EXCLUSIVO:
os áudios que desmentem o presidente
Da Redação 7
horas atrás 19-02-2019
© Reprodução O agora ex-ministro Gustavo Bebianno e o
presidente Jair Bolsonaro
Nos
bastidores da crise que resultou na demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da
República, houve uma intensa troca de mensagens escritas e de áudio, todas via
WhatsApp, entre o presidente Jair
Bolsonaro e o agora ex-ministro.
Nelas, os dois trocam farpas,
acusações e se desentendem sobre quase tudo.
Desde o início da conversa, o
estado de ânimo de cada um é diferente: Bolsonaro mostra-se irritado e
impaciente, enquanto Bebianno tenta pacificar as coisas.
A relação
entre eles estava estremecida desde que o jornal Folha de S. Paulo revelou
um esquema de candidaturas laranjas do PSL, partido de Bolsonaro que foi
presidido por Bebianno no ano passado. Mas o filho do presidente, Carlos, nunca
teve simpatia por Bebianno, a quem atribui o fato de não ter conseguido
controlar a área de comunicação do governo. Sabe-se que Carlos não fazia
nenhuma questão de esconder do pai sua animosidade com o ministro.
A crise
agravou-se na quarta-feira 13, quando o jornal O Globo trouxe uma
declaração de Bebianno negando qualquer crise no governo e dizendo que, no dia
anterior, havia falado com o presidente “três vezes”.
Carlos
aproveitou a oportunidade para detonar Bebianno. Postou um tuíte dizendo que
era “mentira absoluta” que Bebianno tivesse falado com seu pai.
O tuíte de
Carlos foi compartilhado pelo presidente.
Na noite da mesma quarta-feira,
Bolsonaro deu
entrevista à TV Record em que afirmou que era mesmo mentira que
Bebianno tivesse falado com ele.
Os áudios a
que VEJA teve acesso provam que, se alguém mentiu no episódio, foram o
presidente e o filho.
Bebianno, como se pode constatar nas gravações a seguir,
falou com o presidente por meio de mensagens escritas e pelo menos treze
mensagens de áudio. Confira:
A GLOBO É
“INIMIGA”
Na
terça-feira 12, o presidente Bolsonaro encaminhou a Bebianno uma mensagem
contendo a agenda do ministro. Nela, constava que Bebianno receberia na
terça-feira, às 16h, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo
Globo, Paulo Tonet Camargo.
Ao receber mensagem do presidente, a quem trata
apenas por “capitão”, Bebianno respondeu de imediato: “Algo contra, capitão?”.
Depois de
insistir com algumas mensagens por escrito, Bebianno recebeu o seguinte áudio
do presidente em que ele declara que a Globo é uma inimiga do governo e que, ao
fazer contatos com a emissora, o colocaria em posição delicada com “as outras
emissoras”:
Bolsonaro – “Gustavo,
o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto:
eu não quero
ele aí dentro.
Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós
estamos se aproximando da Globo.
Então não dá para ter esse tipo de
relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim.
Agora… Trazer o inimigo para
dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo
amor de Deus, cara.
Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa
forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes,
durante, agora e após a campanha – para dentro de casa.
Me desculpa. Como
presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final.
Um abraço aí.”
OS MINISTROS
ESTÃO CHATEADOS
Em outro
momento da troca de mensagens, Bebianno envia ao presidente uma nota publicada
pelo site O Antagonista.
A nota informa que Bebianno e mais dois ministros –
Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Damares Alves, da Mulher, Família e
Direitos Humanos – viajariam para o Pará para discutir projetos para a Amazônia
com líderes locais.
Bolsonaro, ainda convalescendo no hospital, não gosta da
ideia e reclama com o ministro:
Bolsonaro – “Gustavo,
uma pergunta: “Jair Bolsonaro decidiu enviar para a Amazônia”? Não tô
entendendo.
Quem tá patrocinando essa ida para a Amazônia? Quem tá sendo o
cabeça dessa viagem à Amazônia? Um abraço aí, Gustavo, até mais.”
Depois desse
áudio, o presidente, aparentemente, conversa com os outros dois ministros,
Salles e Damares, e os dois se mostraram incomodados com a tal viagem.
Bolsonaro, por sua vez, mostra seu receio de vir a ser cobrado por obras na
região amazônica e decide então cancelar a programação toda:
Bolsonaro – “Ô,
Bebianno. Essa missão não vai ser realizada. Conversei com o Ricardo Salles.
Ele tava chateado que tinha muita coisa para fazer e está entendendo como
missão minha. Conversei com a Damares. A mesma coisa.
Agora: eu não quero que
vocês viajem porque… Vocês criam a expectativa de uma obra.
