REINALDO
AZEVEDO: MORO MANDOU FACHIN ÀS FAVAS
Escrito
por Portal Click
Política 8 de julho de 2019
Imagem do Google
POR REINALDO
AZEVEDO DO PORTAL UOL:
A cada nova
revelação, Sergio Moro, ministro da Justiça, vai deixando mais clara a sua
natureza.
Começou a sua trajetória, com a colaboração da imprensa, como uma
espécie de Príncipe do Direito, disposto a pôr fim à impunidade no país — ao
menos segundo o arranjo retórico que criou para si mesmo.
Quase todos caíram na
sua conversa.
Estou entre os que não cederam ao canto do pavão.
“Pavão
canta, Reinaldo?” Emite um som desagradável, mais agudo e mais longo do que o
do marreco. Seu jeito de encantar é abrindo a cauda, inútil para qualquer fim
que não seja seduzir a fêmea.
Tem a sua virtude, claro!, para a fêmea de um
pavão. Não para o estado de direito. Adiante.
Reportagens
da Folha e do site The Intercept Brasil revelam que Moro tomou a iniciativa de
estimular Deltan Dallagnol e a Lava Jato a vazar dados sigilosos da delação da
Odebrecht que dizia respeito à Venezuela, com o claro intuito de influir na
política local.
Um problema: o vazamento era ilegal e punha vidas a risco.
Mesmo assim, o vazamento aconteceu.
Eis que Moro
resolveu recorrer ao Twitter na manhã deste domingo. E, ora vejam, não nega a
existência das mensagens. E também não as assume. Mas as justifica. Escreveu às
10h04 desta manhã:
“Novos crimes cometidos pela Operação Lava Jato segundo a Folha de São Paulo e
seu novo parceiro, supostas discussões para tornar públicos crimes de suborno
da Odebrecht na Venezuela, país no qual juízes e procuradores são perseguidos e
não podem agir com autonomia. É sério isso?”
Eis o antigo
pavão nada misterioso transformado em urubu do estado de direito e da ordem
legal.
Embora acrescente o adjetivo “supostas” ao substantivo “discussões” —
entre ele e Dallagnol, seu subordinado, e entre este e seus pares de Lava Jato
—, é evidente que o agora ministro admite como virtuosos os diálogos.
Reparem
que trata o vazamento como um ato em defesa de juízes e procuradores da
Venezuela.
FACHIN QUE
VÁ LAMBER SABÃO
Ocorre que,
assim como fez com Teori Zavascki quando relator do petrolão — divulgando, nas
barbas do ministro, de modo ilegal, grampo também ilegal que envolvia a
presidente da República —, Moro está a defender que se mande Edson Fachin
lamber sabão,
o substituto de Zavascki, morto em acidente aéreo no dia 19 de
janeiro de 2017, e justificando a “suposta” iniciativa de sugerir o vazamento
da delação da Odebrecht, crime que, com efeito, aconteceu e ainda está sob
investigação.
E, como nós
vimos, alertado de que o vazamento poderia elevar a tensão na Venezuela e
insuflar até uma guerra civil, Dallagnol deu de ombros, afirmando que
insurgir-se contra o governo era um direito dos venezuelanos.
O MAIS GRAVE
Se querem
saber, esse é o episódio mais grave de todas as revelações trazidas à luz pelo
site The Intercept Brasil.
Os acordos
da Odebrecht, especialmente os que envolviam autoridades estrangeiras, possuem
uma cláusula que determina o sigilo total e absoluto, com proteção à
integridade física dos colaboradores.
Isso é tão sério que foram os únicos
casos que Fachin houve por bem manter sob sigilo quando decidiu pelo
liberou-geral.
Há ainda uma
cláusula, como sabe o relator, que determina o rompimento do acordo,
mantendo-se todos os benefícios aos colaboradores no caso de tal sigilo ser
violado pelas autoridades.
Assim, num
único ato, ao vazar parte das delações, em vídeos publicados pela
ex-procuradora-geral Luísa Ortega Díaz, dissidente do regime, os vazadores:
– mandaram
Fachin às favas ao descumprir sua ordem;
– comprometeram a segurança física dos colaboradores e de suas famílias;
– violaram o acordo e a expectativa de segurança jurídica de entendimento
celebrado com um órgão de Estado.
É
gravíssimo! Ora, um colaborador ou é um criminoso — no mais das vezes — ou
alguém que, ao cair na teia, cede os anéis para não perder os dedos, ainda que
inocente.
Fato é que, quando firma um acordo, espera do órgão estatal ética e
cumprimento da lei.
O que se viu foi vergonhosamente o oposto.
Não
obstante, como se nota, Sérgio Moro parece se orgulhar do ocorrido.
Resta em
seu tuíte a sugestão oblíqua de foi um ato em defesa de juízes e procuradores
perseguidos.
Que o
vazador estivesse mandando, mais uma vez, um ministro do Supremo plantar Ao
sugerir o que sugeriu e escrever o que escreveu — e o crime foi cometido! —, o
urubu da ordem legal resolveu fazer sombra em outros países da América Latina
com sua cauda.
Sim! Ele já
chegou a ser um pavão algo misterioso. Hoje, é só uma esfinge sem segredos. Não
vê quem não quer.
‘FACHIN É
NOSSO, AHA, UHU”
batatas,
bem, isso é o de menos. Que estivesse pondo vidas em risco, idem.
Com a
palavra, Edson Fachin, o último a saber.
Se bem que,
como disse Dallagnol, “Fachin é nosso, aha, uhu”.
Quer dizer,
“deles”. Dos urubus da ordem legal.
E, claro,
resta o espetáculo da hipocrisia: Moro chama de criminoso o material que uma
fonte anônima passou ao site de The Intercept Brasil.
Mas, como se vê, parece
considerar uma virtude o vazamento ilegal de uma delação, contra decisão do
Supremo, ato que pôs vidas em risco.
Pior: os procuradores que debateram o
assunto, sob o seu estímulo, fazem digressões sobre a possibilidade de uma
guerra civil num país vizinho como quem diz “hoje é domingo”
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