SUED E
PROSPERIDADE
08/05/2021
Campo De
Mortes
Celeste Silveira 8 de maio de 2021
O Brasil da pandemia é um campo de mortes e o Rio de Janeiro, epicentro da carnificina.
O estado que forjou politicamente Jair Bolsonaro e Wilson Witzel, paladinos na brutalidade, banalizou a barbárie.
Ontem, uma mal explicada operação da Polícia Civil prendeu seis pessoas e deixou 25 mortos, entre os quais um policial, na favela do Jacarezinho, Zona Norte da capital.
Em um dia, o equivalente a um terço das mortes confirmadas por coronavírus na comunidade; foram 79, desde março de 2020, segundo o Painel Rio Covid-19. Foi a mais letal intervenção oficial de agentes da lei da História do estado, segundo o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF).
Foi também o segundo maior assassinato coletivo já
registrado em território fluminense — no primeiro, conhecido como Chacina da
Baixada, criminosos executaram 29 pessoas em duas cidades, Nova Iguaçu e
Queimados, em março de 2005.
Enquanto parte do planeta se ocupa da vida — não faz dois dias, o presidente Joe Biden anunciou inédito apoio dos EUA à quebra temporária de patentes de vacinas contra a Covid-19 —, o Brasil empilha corpos.
Em 14 meses de pandemia, o país ultrapassou 415 mil vidas
ceifadas na combinação nefasta do vírus aos atos e omissões do presidente da
República, o 01 do morticínio, como já demonstrado no par de depoimentos dos
ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich à recém-iniciada
CPI no Senado Federal. O Estado do Rio se aproxima de 46 mil óbitos por
Covid-19, com taxa de letalidade de 5,96% dos infectados, o dobro da média
nacional. Na capital, onde até ontem 24.495 pessoas perderam a vida,
praticamente um em cada dez doentes (8,9%) não sobrevive.
Uma semana atrás, o estado afastou em
definitivo o governador eleito na onda bolsonarista de 2018. Witzel ficou 20 meses
no cargo; no primeiro ano, 2019, a polícia fluminense matou 1.814 pessoas,
recorde da série histórica iniciada na última década do século XX. Ano passado,
com pandemia e tudo, a escalada homicida das forças policiais levou à decisão
do Supremo Tribunal Federal (STF) de suspender operações em favelas. De junho a
setembro, primeiros quatro meses de vigência da determinação, as mortes por
agentes da lei despencaram 71% (de 675 em 2019 para 191 em 2020), segundo dados
oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Tudo isso sem prejuízo dos
indicadores de homicídios e crimes contra o patrimônio, que seguiram em queda
no estado.
De outubro em diante, já com Cláudio
Castro interinamente no Palácio Guanabara e Alan Turnovsky como secretário de
Polícia Civil, os números voltaram a subir. Bateram recorde (453) no primeiro
trimestre deste ano. O mapeamento do Geni/UFF para a Região Metropolitana do
Rio mostra que, desde a decisão do STF na ADPF 635, operações policiais
deixaram 823 mortos. “Do total, 150 ocorreram entre junho e setembro. Já o
primeiro trimestre de 2021 foi o pior da série, com 404 mortes”, sublinha o
pesquisador Daniel Hirata. Nos dez meses, houve 22 operações policiais com três
ou mais vítimas fatais, chacinas, portanto; 14 delas foram de janeiro a março
deste ano.
No Brasil e no Rio, morre-se pela
peste, pela bala da polícia e do crime. Morrem policiais, civis inocentes,
criminosos e suspeitos sem julgamento. Morre gente de fome, sem oxigênio, sem
atendimento médico. Mulheres morrem pelas mãos de maridos, companheiros,
namorados e ex. Uma criança morre espancada por padrasto e mãe, bebês perdem a
vida por golpes de facão. Homens negros morrem asfixiados por seguranças de
supermercados ou são entregues a traficantes por tentar furtar peças de carne.