Daí vai ficar o
povo todo me cobrando. Isso pode ser feito quando nós acharmos que vai ter
recurso, o orçamento é nosso, vai ser aprovado etc.
Então essa viagem não se
realizará, tá OK? Um abraço aí, Gustavo!”
Os áudios
acima mostram que Bolsonaro, de fato, falou “três vezes” com Bebianno,
exatamente como o ministro declarara ao jornal O Globo.
Querendo dar ares
de normalidade à rotina do governo e assim minimizar o impacto da crise do
laranjal do PSL, Bebianno declarara o seguinte ao jornal:
“Não existe crise
nenhuma. Só hoje (terça-feira) falei três vezes com o presidente”. Era verdade.
Mas o filho Carlos postou o tuíte dizendo que ficara “24 horas do dia” ao lado
do pai e não registrara qualquer conversa com Bebianno.
E ainda postou um áudio
em que o presidente garante que não tinha falado com o ministro –
aparentemente, pai e filho consideram que troca de áudio não configura uma
“conversa”.
Nos áudios
seguintes, há trocas de mágoas e uma discussão bizarra sobre o que significa
“falar” com alguém. Confira:
“VOCÊ NÃO
FALOU COMIGO”
Neste áudio,
Bolsonaro diz que Carlos não está “incitando a saída” de Bebianno.
Antes,
Bebianno recebera — e encaminhara cópia a Bolsonaro — uma mensagem de um
jornalista (que não é identificado) dizendo que Carlos vinha conversando com
deputados para derrubar o ministro.
Bolsonaro – “O
caso incitando a saída é mais uma mentira. Você conhece muito bem a imprensa,
melhor do que eu. Agora: você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem.
Ele
esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo, nada, nem está
perseguindo ninguém.”
“ISSO ESTÁ
ERRADO”
Bebianno – “Capitão,
há várias formas de se falar.
Nós trocamos mensagens ontem três vezes ao longo
do dia, capitão. Falamos da questão do institucional do Globo. Falamos da
questão da viagem.
Falamos por escrito, capitão. Qual a relevância disso,
capitão? Capitão, as coisas precisam ser analisadas de outra forma.
Tira isso
do lado pessoal. Ele não pode atacar um ministro dessa forma. Nem a mim nem a
ninguém, capitão. Isso está errado.
Por que esse ódio? Qual a relevância disso?
Vir a público me chamar de mentiroso? Eu só fiz o bem, capitão. Eu só fiz o bem
até aqui.
Eu só estive do seu lado, o senhor sabe disso. Será que o senhor vai
permitir que eu seja agredido dessa forma? Isso não está certo, não, capitão.
Desculpe.”
“POR QUE
ESSE ÓDIO?”
Em outro
áudio enviado ao presidente, Bebianno lembra que é um pacificador, em contraste
com a personalidade espinhosa de Carlos, e chegou a ser aceito no convívio com
os militares que antes lhe rejeitavam – e volta a garantir que não faltou com a
verdade. “Ontem eu falei com o senhor três vezes, sim”.
Bebianno – “Capitão,
eu só prego a paz, o tempo inteiro. O tempo inteiro eu peço para a gente parar
de bater nas pessoas.
O tempo inteiro eu tento estabelecer uma boa relação com
todo mundo.
Minha relação é maravilhosa com todos os generais.
O senhor se
lembra que, no início, eu não podia participar daquelas reuniões de
quartas-feiras, porque os generais teriam restrições contra mim? Eu não
entendia que restrições eram aquelas, se eles nem me conheciam.
O senhor hoje
pergunte para eles qual o conceito que eles têm a meu respeito, sabe, capitão?
Eu sou uma pessoa limpa, correta.
Infelizmente não sou eu que faço esse rebuliço,
que crio essa crise. Eu não falo nada em público.
Muito menos agrido ninguém em
público, sabe, capitão? Então quando eu recebo esse tipo de coisa, depois de um
post desse, é realmente muito desagradável.
Inverta, capitão. Imagine se eu
chamasse alguém de mentiroso em público. Eu não sou mentiroso.
Ontem eu falei
com o senhor três vezes, sim.
Falamos pelo WhatsApp. O que é que tem demais?
Não falamos nada demais. A relevância disso… Tanto assunto grave para a gente
tratar. Tantos problemas.
Eu tento proteger o senhor o tempo inteiro.
Por esse
tipo de ataque? Por que esse ódio? O que é que eu fiz de errado, meu Deus?”
“NÃO VOU
MAIS RESPONDER A VOCÊ”
Bolsonaro,
aqui, deixa claro que trocar mensagens de áudio não configura “falar” com
alguém. E abre uma nova frente de conflito.
