O que Temer pretende com a intervenção militar no Rio de Janeiro
16/02/2018
O jornalista
Rodrigo Vianna, da Record escreve texto primoroso do que pode
significar esse decreto de intervenção militar de Temer:
Diante
do caos social provocado por Temer, direita traz Exército para as
ruas: um AI-5 a conta gotas?
Muito
importante esse movimento do governo Temer, de intervir na Segurança
Pública do Rio de Janeiro.
Na prática, é uma intervenção
militar.
A crise política assume assim novos contornos.
Por partes…
1) A
intervenção federal, por lei, impede que nesse período seja votada
qualquer alteração na Constituição.
Com isso, Temer assume
derrota na Previdência, que não poderá mais ser votada.
Mas já
oferece outra cenoura na frente do burro para o mercado e a direita:
o discurso da ordem.
2) O fato do
governador Pezao ter dado declarações estapafúrdias (mostrando-se
incapaz publicamente de deter escalada de violência) pode ter sido
parte de uma estratégia combinada.
Ele foi à reunião no Palácio
que decidiu pela intervenção. E aceitou sem nenhum gesto de
resistência. Estranho, no mínimo.
3) Rodrigo
Maia, conservador na economia, mas um liberal nos costumes (e nem de
longe um truculento no trato político), teria se oposto à medida
extrema.
Foi voto vencido.
O que mostra que há uma linha dura no
bloco de Temer – que é capaz de qualquer coisa daqui pra frente.
4) A meu
ver, essa intervenção ajuda a criar “cultura política” para
uma candidatura da ordem e da porrada – que não seria Bolsonaro,
segundo planos da turma do palácio.
Temer e a turma dele podem
ganhar alguma simpatia dos setores à direita e transferir isso para
o candidato que apoiarem.
Esse nome não está ainda definido.
Mas
Alckmin tende a ganhar por WO no campo da direita, e encampar esse
discurso. O provável “efeito colateral” é Bolsonaro se
fortalecer.
Lembremos
que bancos já começam a dialogar com ele, para a eventualidade de o
discurso da ordem ser a única forma de enfrentar a eleição.
5) Os
generais voltam a ter protagonismo político no país.
Não me
espantaria se um deles se aventurasse a uma candidatura (ao governo
do Rio ou mesmo à presidência).
6) A meu
ver, a esquerda deve denunciar o desmonte do estado e associar o caos
no Rio ao liberalismo obtuso de Temer/PSDB/bancos – que destrói os
instrumentos do Estado.
7) Devemos
defender a ordem pública, mas com Democracia.
E sem truculência.
Devemos defender as comunidades que serão tratadas como “território
inimigo” – espécie de Faixa de Gaza ocupada pelo Estado agora
militarizado.
8) Contra o
caos conservador e neoliberal, a ordem democrática é o único
remédio.
Não devemos abrir mão de também defender a ordem, essa
bandeira não pode ficar com a extrema direita. Mas a ordem
democrática.
9) Alguns
analistas já apostam que o movimento de Temer desembocaria no
cancelamento da eleição.
Alguém lembrou, por exemplo, que o Ceará,
governado pelo PT, foi o primeiro estado onde a OAB sugeriu
intervenção federal há poucos dias.
10) A
análise exposta no ponto 9 resume bem qual seria o provável
“desejo” da ultradireita (com apoio dos EUA, sem dúvida nenhuma,
e de setores do Exército com Etchegoyen à frente).
Mas entre
desejo e fato há sempre uma distância.
Vamos ver se
o lado de lá tem força pra impor essa agenda.
11) O Golpe
de 2016 era (e é) baseado no “softpower” da toga e da mídia.
Se
virar “hardpower”, pode perder apoio do centro e até de certo
“tucanismo paulista”.
12) Chegou a
hora da onça beber água… A Dilma sempre disse (acertadamente) que
perdemos o jogo em 2016 quando o centro se bandeou pra direita.
Se a
estrategia Etchegoyen avançar, o centro pode voltar pro nosso lado.
Outra possibilidade é o centro (Alckmin/PSDB/Maia/DEM) assumir a
estratégia da ordem e tentar se beneficiar dela eleitoralmente,
isolando a esquerda.
13) Contra
esse movimento extremado da direita conta uma onda que vem de baixo e
ficou clara durante o Carnaval.
O Rio está à beira de uma explosão
e a política econômica tucana temerária aprofunda a crise social.
Contra isso, só resta ao outro lado endurecer ainda mais o discurso
da ordem.
Eles terão apoio pra isso nas classes médias e altas.
Mas
e o povo que está à beira do desespero?
Vamos ver…
14) Os
golpistas estão perdendo o controle “por baixo”… Essa onda
Tuiuti mostra isso.
O Sidney Resende (arguto jornalista do Rio, que
circula no meio do samba e da cultura popular ) escreveu sobre isso
ontem nas redes sociais.
Está se criando uma onda de baixo pra cima.
Com ou sem Lula na urna.
Podemos assistir a algo parecido (mal
comparando) com a eleição de 1974 (debaixo do AI-5, em silêncio, o
povo votou contra a ditadura).
É por isso que o golpismo está
alvoroçado.
Perderam a Previdência.
Abriram mão. Agora resta o
discurso da ordem e da porrada.
15) O desfile da Tuiuti, a invasão do Santos Dumont por bloco carnavalesco e as manifestações pró Lula no Carnaval podem ter sido uma espécie de Passeata dos Cem Mil de 2018.
Lembremos que, para toda passeata
dos Cem Mil, a direita pode sempre reagir com um AI-5.
Ainda que ele
venha a conta gotas.
Não chegamos ainda a esse ponto.
Mas estamos à
beira da implantação de um Estado militar-judicial:
com a prisão
provável do líder em todas as pesquisas e a militarização do
cotidiano nas grandes cidades do país.
O Rio é o laboratório para
o golpe avançar para um patamar mais autoritário. Ou
para ser derrotado.
O Senador
Roberto Requião, também faz uma análise um pouco diferente,
afirmando que isso não passa de uma “jogada publicitária” de
Temer:
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Maria Joselia
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