9 de Junho de 2019, 17h58 Atualizado em 13/6219
Imagem do Google
Parte 4
Moro sugeriu
trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobrou novas operações, deu conselhos e
pistas e antecipou ao menos uma decisão, mostram conversas privadas ao longo de
dois anos.
Sergio Moro
e Deltan Dallagnol trocaram mensagens de texto que revelam que o então juiz
federal foi muito além do papel que lhe cabia quando julgou casos da Lava Jato.
Em diversas conversas privadas, até agora inéditas, Moro sugeriu ao procurador
que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou agilidade em novas operações,
deu conselhos estratégicos e pistas informais de investigação, antecipou ao
menos uma decisão, criticou e sugeriu recursos ao Ministério Público e deu
broncas em Dallagnol como se ele fosse um superior hierárquico dos procuradores
e da Polícia Federal.
“Talvez fosse o caso
de inverter a ordem da duas planejadas”, sugeriu Moro a Dallagnol, falando
sobre fases da investigação.
“Não é muito tempo sem operação?”,
questionou o atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro após um mês sem que a
força-tarefa fosse às ruas.
“Não pode cometer esse tipo de erro agora”,
repreendeu, se referindo ao que considerou uma falha da Polícia Federal.
“Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação. Estou entao
repassando.
A fonte é seria”, sugeriu, indicando um caminho para a investigação.
“Deveriamos rebater oficialmente?”, perguntou, no plural, em resposta a ataques
do Partido dos Trabalhadores contra a Lava Jato.
As conversas
fazem parte de um lote de arquivos secretos enviados ao Intercept por
uma fonte anônima há algumas semanas (bem antes da notícia da invasão do celular do ministro Moro, divulgada nesta
semana, na qual o ministro afirmou que não houve “captação de conteúdo”).
O
único papel do Intercept foi receber o material da fonte, que nos informou que
já havia obtido todas as informações e estava ansiosa para repassá-las a
jornalistas.
A declaração conjunta dos editores do The Intercept e do Intercept
Brasil (clique para ler o texto completo) explica os critérios
editoriais usados para publicar esses materiais, incluindo nosso método para
trabalhar com a fonte anônima.
A
Constituição brasileira estabeleceu o sistema acusatório no processo penal, no
qual as figuras do acusador e do julgador não podem se misturar.
Nesse modelo,
cabe ao juiz analisar de maneira imparcial as alegações de acusação e defesa,
sem interesse em qual será o resultado do processo. Mas as conversas entre Moro
e Dallagnol demonstram que o atual ministro se intrometeu no trabalho do
Ministério Público – o que é proibido – e foi bem recebido, atuando
informalmente como um auxiliar da acusação.
A atuação
coordenada entre o juiz e o Ministério Público por fora de audiências e autos
(ou seja, das reuniões e documentos oficiais que compõem um processo) fere o
princípio de imparcialidade previsto na Constituição e no Código de Ética da Magistratura, além de desmentir a
narrativa dos atores da Lava Jato de que a operação tratou acusadores e
acusados com igualdade.
Moro e Dallagnol sempre foram acusados de operarem juntos na Lava Jato, mas não
havia provas explícitas dessa atuação conjunta – até agora.
Moro negou
em diversas oportunidades que trabalhava em parceria com o MPF. “Vamos colocar
uma coisa muito clara, que se ouve muito por aí que a estratégia de
investigação do juiz Moro.
[…]
Eu não tenho estratégia de investigação nenhuma.
Quem investiga ou quem decide o que vai fazer e tal é o Ministério Público e a
Polícia [Federal].
O juiz é reativo. A gente fala que o juiz normalmente deve
cultivar essas virtudes passivas. E eu até me irrito às vezes, vejo crítica um
pouco infundada ao meu trabalho, dizendo que sou juiz investigador”, desafiou,
numa palestra que proferiu em março de 2016.