Acusa seu ministro de ter plantado
uma nota em O Antagonista para envolvê-lo com o laranjal do PSL em Pernambuco.
Segue-se uma discussão bizantina entre um presidente e um ministro.
Bolsonaro –
“Ô, Gustavo, usar da… Que usou do Whatsapp para falar três vezes comigo, aí é
demais da tua parte, aí é demais, e eu não vou mais responder a você.
Outra
coisa, eu sei que você manda lá no Antagonista, a nota (sobre Bolsonaro
não atender Bebianno) foi pregada lá.
Dias antes, você pregou uma nota que
tentou falar comigo e não conseguiu no domingo.
Eu sabia qual era a intenção,
era exatamente dizer que conversou comigo e que está tudo muito bem, então faz
o favor, ou você restabelece a verdade ou não tem conversa a partir daqui pra
frente.”
“É
DESONESTIDADE E FALTA DE CARÁTER”
Bolsonaro – “Querer
empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro
meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter.
Agora,
todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente, então a
Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a
verdade.
Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é
dessa linha minha aí. Um abraço.”
“NÃO PLANTEI
NADA”
Bebianno
– “Capitão, a nota do Antagonista que o senhor tá me acusando de
ter plantado… Se o senhor olhar bem, eu localizei aqui e mandei pro senhor. Eu
não plantei nada.
Ela replica o que a Folha falou. Está escrito aqui:
“segundo a Folha, segundo a Folha, o ministro Gustavo Bebianno tentou
ligar para Jair Bolsonaro neste domingo para explicar o caso, mas o presidente
não atendeu”.
Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a Folha. O
Antagonista simplesmente replicou. Então, capitão, eu não plantei nada em lugar
nenhum, tá? Abraço.
“QUEM VAZOU
FOI VOCÊ”
Bolsonaro – “Bebianno,
olha como você entra em contradição. Que seja a Folha. Se foi uma
tentativa tua pra mim e eu não atendi… Eu não liguei pra Folha, eu não
ligo pra imprensa nenhuma.
Quem ligou foi você, quem vazou foi você.
Dá pra
você entender o caminho que você está indo? E você tem que fazer uma reflexão
para voltar à normalidade.
Deu pra entender? Vou repetir: se você tentou falar
comigo, um pra um, se alguém vazou pra Folha, não fui eu, só pode ser
você. Tá ok?”
“NÃO VAZEI
NADA”
Bebianno – “Não,
capitão, não é isso, não. Eu não tentei ligar pro senhor, eu não falei, não
vazei nada pra ninguém. Eu nem tentei ligar pro senhor.
O senhor mandou um
recado que era pra eu não ir ao hospital. Não fui e não liguei pro senhor
nenhuma vez. Deixei o senhor em paz.
É… Se eu tentei ligar uma ou duas vezes,
também não me lembro pelo motivo que foi, é… Não é isso, não, capitão,
tá? Eu não vazei nada pra lugar nenhum, muito menos pra Folha, com quem
eu praticamente não falo. Abraço, capitão.”
“O SENHOR
ESTÁ ENVENENADO”
Neste áudio,
Bebianno explica seu papel nas verbas do PSL remetidas para Pernambuco,
reafirma que é inocente no caso das candidaturas-laranja – e diz que o
presidente está
“bem envenenado”, deixando implícito que o envenenador é seu
filho Carlos:
Bebianno – “Em
relação a isso, capitão, também acho que a coisa está… Não está clara.
A minha
tarefa como presidente interino nacional foi cuidar da sua campanha. A
prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor, é… Agora,
cada Estado fez a sua chapa.
Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável
pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu.
E, no nosso caso,
quando eu assumi o PSL, houve uma grande dificuldade na escolha dos presidentes
de cada Estado, porque nós não sabíamos quem era quem.
É… Cada chapa foi
montada pela sua estadual.
No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente.
Se o
Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema
legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro.
Da minha parte, eu só
repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito.
Eu tenho tudo registrado
por escrito. Então é ótimo que a Polícia Federal esteja, é ótimo que
investigue, é ótimo que apure, é ótimo que puna os responsáveis. Eu não tenho
nada a ver com isso.
É… Depois a gente conversa pessoalmente, capitão,
tá? Eu tô vendo que o senhor está bem envenenado.
Mas tudo bem, a minha
consciência está tranquila, o meu papel foi limpo, continua sendo.
E tomara que
a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito, mas eu não tenho nada a
ver com isso.
O Luciano Bivar que é responsável lá pela chapa dele. Abraço,
capitão.”
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