Greenwald se
mantém firme apesar de ameaças por vazamentos da Lava Jato
afp.com 4
horas atrás 13/06/2019
© Andrew Burton O jornalista Glenn Greenwald diz que,
apesar das ameaças, ele e sua família não vão deixar o Brasil
O jornalista
americano Glenn Greenwald disse nesta quinta-feira (13) ter recebido ameaças
"grotescas", inclusive contra seu marido e filhos, depois de ter
publicado trocas de mensagens vazadas que mostraram que o ministro da Justiça,
Sérgio Moro, conspirou para manter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
fora da disputa presidencial de 2018.
Greenwald
disse à AFP que "a violência política é uma realidade" no Brasil e
que ele não deixará o país, depois que o site investigativo The Intercept, do
qual é cofundador, publicou o material que colocou em dúvida a imparcialidade
de Moro quando ele era juiz.
As conversas
no Telegram - fornecidas ao The Intercept por uma fonte anônima - desencadearam
pedidos para a renúncia de Moro, que liderava a operação Lava Jato antes de se
juntar à equipe de ministros do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro.
Ninguém foi
intocável na investigação, que começou em 2014 e prendeu políticos e
empresários brasileiros ao descobrir saques em larga escala da estatal
Petrobras.
Mas os
críticos dizem que Moro - que condenou Lula por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro em 2017, pondo fim às suas aspirações eleitorais - teve como alvo
principalmente o ex-presidente e seu Partido dos Trabalhadores (PT).
"Sabíamos
que, quando publicássemos essas reportagens sobre figuras muito poderosas do
governo Bolsonaro, isso geraria muito ódio, animosidade e ameaças", disse
Greenwald um dia depois que o The Intercept divulgou mais conversas entre Moro
e o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol.
"Recebemos
algumas ameaças gráficas realmente repugnantes, detalhadas e grotescas que são
muito perturbadoras, e levamos a sério", disse.
As ameaças,
enviadas por e-mail e mídias sociais, também tiveram como alvo seu marido, o
deputado federal David Miranda (Psol-RJ), e seus dois filhos adotivos.
© Michael
DANTAS O ministro da Justiça, Sérgio Moro (D), em 10 de junho de 2019
Greenwald,
que fez parte da equipe que entrevistou Edward Snowden em 2013, reconheceu que
os riscos eram maiores desta vez, dada sua proximidade física às pessoas que
ele está acusando, mas disse que "absolutamente nunca deixaria o
Brasil".
"É o
país que pertence aos meus filhos e a meu marido", disse Greenwald.
"Tomamos
todas as medidas que sentimos que devemos tomar para nossa segurança física e
jurídica.
Depois disso, você precisa seguir e fazer o seu trabalho.
Jornalismo
é sobre confrontar pessoas poderosas", afirmou.
- Justiça
corrompida -
Moro, herói
de muitos brasileiros fartos da corrupção, manteve-se desafiador desde que o
The Intercept publicou a primeira parte do que afirmou ser um "enorme
acervo" de documentos, no domingo.
Nas
conversas de grupo vazadas, procuradores da Lava Jato expressaram "sérias
dúvidas" sobre as evidências contra Lula e "falaram abertamente"
de querer impedir que o PT ganhasse a eleição presidencial de 2018, na qual
Lula era apontado como favorito.
Moro
repetidamente "extrapolou as linhas éticas que definem o papel de um
juiz", oferecendo conselhos aos procuradores e dicas para "novos
caminhos de investigação".
O ministro
negou qualquer irregularidade e alega que as mensagens vazadas foram
ilegalmente hackeadas.
Investigadores da Lava Jato questionaram a autenticidade
das conversar, dizendo que elas poderiam ter sido fabricadas.
Greenwald se
recusou a discutir como a fonte do The Intercept obteve o material, que segundo
ele mostrou que "Moro estava totalmente integrado ao trabalho da
procuradoria" da investigação da Lava Jato.
"Eles
mantinham um relacionamento colaborativo contínuo que viola a Constituição e o
código de ética judicial de uma maneira que levanta questões sobre cada
veredicto que Moro emitiu como parte do caso Lava Jato".
Lula está cumprindo pena reduzida de oito anos e dez meses, depois de ter sido
condenado por aceitar um tríplex na praia do Guarujá como suborno para ajudar a
construtora OAS a obter acordos lucrativos com a Petrobras.
Uma segunda
condenação, pelo caso do "Sítio de Atibaia" foi proferida em fevereiro,
na qual ele foi sentenciado a 12 anos e 11 meses de prisão.
Lula nega
todas as acusações de corrupção contra ele, argumentando que foram
politicamente motivadas para impedi-lo de concorrer na eleição de 2018, que
Bolsonaro venceu.
Embora os
vazamentos tenham sido um duro golpe para a reputação de Moro, alguns analistas
minimizaram a possível repercussão do escândalo, dada a popularidade do hoje
ministro.
Bolsonaro,
que não se pronunciou no Twitter sobre o vazamento das conversas e se recusou a
responder às perguntas dos jornalistas sobre o assunto, foi a um jogo de
futebol com Moro na quarta-feira, em sinal de seu apoio.
Greenwald
disse que não espera que Moro renuncie após as reportagens iniciais, mas
questionou se o ministro poderá manter seu cargo ou ser eficaz à medida que o
The Intercept publicar mais material.
"As
principais vítimas do que estamos revelando é a sociedade brasileira (...) e as
pessoas que foram punidas e presas por um processo que foi claramente dirigido
por pessoas que não tinham nenhuma consideração pelas regras que devem
obedecer", disse Greenwald.
"Quando
essas regras são violadas, todo o sistema de justiça é corrompido".
Fonte: https://www.msn.com/pt-br
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