VIDEO
Desde o
início da operação, em 2013, Dallagnol e o MPF tentaram passar uma imagem de
que Moro atuava com imparcialidade e distância dos acusadores. “Sempre avaliou
os pedidos do Ministério Público de modo imparcial e técnico”, escreveu o
procurador, sobre o então juiz, em seu livro de memórias. A Procuradoria-Geral da República endossou essa narrativa.
“Assim, inviável a declaração
de nulidade de todos os atos praticados no curso da ação penal processada
e julgada pelo Juízo Criminal Federal de Curitiba, que se manteve imparcial
durante toda a marcha processual”, escreveu a PGR em parecer pró-Moro.
Mas a
proximidade com o juiz facilitou o trabalho do Ministério Público, e o próprio
Dallagnol já admitiu isso. “Demos a ‘sorte’ de que o caso caísse nas mãos de um
juiz como Sergio Moro”, escreveu
Dallagnol no Twitter e no seu livro.
OS DIÁLOGOS
Sergio Moro,
então juiz da Lava Jato, pergunta a Dallagnol: “está um pouco dificil de entender
umas coisas. Por que o mpf recorreu das condenacoes”.
Foto:
Nelson Almeida/AFP/Getty Images
“VIRAM
ISSO????”, escreveu no Telegram Athayde Ribeiro Costa, um dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Ministério
Público Federal do Paraná. “PqP!”, respondeu Roberson Pozzobon, membro da
equipe e do grupo FT MPF Curitiba 2, no qual procuradores da Lava Jato de
Curitiba discutiam estratégias para as investigações que transformaram a
política brasileira.
As mensagens
eram uma reação à notícia “Diretor da Odebrecht que acompanhava Lula em suas viagens será
solto hoje”, publicada naquele 16 de outubro de 2015 no blog de Lauro
Jardim, do Globo.
Minutos
depois, Dallagnol usou o chat privado do Telegram para discutir o assunto com
Moro, até então responsável por julgar os casos da Lava Jato na 13ª Vara
Federal de Curitiba.
“Caro, STF
soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e
pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível
apreciar hoje?”, escreveu Dallagnol.
“Não creio
que conseguiria ver hj. Mas pensem bem se é uma boa ideia”, alertou o então
juiz. Nove minutos depois, Moro deu outra dica ao procurador: “Teriam que ser
fatos graves”.
Depois de
ouvir a sugestão, Dallagnol repassou a mensagem de Moro para o grupo de colegas
de força-tarefa. “Falei com russo”, anunciou, usando o apelido do juiz entre os
procuradores.
Em seguida, os investigadores da Lava Jato passaram a discutir
estratégias para reverter a decisão, mas Alencar não seria preso
novamente, numa demonstração clara de que os diálogos entre Moro e
Dallagnol influenciaram diretamente os desdobramentos da operação.
Um mês
depois, Sergio Moro enviou uma questão a Deltan Dallagnol pelo Telegram. “Olha
está um pouco dificil de entender umas coisas. Por que o mpf recorreu das
condenacoes dos colaboradores augusto, baruscoemario goes na
acao penal 5012331-04? O efeito pratico é impedir a execução da pena”, reclamou
a Dallagnol.
Em teoria, o juiz não deveria ter interesse em resultados do processo,
como, por exemplo, o aumento ou redução de penas de um acusado – nem tirar
satisfação com o Ministério Público fora dos autos.
Num despacho
publicado às 14h01, o juiz chamou o recurso do MPF de “obscuro”. Minutos
depois, às 14h08, Dallagnol respondeu pelo Telegram. Moro rebateu, também pelo
aplicativo de mensagens: “Na minha opiniao estao provocando confusão. E o
efeito pratico sera jogar para as calendas a existência [da] execução das
penas dos colaboradores”.
Em 21 de
fevereiro de 2016, Moro se intrometeu no planejamento do MP de forma explícita.
