DESEMBARGADORA
DEVE SER EXONERADA! Grupo UOL Faz Checagem De Todas As Acusações Contra
Marielle E Conclui, “TUDO É FALSO”
Por Redação
Click Política Última Atualização 18 mar, 2018
Uma série de
informações falsas circula nas redes sociais desde a morte da vereadora carioca
Marielle Franco (PSOL) na noite da última quarta-feira (14).
Uma corrente de
WhatsApp reproduzida pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro Marilia Castro Neves e um tweet do deputado federal Alberto Fraga
(DEM-DF) replicaram o boato de que Marielle foi casada com um traficante e
tinha associação com o crime.
O tweet do deputado foi deletado, mas o estrago
já estava feito: nada disso é verdade.
Veja,
abaixo, o que Aos Fatos checou:
FALSO:
Marielle engravidou aos 16 anos
Morta na última quarta-feira (14), Marielle tinha 38 anos de idade e uma filha
de 19, chamada Luyara Santos.
Isso significa que ela engravidou entre os 18 e
19 anos — e não aos 16.
“Mataram a
minha mãe e mais 46 mil eleitores! Nós seremos resistência porque você foi
luta! Te amo”, escreveu sua filha nas redes sociais.
FALSO:
ex-mulher de Marcinho VP
Conforme já mostrou o site Boatos.org, Marielle nunca foi casada com ex-traficante
— seja lá qual Marcinho VP a corrente de WhatsApp insinua ser.
É que existem
dois Marcinhos: Márcio Amaro de Oliveira, traficante carioca que atuava na
favela Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio, e Márcio dos Santos
Nepomuceno, traficante carioca do Complexo do Alemão, zona norte da capital
fluminense.
O primeiro
morreu em 2003, dentro do presídio de Bangu 3, e é o personagem central do
livro “Abusado”, do jornalista Caco Barcellos.
Integrante do Comando Vermelho,
estava preso desde abril de 2000, quando foi encontrado no Morro do Falet, no
Rio Comprido, zona norte do Rio.
Ele estava foragido desde 1997 fora do Rio.
Ou
seja, a cronologia não bate: na época de sua prisão, Marielle tinha em torno de
20 anos, já tinha uma filha e estudava em pré-vestibular comunitário na Maré.
Antes disso, ele sequer estava no Rio.
O Marcinho
VP menos midiático é Márcio dos Santos Nepomuceno, preso desde 1997.
Foi
capturado em Porto Alegre, mas, desde então, também já esteve em Mossoró, no
Rio Grande do Norte, e em Catanduvas, no Paraná.
A data e os locais também
inviabilizam a narrativa de que Marielle fora casada com o traficante.
Até uma
imagem tem sido distribuída nas redes afirmando ser de Marielle e algum dos
Marcinhos VPs. No entanto, ela não retrata nenhum
dos dois.
Um leitor enviou à
equipe o rastro original da imagem: um fotolog com uma publicação de 13 de
agosto de 2005.
FALSO:
Marielle defendia traficantes
No ato de registro de candidatura, Marielle também apresentou certidão da
Justiça Federal no Rio de Janeiro que certifica que:
“em pesquisa nos registros
eletrônicos armazenados no Sistema de Acompanhamento e Informações Processuais,
a partir de 25/04/1967, até a presente data, exclusivamente na Seção Judiciária
do Rio de Janeiro, com sede na Cidade do Rio de Janeiro, que contra: MARIELLE
FRANCISCO DA SILVA, ou vinculado ao CPF: 086.472.877-89, NADA CONSTA, na Seção
Judiciária do Rio de Janeiro”.
Outras certidões de mesmo teor estão aqui
e
aqui.
Amigos da
vereadora morta no Rio também negam a informação e repudiam a tentativa de
associá-la ao tráfico de drogas.
No Facebook, a sobrinha de Marielle, Annie
Caroline, afirma:
“por favor, não compartilhe áudios de outras pessoas dizendo
que é minha tia.
Por favor, não diga que ela era envolvida com o Comando
Vermelho.
E, essencialmente, não vá nas postagens da minha prima dizer que ela
é filha do Marcinho VP e que minha tia engravidou aos 16.
Isso foi o cúmulo pra
perceber o quanto as pessoas são insensíveis com a dor
de uma filha”.
Reportagem
do G1 publicada neste sábado (17) mostra, inclusive, que Marielle ajudou na
apuração da morte do policial civil Eduardo Oliveira em 2012.
À época, Marielle
era assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio
de Janeiro e lotada no gabinete do deputado Marcelo Freixo (PSOL).
“Tenho pena
por escreverem esse absurdo. Deveriam orar mais para que não aconteçam com
elas.
