quinta-feira, 2 de julho de 2020

Zanin: Lula Foi Prisioneiro Dos Estados Unidos Em Solo Brasileiro


Zanin: Lula Foi Prisioneiro Dos Estados Unidos Em Solo Brasileiro

Celeste Silveira 2 de julho de 2020

 Lula ameaça Moro: Sem a toga, ele não é ninguém e vai aprender ...
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“Há uma responsabilidade direta dos EUA pelo fato de o ex-presidente Lula ter sido condenado injustamente, ilegalmente e ter sido colocado por 580 dias na prisão”, declarou o advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin. 
“O presidente Lula foi vítima de uma perseguição”, disse Zanin.

Cristiano Zanin, advogado de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em participação no programa Bom Dia 247 desta quinta-feira (2) que as provas apresentadas na defesa do ex-presidente, somadas às novas revelações da Vaza Jato de interferência estadunidense na operação Lava Jato evidenciam “uma responsabilidade direta dos EUA pelo fato de Lula ter sido condenado injustamente, ilegalmente e ter sido colocado por 580 dias na prisão”. Ele “foi vítima de uma perseguição”, afirmou.

Zanin disse que chegou a pedir ao ministério da Justiça informações a respeito dos diálogos entre os EUA e a Lava Jato, mas até o momento, “todas as informações foram negadas”.

A Agência Pública e o The Intercept Brasil publicaram nesta quarta-feira (1) novos diálogos vazados que mostram a intimidade entre a Polícia Federal e o FBI durante as investigações da operação conduzida formalmente por Deltan Dallagnol, então coordenador da operação. 

A reportagem também divulgou nesta quinta (2) os nomes de 13 agentes do FBI que atuaram na operação que abalou a soberania nacional. 

Confira os nomes aqui.

Zanin explicou como se deram as relações escusas envolvendo Polícia Federal e os agentes da justiça estadunidense.

 Segundo ele, a atuação sigilosa ocorreu através do “Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) [Lei de Práticas de Corrupção no Exterior], uma lei anti-suborno criada em 1977, nos EUA”.

“Em princípio era uma lei destinada a punir empresas americanas que praticassem suborno no exterior. 
No entanto, esta lei se tornou uma poderosa arma para os EUA ampliarem sua jurisdição para outros países”, elucidou Zanin.

“Hoje, o FCPA é usado, por exemplo, para punir empresas brasileiras, mesmo aquelas que não tenham relação direta com os EUA. 

Basta um email com um servidor norte-americano, ou uma reunião em solo norte-americano para se criar essa conexão, para se expandir a jurisdição americana para o território estrangeiro”, acrescentou.

O advogado explicou que “tal tática foi largamente utilizada pela Lava Jato” e que a “operação indicava empresas aos EUA que poderiam ser alcançadas pelo FCPA”. 

“Houve uma cooperação intensa com as autoridades americanas. 
Essa cooperação foi informal, à margem da lei, fora dos canais oficiais”, alertou.

Ao longo da operação Lava Jato, grandes empresas brasileiras, como Odebrecht e JBS, foram alvos e tiveram perdas de R$ 6,2 bilhões e R$ 3,5 bilhões de reais, respectivamente.

“Hoje nós sabemos que, seja pelas provas que nós apresentamos, seja pelas revelações da Vaza Jato, nunca existiu teoria da conspiração”, concluiu Zanin, referindo-se ao argumento utilizado várias vezes pelo ex-juiz da operação, Sergio Moro, quando questionado sobre a interferência dos EUA nos rumos da operação.

*Com informações do 247

CONTINUA

Quem São Os Agentes Do FBI Que Atuaram Na Lava Jato


Celeste Silveira 2 de julho de 2020

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Entre policiais que têm até página no LinkedIn e outros com nomes genéricos e desconhecidos, o que se sabe sobre os 13 agentes que participaram das investigações para o governo americano em solo brasileiro.

São de dois tipos os agentes do FBI que atuaram na Lava Jato em solo brasileiro. 

Alguns são figuras públicas, dão entrevistas e aparecem cada vez mais frequentemente em eventos elogiando o trabalho da força-tarefa e dando conselhos a corporações sobre como seguir a lei americana.

Outros tiveram atuação temporária e são conhecidos por apelidos ou nomes tão comuns que é muito difícil encontrar algo sobre eles em fontes abertas na internet. 

Essa é uma prática comum nos escritórios do FBI no exterior, para evitar a exposição de agentes que realizam operações secretas ou controversas em território estrangeiro. 

Hoje, a agência mantém escritórios em embaixadas de 63 países e sub-escritórios em 27. 

Em 2011, o FBI empregava 289 agentes e pessoal de apoio nesses escritórios no exterior.

Embora as duas maiores investigações de casos de corrupção originados na Lava Jato pelo Departamento de Justiça (DOJ) americano já tenham terminado, com os acordos bilionários da Odebrecht e Petrobras, o FBI ainda tem muito a fazer para investigar corrupção no Brasil, nas palavras do atual chefe do FBI no país, David Brassanini, em palestra no 7º Congresso Internacional de Compliance, em maio de 2019, em São Paulo. 

A cooperação foi descrita como “fluida, sem problemas e transparente”, pois seus agentes já tinham familiaridade com a cultura e a sociedade brasileiras.