“Olá Diante dos últimos .
desdobramentos talvez fosse o caso de inverter a
ordem da duas planejadas”, afirmou Moro, numa provável menção às fases
seguintes da Lava Jato. Dallagnol disse que haveria problemas logísticos para acatar
a sugestão.
No dia seguinte, ocorreu a 23ª fase da Lava Jato, a Operação
Acarajé.
Dias depois,
Moro cometeu um deslize de linguagem que revela como a acusação e o juiz, que
deveria avaliar e julgar o trabalho do MP, viraram uma coisa só.
“O que acha dessas
notas malucas do diretorio nacional do PT? Deveriamos rebater oficialmente? Ou
pela ajufe?”, escreveu o juiz em 27 de fevereiro, usando a primeira pessoa do
plural, dando a entender que as reações do juiz e do MP deveriam ser
coordenadas.
Em 31 de agosto
de 2016, Moro mais uma vez escancarou seu papel de aliado dos acusadores ao
questionar o ritmo das prisões e apreensões. “Não é muito tempo sem operação?”,
perguntou o então juiz ao procurador às 18h44.
A última fase da Lava Jato havia
sido realizada 29 dias antes – a operação Resta Um, com foco na empreiteira
Queiroz Galvão.
A
periodicidade – e até mesmo a realização de operações – não deveria ser
motivo de preocupação do juiz, mas Moro trabalhava com Dallagnol para
impulsionar as ações do Ministério Público, como comprovam os diálogos e
comentários habituais nas conversas entre os dois.
“É sim”,
respondeu Dallagnol mais tarde. A operação seguinte ocorreu três semanas
depois.
Foto 1:
Fernando Frazão/Agência Brasil | Foto 2: Antonio Cruz/ Agência Brasil
“Ainda
desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso.”
‘ESTOU
REPASSANDO. A FONTE É SERIA’
O MINISTRO
DA JUSTIÇA DE BOLSONARO parece ter cruzado a fronteira que separa juiz e
investigador numa conversa de 7 de dezembro de 2015, quando ele passou
informalmente uma pista sobre o caso de Lula para que a equipe do MP
investigasse. “Entao.
Seguinte. Fonte me informou que a pessoa do contato
estaria incomodado por ter sidoa ela solicitada a lavratura de minutas de
escrituras para transferências de propriedade de um dos filhos do ex
Presidente.
Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação.
Estou entao repassando. A fonte é seria”, escreveu Moro.
“Obrigado!!
Faremos contato”, respondeu Dallagnol pouco depois. “E seriam dezenas de imóveis”,
acrescentou o juiz. O procurador disse que ligou para a fonte, mas ela não quis
falar. “Estou pensando em fazer uma intimação oficial até, com base em notícia
apócrifa”, cogitou Dallagnol.
Ao que tudo indica, o procurador estava
considerando criar uma denúncia anônima para justificar o depoimento da fonte
ao MP. O juiz Sergio Moro poderia condenar a solução – ou ficar quieto. Mas
endossou a gambiarra: “Melhor formalizar entao”, escreveu Moro.
Mais um
sinal de que ele trabalhava em coordenação com a acusação veio numa troca de
mensagens em 13 de março de 2016, quando manifestações contra o governo de Dilma Rousseff tomaram
as ruas. O juiz revela o desejo de “limpar o congresso”.
Dallagnol –
22:19:29 – E parabéns pelo imenso apoio público hoje. […] Seus sinais
conduzirão multidões, inclusive para reformas de que o Brasil precisa, nos
sistemas político e de justiça criminal. […].
Moro –
22:31:53. – Fiz uma manifestação oficial. Parabens a todos nós.
22:48:46 – Ainda
desconfio muito de nossa capacidade institucional de limpar o congresso. O
melhor seria o congresso se autolimpar mas isso nao está no horizonte. E nao
sei se o stf tem força suficiente para processar e condenar tantos e tao
poderosos.
