o menos pior.
FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO É SOCIÓLOGO E FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA.
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