A violência desmedida tem produzido
luto de um lado, indiferença de outro. Em qualquer sociedade comprometida com o
direito à vida e com o Estado Democrático de Direito, um presidente lunático,
incompetente ou necrófilo já teria sido apeado do cargo diante da hecatombe
social, sanitária e funerária provocada pelo enfrentamento débil à mais grave
pandemia em um século. No entanto ele segue no palácio dizendo impropérios,
ameaçando instituições, atacando opositores, debochando da ciência, provocando parceiros
comerciais, destruindo o meio ambiente, assinando decretos de armas. Em nenhuma
unidade da Federação, governador ou chefe de polícia resistiriam à maior
chacina da História. Aqui, gados que somos, assistimos silenciosamente ao
extermínio dos corpos, predominantemente pretos e pobres, qualquer que seja a
tragédia.
*Flávia
Oliveira/O Globo
CONTINUA
Bolsonaro Assume Que Receitou
Cloroquina Para Não Assumir Que Sabotou A Compra Das Vacinas
Celeste Silveira 8 de maio de 2021
Na verdade, hoje, Bolsonaro com seus
apoiadores contratados, estava justificando com a cloroquina a sua campanha e
ações contra a aquisição de vacinas pelo Brasil.
Mas por que ele faz isso? Porque na
próxima semana a CPI terá depoimentos do diretor presidente da Anvisa, Antônio
Barra Torres, de Dimas Covas, diretor do Butantan e de Marta Díez, presidente
da subsidiária brasileira da Pfizer. Também sobre as negociações com a Pfizer,
a CPI ouvirá o ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da
República Fábio Wajngarten. Ou seja, o assunto será a vacina e a sua sabotagem
em uma ação que salvaria centenas de milhares de vidas.
E o que isso quer dizer? Quer dizer
que no primeiro ato da CPI com as declarações de Mandetta, de Teich e de
Queiroga, mas sobretudo da fuga de Pazuello que receitou cloroquina a mando de
Bolsonaro, que o ato de insistir em receitar um medicamento comprovadamente sem
eficácia, é um contraponto à aquisição das vacinas.
Para ser mais específico, Bolsonaro
praticamente lançou um slogan no Brasil “quem tem cloroquina não precisa de
vacina”.
Então o que interessa é prestar
atenção naquilo que Bolsonaro não diz, o que ele diz é para fazer cortina de
fumaça para o que ele quer camuflar.
Se ele assumiu que receitou a
cloroquina como se fosse um mal menor do que a sabotagem com a compra das
vacinas, falando inclusive que gravará vídeos estimulando o uso do medicamento
em contrapartida à falta da vacina, entre o péssimo e o criminoso, ele
optou pelo péssimo, lógico, achando que, assim, ele se descolaria do criminoso,
quando, na realidade, essas duas questões são indissociáveis, porque a
realidade mostra que ele, usando o cargo de presidente da República, optou por
receitar cloroquina, mesmo sem qualquer embasamento científico que abone sua
defesa histriônica do medicamento que, além de não ter eficácia, é altamente
lesivo à saúde e que já levou a óbito muitas pessoas que fizeram uso dela com a
orientação do presidente da República.
Bolsonaro sabe que o que estamos
falando aqui é verdade, tanto que ele como o bufão que é, novamente disse que
só Deus o tira da cadeira da presidência, o que, em outras palavras, afirma que
está sim em risco de cair, revelando que sentiu o baque da primeira semana da
CPI, além de apontar que o trabalho dos senadores da CPI está na rota certa e que
sua deposição será o único caminho natural que vai desaguar essa enxurrada de
denúncias de crimes de responsabilidade.
A CPI está apenas começando e
Bolsonaro já abriu o bico. E isso pode ser um bom sinal.
*Carlos
Henrique Machado Freitas
Fonte: https://antropofagista.com.br/
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