É triste ver o que a pessoa fez por outras e não ter reconhecimento. ‘Ah
porque não fez para X, Y, Z’. Ela fez por muita gente, para família de
policiais.
Porque eu sou de família de policial.
Fico muito triste com o que
escrevem, não era nem para levar a sério”, disse a mãe do policial, Rose
Vieira.
Marielle
morava com sua mulher e sua filha na Tijuca, na zona norte do Rio.
FALSO:
Eleita pelo Comando Vermelho
Não fica claro o que significa ser “eleita pelo Comando Vermelho”.
O Complexo
da Maré, onde Marielle se criou, é dominado por duas facções criminosas rivais:
o Comando Vermelho, que detém o poder de regiões como Nova Holanda e Parque
Maré, e o Terceiro Comando Puro — que se concentra em regiões maiores, como a
Baixa do Sapateiro, a Vila do Pinheiro, a Vila do João.
Há também regiões
dominadas por milícia, mas são minoritárias.
Marielle
mantinha fortes laços sobretudo na Baixa do Sapateiro, no Morro do Timbau e no
Conjunto Esperança, onde passou sua infância, juventude e vida adulta — e onde
o domínio sequer é do Comando Vermelho.
Trata-se de
uma comunidade que, com a ausência de policiamento e de políticas do Estado,
está conflagrada.
As duas facções criminosas disputam o local — e o TCP parece
estar em situação mais favorável.
No entanto,
não há qualquer nexo entre a disputa de territórios do CV na Maré e a eleição
de Marielle.
A vereadora foi eleita com 46,5 mil votos, dentre os quais apenas
1,6 mil foram de eleitores da Maré e arredores.
A informação é do jornal Extra
e demonstra que outros candidatos das favelas não conseguiram se eleger para a
Câmara de Vereadores sem os votos de outras regiões da cidade.
Para se ter uma
ideia, o Complexo da Maré tem mais de 130 mil habitantes, segundo o Censo 2010.
O eleitorado
de Marielle, segundo mapa do jornal O Globo com base em dados do Tribunal
Regional Eleitoral do Rio, se concentrou sobretudo nas zonas eleitorais do
Leblon e da Gávea, de Copacabana e de Copacabana, Ipanema e Lagoa — regiões
ricas da cidade.
Botafogo, Urca, Humaitá e Jardim Botânico também tiveram forte
participação em sua eleição, assim como as zonas eleitorais do Catete, da
Glória e da Lapa, além daquelas no Maracanã e na Tijuca.
As bandeiras
defendidas por Marielle vão ao encontro daquelas endossadas por movimentos que
lutam pelo fim da violência perpetrada pelo tráfico e pelas incursões policiais
na região.
Sem UPPs (Unidades de Polícias Pacificadoras), a estratégia de
combate ao crime em suas comunidades não é permanente.
Policiais entram em suas
favelas com regularidade em situação de conflito, o que expõe a população local
e os próprios agentes da polícia.
Era contra essa vulnerabilidade que Marielle
militava.
“Do tráfico
não se cobra a lei e o respeito. Eu cobro essa postura é do Estado”, disse
Marielle no Twitter.
FALSO: “E
ela foi eleita pelo Comando Vermelho.
A favela bancou ela. O tráfico, o tráfico
bancou ela, o tráfico colocou ela lá dentro”
A frase consta de um vídeo divulgado nas redes sociais e que essencialmente
reproduz as falsidades já desmentidas nesta checagem.
No Youtube, em um perfil
que defende intervenção militar, tem mais de 3 mil visualizações, mas um leitor
de Aos Fatos, que sugeriu a checagem, recebeu uma versão por WhatsApp.
A
afirmação sobre o financiamento da campanha da vereadora é, conforme Aos Fatos
apurou, falsa.
Segundo
dados disponíveis no TSE, a campanha à vereadora de Marielle Franco arrecadou
R$ 92.193,33. 23% do financiamento veio da Direção Municipal e Estadual do
PSOL, 8%, de doação da campanha à prefeitura de Marcelo Freixo e 3%, de
recursos da própria candidata.
O restante
da receita da campanha da vereadora foi financiado por 48 pessoas físicas.
Desse total, 11 delas fizeram doação de prestação de serviço somando um valor
estimado de doação de R$ 18.200.
Entre as pessoas físicas que doaram mais de R$
2 mil, estão dois professores, três pesquisadores de institutos de pesquisas,
um advogado e dois funcionários estaduais.
Nenhum deles é ou foi parte de
nenhum processo judicial criminal, segundo os dados do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro consultados a partir dos CPFs dos doadores.
Os dados
estão nas bases do TSE e podem ser consultados aqui.
Colaborou
Julianna Granjeia
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