Diretor da
PF conta como autoridades se uniram para descumprir a ordem judicial de
libertar Lula
4 hours ago 12/
08/2018 Denúncias
Trecho da
entrevista de Rogério Galloro, diretor da Polícia Federa, a Andreza Matais
Como foi o
episódio da prisão do ex-presidente Lula?
Foi um dos
piores dias da minha vida.
Quando eles (interlocutores de Lula) pediram
detalhes da logística da prisão, nos convenceram de que havia interesse do
ex-presidente de se entregar ainda na sexta (6 de abril, prazo dado pelo juiz
Sérgio Moro).
Acabou o dia e ele não se apresentou. Nós não queríamos atrito,
nenhuma falha.
Chegou o
sábado, Moro exigiu que a gente cumprisse logo o mandado.
A missa (improvisada
no sindicato) não acabava mais. Deu uma hora (da tarde) e eles disseram: ‘Ele
vai almoçar e se entregar’.
O sr. perdeu
a paciência em algum momento?
No sábado,
nós fizemos contato com uma empresa de um galpão ao lado, lá tinha 30 homens do
COT (Comando de Operações Táticas) prontos para invadir.
Ele (Lula) iria sair
em sigilo pelo fundo quando alguém, lá do sindicato, foi para a sacada e gritou
para multidão do lado de fora, que correu para impedir a saída. Foi um susto.
A
multidão começou a cercá-lo e eu vi que ali poderia acontecer uma desgraça. Ele
retornou.
Qual era o
risco?
Quando tem
multidão, você não tem controle.
Aquele foi o pior momento, porque eu percebi
que não tinha outro jeito.
A pressão aumentando. Quando deu 17h30, eu liguei
para o negociador e disse:
‘Acabou! Se ele não sair em meia hora nós vamos
entrar’. E dei a ordem para entrar.
Às 18h, ele saiu.
Houve alguma
exigência?
Eles pediram
para não haver muita exposição, que não humilhasse o ex-presidente, nós usamos
tudo descaracterizado.
Ele estava quieto o tempo todo, bastante concentrado.
Por que o
ex-presidente está na superintendência da PF?
Isso não nos
agrada. Nunca tivemos preso condenado numa superintendência.
É uma situação
excepcional. O juiz Moro me ligou, pediu nosso apoio, ele sabe que não temos
interesse nisso.
Mas, em prol do bom relacionamento, nós cedemos.
Recentemente,
Lula mandou chamar dirigentes do PT para discutir, dentro da superintendência,
a eleição presidencial.
É um tratamento diferenciado?
Não somos
nós que organizamos isso (as regras para visitas), mas o juiz da Vara de
Execuções Penais. O Lula está lá de visita, de favor.
Nas nossas novas
superintendências não vão ter mais custódia. No Paraná, não vamos mexer agora.
Só depois da Lava Jato.
O sr.
conversou com o ex-presidente na prisão?
Eu estive na
superintendência, mas não fui vê-lo. É um simbolismo muito ruim.
O segundo
momento tenso para a PF envolveu a ordem de soltar Lula dada pelo desembargador
Rogério Favreto e a contraordem de Moro e dos desembargadores Gebran Neto e
Thompson Flores, do TRF-4.
Eu estava no Park Shopping, em Brasília, dei uma
mordida no sanduíche, toca o telefone.
Avisei para a minha mulher: ‘Acabou o
passeio’.
Em algum
momento a PF pensou em soltar o ex-presidente?
Diante das
divergências, decidimos fazer a nossa interpretação.
Concluímos que iríamos
cumprir a decisão do plantonista do TRF-4.
Falei para o ministro Raul Jungmann
(Segurança Pública): ‘Ministro, nós vamos soltar’.
Em seguida, a
(procuradora-geral da República) Raquel Dodge me ligou e disse que estava
protocolando no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a soltura.
‘E agora?’
Depois foi o (presidente do TRF-4) Thompson (Flores) quem nos ligou. ‘Eu estou
determinando, não soltem’.
O telefonema dele veio antes de expirar uma hora.
Valeu o telefonema.
(…)
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