Mourão:
Fechamento da fronteira da Venezuela “não é ato de agressão”
4 hours ago Internacional
22/02
General da
reserva, o vice-presidente Hamilton Mourão, de 65 anos, virou alvo das
hostilidades dos setores mais conservadores do governo de Jair Bolsonaro por
defender posições consideradas moderadas.
Mas, em entrevista à agência de
notícias AFP nesta quinta-feira (21), ele afirma que busca no cargo ter “papel
complementar” e ser “o escudo e a espada” do presidente.
O
vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, falou sobre a Venezuela e
desaconselhou a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv
para Jerusalém.
Ele também defendeu que as reformas econômicas sejam
priorizadas em detrimento da chamada “agenda conservadora”, que inclui projetos
como a Escola Sem Partido ou redução da maioridade penal.
Confira a entrevista:
O presidente
venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou fechar a fronteira com o Brasil para
evitar a entrada de ajuda humanitária.
Como o senhor avalia esta decisão?
HM: Vejo
essa reação simplesmente para impedir que ocorra esse processo de ajuda
humanitária.
O Brasil vai
protestar ou reagir de alguma maneira?
HM: O
fechamento da fronteira para nós não significa um ato de agressão. A Venezuela
tem liberdade para fazer o que quiser.
O senhor
teme uma ação militar dos Estados Unidos contra a Venezuela?
HM: A ameaça
está mais no campo da retórica do que na ação. Seria muito prematuro e fora de
propósito os EUA realizarem uma intervenção militar dentro da Venezuela.
A
questão da Venezuela tem que ser resolvida pelos venezuelanos.
O senhor é
considerado o maior comunicador do governo e, também um moderador.
Sente-se
confortável com esse papel, embora seja criticado por isso no próprio governo?
HM: Acho que
meu papel é de complementar o do nosso presidente. O presidente é nosso líder,
o presidente é um homem da ação, da decisão.
Eu busco ter esse papel
complementar como já disse, que seja muitas vezes o escudo e a espada dele.
As críticas
dos evangélicos, de Steve Bannon, de Olavo de Carvalho, não refletem divisões
na aliança do governo?
HM: É uma
questão de opinião. Eu sempre digo que é a minha opinião pessoal.
No momento em
que o presidente tomar decisões em assuntos nos quais eu já emiti opiniões que
não eram unanimidade, eu passo a ter a mesma decisão que ele. É uma questão de
disciplina intelectual.
Existe uma
ala militar no governo ou um partido militar?
HM: Não.
Acho que essa é uma interpretação errônea.
Raramente falo com meus conhecidos
que pertencem às Forças Armadas, ou que pertenceram às Forças Armadas, cada um
envolvido com a área do governo da qual ficou responsável.
Então, eu não vejo
dessa forma. E as Forças Armadas como conjunto estão cumprindo a função
constitucional que elas têm.
Oito dos 22
ministros do governo são militares, além do presidente e do vice. O que os
militares podem aportar ao Brasil na política?
HM: Nós
estamos muito ligados aos cargos técnicos, com exceção do ministro da
Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, que está em uma função de
ligação política, ou no caso do general Augusto Heleno, do Gabinete de
Segurança Institucional, GSI, que sempre foi um cargo de militares, e o caso do
ministério da Defesa, comandado pelo general Fernando Azevedo e Silva.
O que
nós podemos fazer? Uma das grandes coisas de que o Brasil vem se ressentindo é
a questão da gestão. A gestão pública era péssima.
E ao ser péssima, permitia
que duas coisas ocorressem: recursos mal empregados e desvio de recursos para a
corrupção.
O nosso grande trabalho na minha visão é melhorar a gestão pública.
Qual é a
avaliação que o senhor faz dos dois primeiros meses de governo, marcados por
disputas entre aliados e pela exoneração do ministro da secretaria-geral da
Presidência, Gustavo Bebianno?
HM: Os dois
primeiros meses são um momento de acomodação.
Muita gente pensa que na
transição você consegue já no dia primeiro assumir as coisas.
Tivemos uma
reorganização dos ministérios, os ministérios estavam muito espalhados aqui por
Brasília.
Era necessário que cada ministro fizesse o reconhecimento dessas
áreas, que enxugasse a parte administrativa, então isso levou um tempo.
No
mesmo momento havia a questão de cirurgia do presidente. Agora o presidente
está totalmente recuperado do problema que ele enfrentou.
Esses dois meses –
45, 50 dias – foram exatamente para isso, e os dois projetos que nós
considerávamos os mais importantes entraram no Congresso dentro do prazo
previsto, que eram a questão da reforma da Previdência e a questão do combate à
criminalidade.
Quais são as
lições que o senhor pode tirar dos episódios que atrapalharam o governo, por
exemplo a crise com Gustavo Bebianno?
(Bebianno foi exonerado depois de ter
sido chamado de mentiroso pelo vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro,
outro filho do presidente).
HM: Acho que
a gente tem que ser mais cuidadoso na nossa segurança orgânica. E também a gente
tem que aprender a não reagir tanto com o fígado, reagir mais com a razão.
Depois da
crise, o senhor e outros membros do governo pediram que os filhos do presidente
não interferissem tanto nas áreas do governo. Serão ouvidos?
HM: Acho que
isso faz parte do processo de adaptação que eu te disse.
A família do
presidente é uma família muito unida.
Os filhos são pessoas bem-sucedidas,
porque ele tem três filhos que concorreram a cargos eletivos e foram eleitos
com votação expressiva.
Agora vai chegar o momento em que cada um vai entender
o tamanho da cadeira dele.
A cadeira de deputado federal é uma, a cadeira de
senador é outra e a cadeira de vereador é outra. Eu vejo isso com naturalidade.
É uma concertação que vai acontecer naturalmente.
A respeito a
participação de um dos filhos em atividades diplomáticas em paralelo à
diplomacia do governo. Isso é algo que pode atrapalhar?
HM: O
deputado federal Eduardo Bolsonaro foi aos Estados Unidos em um primeiro
momento e estabeleceu alguns canais de comunicação.
Mas obviamente esses canais
informais, vamos dizer assim, acabaram sendo substituídos pelos canais normais
da diplomacia.
O senhor
acha que a agenda conservadora vai ser importante nos próximos meses?
HM: A agenda
conservadora vai buscar seu espaço de acordo com as necessidades do momento.
Eu
tenho dito que um país com 13 milhões de desempregados, uma necessidade
premente de investimentos na nossa infraestrutura, uma economia que passou por
una recessão de dois anos, com déficit fiscal, com problemas na segurança
pública…
A gente tem que combater isso aí primeiro, e a agenda conservadora vai
avançar paulatinamente.
O general
Heleno falou que existe um risco de fratura do Brasil através das ONGs que
atuam em áreas indígenas. Existe esse risco?
HM: Não. O
que eu vejo é o seguinte: o indígena tem que estar integrado ao conjunto da
população brasileira, porque são indígenas brasileiros, são de origem
brasileira, eles não são um grupo à parte.
Eles falam português, obviamente, e
o que acontece é que eles têm que ter os meios de sobrevivência.
Eles têm que
ter capacidade de explorar a terra que a eles foi designada.
Obviamente, eles
lutaram por aquilo ali.
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