 “A habilidade de desenvolver e entender as peculiaridades locais é grande. 

Não só a questão da língua, mas em entender realmente como o Brasil funciona, entender as nuances”, afirmou. 
Brassanini relatou também, no mesmo evento, que agentes do FBI vêm a São Paulo “toda semana para tratar de diferentes casos que envolvem FCPA e lavagem de dinheiro”.

Com base em documentos da Vaza Jato entregues ao The Intercept Brasil e apuração em fontes abertas, a Agência Pública localizou 12 nomes de agentes do FBI que investigaram os casos da Lava Jato lado a lado com a PF e a Força-Tarefa, além da agente Leslie Backschies, que hoje comanda o esquadrão de corrupção internacional do FBI. 

E descobriu que essas investigações viraram símbolo de parceria bem sucedida e levaram à promoção diversos agentes americanos. 

Segundo um ex-promotor do Departamento de Justiça americano contou à Pública, a presença de agentes do FBI no Brasil foi fundamental para o governo americano concluir suas investigações sobre corrupção de empresas brasileiras.

Com base na lei americana Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), o Departamento de Justiça investigou e puniu com multas bilionárias empresas brasileiras alvos da Lava Jato, entre elas a Petrobras e a Odebrecht.

Embora haja policiais lotados legalmente na embaixada em Brasília e no consulado em São Paulo, é proibido a qualquer polícia estrangeira realizar investigações em solo brasileiro sem autorização expressa do governo brasileiro, já que polícias estrangeiras não têm jurisdição no território de outros países.

A colaboração do FBI com a Lava Jato teve início em 2014 e foi fortalecida em 2015 e 2016, quando o foco da operação eram Odebrecht e Petrobras. 

Em 2016, a Odebrecht aceitou pagar a maior multa global de corrupção até então: US$ 2,6 bilhões a Brasil, Suíça e EUA. 

A parcela devida às autoridades americanas, no valor total de US$ 93 milhões, foi paga à vista. Hoje, a empresa está em processo de recuperação judicial.

Em 2018, a Petrobras aceitou pagar a maior multa cobrada de uma empresa pelo Departamento de Justiça americano: US$ 1,78 bilhão.

“O que ocorre no Brasil está mudando o modo como olhamos os negócios e a corrupção no mundo inteiro”, afirmou um dos maiores defensores da cooperação com os Estados Unidos, George “Ren” McEachern, em entrevista à Folha de S. Paulo em fevereiro de 2018, sob o título “Curitiba mandou a mensagem de que o Brasil está ficando limpo”.

“Ren” McEachern chefiou a Unidade de Corrupção Internacional do FBI até dezembro de 2017 e supervisionou o grosso das investigações da Lava Jato em nome do Departamento de Justiça americano. 

Segundo os documentos vazados ao The Intercept Brasil e analisados em parceria com a Agência Pública, ele esteve na primeira delegação de investigadores americanos que esteve em Curitiba em outubro de 2015, sem autorização do Ministério da Justiça, conforme revelamos nesta reportagem.

Ren nunca escondeu sua participação nos casos ligados à Lava Jato. “Você precisa compartilhar informações [com outros países]. 
Porque agora todos os negócios são globais. 

Uma empresa que paga propina no Brasil paga também em outros países”, disse à Folha em fevereiro de 2018. 

Pouco antes, Ren deixara o FBI para passar ao setor privado. 
Na empresa de consultoria Exiger, ele viaja o mundo para ensinar métodos de “compliance” a leis anticorrupção para empresas evitarem investigações como as que ele liderava no FBI.

 
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Quando veio na primeira delegação para negociar com os delatores das Lava Jato, em outubro de 2015, Ren estava acompanhado pela tradutora Tania Cannon e por outros agentes do FBI. 
Um deles, Jeff Pfeiffer, veio de Washington, onde é lotado desde 2002 e trabalha em casos de corrupção, segundo seu perfil no LinkedIn.

Formado em contabilidade e administração, o agente foi designado dois anos depois, em 2017, como assistente do procurador Robert Mueller na investigação sobre interferência russa nas eleições americanas. 

Pfeiffer investigou o chefe da campanha de Donald Trump, Paul Manafort, acusado de esconder contas bancárias no exterior, fraude bancária e conspiração para lavar mais de 30 milhões de dólares, além de tentar obstruir a Justiça, segundo o policial afirmou perante um tribunal em 2019.

Outro agente que esteve na comitiva de 2015 foi apresentado oficialmente à Lava Jato como Carlos Fernandes, um nome tão comum que é impossível encontrar referências a ele.

O FBI ainda enviou para Curitiba dois membros do escritório em Brasília, o adido legal Steve Moore e o adido-adjunto David F. Williams.

Williams aparece algumas vezes em comunicação direta com procuradores da Lava Lato nos diálogos vazados ao The Intercept Brasil. 

Foi ele quem atendeu ao pedido feito, em setembro de 2016, pelos procuradores Paulo Roberto Galvão de Carvalho e Carlos Bruno Ferreira da Silva, para verificar se o FBI conseguiria quebrar o sistema MyWebDay através do qual os funcionários da Odebrecht administravam as propinas pagas em diversos países, conforme revelamos na reportagem “o FBI e a Lava Jato”.

*Natalia Viana, Rafael Neves, Agência Pública/The Intercept Brasil




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