Três dias
depois, Dilma tentaria nomear Lula para a Casa Civil, e Moro divulgaria a famosa conversa gravada entre a então
presidente e o ex-presidente. Naquela manhã, Dallagnol e Moro conversaram
sobre a divulgação dos áudios e se consultaram sobre a estratégia.
Dallagnol –
12:44:28. – A decisão de abrir está mantida mesmo com a nomeacao,
confirma?
Moro –
12:58:07. – Qual é a posicao do mpf?
Dallagnol –
15:27:33. – Abrir
As críticas à divulgação dos áudios foram fortes e,
seis dias depois, o procurador e o juiz ainda discutiam o assunto:
Dallagnol –
21:45:29. – A liberação dos grampos foi um ato de defesa. Analisar coisas
com hindsight privilege é fácil, mas ainda assim não entendo que
tivéssemos outra opção, sob pena de abrir margem para ataques que estavam sendo
tentados de todo jeito…
[…]
Moro –
22:10:55. – nao me arrependo do levantamento do sigilo. Era melhor
decisão. Mas a reação está ruim.
Uma semana
depois da conversa, porém, Moro pediu desculpas pela decisão.
O juiz
voltaria a dar conselhos ao MP em 21 de junho de 2016. Deltan Dallagnol
apresentou uma prévia impressionante dos indícios de corrupção revelados
pela delação de 77 executivos da Odebrecht, que implicavam 150 políticos,
incluindo nomes como Michel Temer, Dilma, Lula, Eduardo Cunha, Aécio Neves,
Sérgio Cabral e Geraldo Alckmin.
“Reservadamente. Acredito que a revelação dos
fatos e abertura dos processos deveria ser paulatina para evitar um
abrupto pereat mundus”, disse Moro, usando a expressão em latim para um
ditado do meio jurídico – “acabe-se o mundo [mas] faça-se justiça”. “Abertura
paulatina segundo gravidade e qualidade da prova. Espero que LJ sobreviva ou
pelo menos nós”, completou.
Outro
conselho veio em em 15 de dezembro de 2016, quando o procurador atualizou o
juiz sobre as negociações da delação do
‘NÃO PODE
COMETER ESSE TIPO DE ERRO AGORA’
Dallagnol a
Moro: “Caro, foram pedidas oitivas na fase do 402, mas fique à vontade,
desnecessário dizer, para indeferir. De nossa parte, foi um pedido mais por
estratégia”.
Foto: Heuler
Andrey/AFP/Getty Images
EM MARÇO DE
2017, Moro escreveu a Dallagnol para sugerir por baixo dos panos um
caminho para a investigação da Lava Jato – o que, na teoria, só poderia ser
feito dentro dos autos. “Prezado, a Deputada Mara Gabrili mandou o texto abaixo
para mim, podem dar uma checada nisso. Favor manter reservado”, disse o então
juiz.
Seguia-se
uma longa mensagem de Gabrilli, do PSDB de SP e atualmente senadora, em que ela
sugere que o publicitário Marcos Valério, preso após os processos do Mensalão,
fosse ouvido a respeito do assassinato de Celso Daniel, ocorrido em 2002.
Daniel era prefeito de Santo André, cidade do ABC paulista, berço político de
Lula e do Partido dos Trabalhadores.
Menos de uma
hora depois, Moro ouviu que o apelo da então deputada seria levado em conta
pela Lava Jato. “Falei com Diogo, que checará”, respondeu Dallagnol, fazendo
referência ao procurador Diogo Castor de Mattos.
Dois meses
depois, em 8 de maio de 2017, Curitiba parecia à beira de uma guerra civil.
Dali a dois dias, Lula se sentaria pela primeira vez diante de Moro para depor,
como réu, no caso do triplex.
Diante da chegada de caravanas de apoio ao
petista – e, em menor número, de fãs de Moro e da Lava Jato –, a secretaria de
Segurança Pública do Paraná montou um gigantesco esquema que incluiu até atiradores de elite no dia do julgamento.
