Como o PCC
montou um império em SP sob Geraldo Alckmin. Por Kiko Nogueira
Publicado
por Kiko
Nogueira 2 de agosto de 2018
O que o PCC
ganhou no acordo com o governo paulista em 2006?
Na época, a
facção realizou vários ataques, especialmente a postos da Polícia Militar, de
maneira coordenada. Eles foram interrompidos após uma reunião no presídio de
Presidente Bernardes, no interior do estado.
De acordo
com o Estadão, a solução foi encaminhada pela advogada Iracema Vasciaveo, então
presidente da ONG Nova Ordem, que defendia os direitos dos presos e
representava o PCC.
Iracema
esteve com Marcola, o líder.
O substituto de Geraldo, Claudio Lembo, deu aval
para o encontro, bem como os secretários da Segurança Pública e da
Administração Penitenciária — Saulo de Castro Abreu Filho e Nagashi Furukawa,
respectivamente.
A história
foi revelada pelo delegado José Luiz Ramos Cavalcanti, que depunha num
processo contra advogadas supostamente ligadas ao
crime
organizado. “Eu apenas autorizei a viagem.
O que aconteceu lá dentro, não
tenho detalhes”, afirma Lembo.
O diabo está
nos detalhes. Em tese, garantiu-se a rendição dos criminosos, desde que se
assegurasse a integridade física deles. Os atentados cessaram, subitamente, e o
poder do PCC só fez crescer.
Geraldo sempre negou qualquer tipo de acordo, mas
o fato é que a relação com o Primeiro Comando da Capital só se tornou mais
confusa, para usar um eufemismo, com o passar do tempo.
O deputado
Conte Lopes, ex-capitão da PM, declarou, certa vez, que “essa facção criminosa
é cria do PSDB”.
O PCC nasceu em 1993 na Cadeia Pública de Taubaté e sua
relação com o governo paulista é recheada de episódios assombrosamente estranhos.
Em 2010,
Alckmin pediu votos para um candidato a deputado estadual do PSC chamado
Claudinei Alves dos Santos, conhecido como Ney Santos.
Pouco
depois, Santos seria preso, acusado de adulteração de combustível,
enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e formação de
quadrilha.
Era também
investigado por envolvimento com o PCC. Em seu nome, um patrimônio de 50
milhões de reais, incluindo uma Ferrari e um Porsche.
Acabou
eleito prefeito de Embu.
Ok. Alckmin
provavelmente não sabia do passado, do presente e do futuro de Santos.
Mas nem
sua equipe?
Em 2012, um
inquérito sobre o envolvimento de PMs com o
PCC foi arquivado. Um ano depois, aconteceu outro episódio de ampla
repercussão, em que o governador saiu-se como herói na luta contra os bandidos.
Ele teria
sido ameaçado de morte, segundo um recado interceptado.
“Os bandidos dizem que
as coisas ficaram mais difíceis para eles, pois eu quero dizer que vai ficar
muito mais difícil”, disse GA, triunfal, em Mirassol.
“Nós não vamos nos
intimidar.
É nosso dever zelar pelo interesse público.”
Alckmin com suposto líder do PCC
tvamigospl Publicado em 20 de set de 2010
Não contavam
com a astúcia do ex-secretário Antônio Ferreira Pinto, que revelou que a escuta
dos membros do PCC circulava desde 2011.
“Esse fato
não tinha credibilidade nenhuma.
A informação é importante desde que você
analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham.
Tanto que o promotor passou ao largo delas”, falou.
“Aí vem o
governo e diz: ‘Não vou me intimidar’. Ele está aproveitando para colher
dividendos políticos”.
De novo: Geraldo, muito possivelmente, não tinha ideia
de que as tais ameaças tinham dois anos de idade e nunca foram levadas a sério.
No início de
2014, outro evento inacreditável.
Um relatório vazado do Ministério Público
dava conta de um esquema para tirar Marcola e outros três chefões da
penitenciária de Presidente Venceslau.
O plano
estaria sendo arquitetado há oito meses.
Os homens já tinham serrado as grades
das janelas de suas celas, colocando-as de volta em seguida, devidamente
pintadas.
Eles sairiam dali para uma área do presídio sem cobertura de
cabos de aço, de onde seriam içados por um helicóptero com adesivos da Polícia
Militar.
O
“vazamento” do documento criou situações surreais. Policiais ficaram de tocaia
aguardando os meliantes. Jornalistas correram para lá.
No Jornal Nacional, um
repórter perguntava, sussurrando, a um franco atirador como funcionava a arma
dele. Diante da falta de ação, era o jeito.
Claro que
não aconteceu nada. Alckmin, no entanto, estava pronto para faturar.
Na Jovem
Pan, elogiou “o empenho da polícia de São Paulo, 24 horas, permanentemente,
contra qualquer tipo de organização criminosa, tenha a sigla que tiver. São
Paulo não retroage, não se intimida”.
Para ele, “lamentavelmente, isso acabou
vazando.”
O PCC, hoje,
controla áreas inteiras da cidade, as cadeias, tem ligação com escolas de samba
e mantém bases no Paraguai e na Bolívia.
Um fenômeno. Graças à transferência de
presos, São Paulo exportou membros da organização para todo o país.
Naquele ano
de 2006, Geraldo deu uma entrevista a uma rede de televisão australiana.
A
jornalista quis saber sobre os “grupos de extermínio” e sobre as ações da
facção.
Irritado, o “Santo” da Odebrecht se levantou da cadeira e encerrou o
papo abruptamente.
“Esse é um
problema do governo estadual.
Você deveria ir falar com eles. Tchau, tchau.
Bye, bye”, diz.
“Se eu soubesse que era sobre isso, não tinha entrevista.
Não
faz o menor sentido”, continua, numa indireta a seus assessores.
A
entrevistadora ainda tentou, inutilmente, um apelo: “Alguém precisa falar sobre
isso”.
Alckmin foge da responsabilidade
dwx3344 Publicado em 9 de out de 2006
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