Em meio ao
clima de tensão, Moro disparou uma mensagem a Dallagnol em que, duramente, o
cobrava sobre a intenção de adiar em cima da hora o depoimento do
ex-presidente. “Que história é essa que vcs querem adiar? Vcs devem estar
brincando”, escreveu, às 19h09. “Não tem nulidade nenhuma, é só um monte de
bobagem”, completou.
Dallagnol só
respondeu no dia seguinte, às 8h41. “Passei o dia fora ontem. Defenderemos
manter. Falaremos com Nivaldo”, ele prometeu.
Referia-se a Nivaldo Brunoni,
juiz de primeira instância que cobria as férias do relator da Lava Jato no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, João Pedro Gebran Neto. Naquele mesmo
dia, Brunoni rejeitou pedido da defesa do petista para adiar o interrogatório.
Dois dias
depois, uma outra conversa que revela o clima de camaradagem entre juiz e
acusação. “Caro, foram pedidas oitivas na fase do 402, mas fique à vontade,
desnecessário dizer, para indeferir. De nossa parte, foi um pedido mais por
estratégia”, teclou Dallagnol.
Moro respondeu antecipando a sua decisão: “Blz,
tranquilo, ainda estou preparando a decisão mas a tendência é indeferir mesmo”.
Em 26 de
junho, seria a vez de Moro ditar a estratégia para o Ministério Público Federal
manter preso João Vaccari Neto, tesoureiro do PT que ele condenara, mas que
seria absolvido por falta de provas, no dia seguinte, pelo
TRF4.
Moro –
18:24:25 – Diante das absolvição do Vaccari seria talvez conveniente
agilizar julgamento do caso do Skornicki no qual ele tb está preso e condenado.
Parece que está para parecer na segunda instância
Dallagnol –
20:54:53 – Providenciamos tb nota de que a PRR vai recorrer
20:57:31 – Tem
outras tb no TRF. Alguma razão especial para apontar esta?
Moro –
23:20:53 – Porque Vaccari tb foi condenado nesta?!
A LEITURA
DAS conversas mostra como Moro e Dallagnol ficaram próximos ao longo dos
anos. Entre as últimas mensagens a que o Intercept teve acesso, Moro
conversa em tom de amizade com o procurador – que tratava o atual ministro como
“Caro juiz” no início dos diálogos.
Moro –
15:28:29. – Cara, recebi uma fotos de vc fantasiado de superhomem com um
tal de Castor, não sei o que faço mas a Mônica Bergamin está perguntando
se vc preferiu o Superman i, oi ou Iii?
Dallagnol –
22:47:06. – Kkkkkkk
22:47:28 – Tá
no face tb?
22:48:10 – Se
tiver, preciso tirar… ela está me difamando, era na verdade de príncipe que eu
estava rs
Mas também
houve momentos tensos entre os dois. Em março de 2016, Moro irritou-se com o
que considerou um erro da Polícia Federal. “Tremenda bola nas costas da Pf”,
digitou o então juiz.
As justificativas apresentadas por Dallagnol não o
convenceram. “Continua sendo lambança. Não pode cometer esse tipo de erro
agora.”
Um ano
depois, Moro, aparentemente irritado com uma das procuradoras da força-tarefa
da Lava Jato, fez um pedido delicado a Dallagnol:
Moro –
12:32:39. – Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente
profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe
dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio
bem dela. Um treinamento faria bem.
Favor manter reservada essa mensagem.
Dallagnol –
12:42:34. – Ok, manterei sim, obrigado!
‘MORO NÃO É
MODELO DE JUIZ IMPARCIAL’
“Conheço
Moro há muitos anos. Não é um modelo de juiz imparcial, tem um viés de
favorecer a acusação”, diz o advogado Antônio Sérgio Pitombo, que já
defendeu Jair Bolsonaro nos tribunais.
Foto: Andre
Coelho/Bloomberg via Getty Images
AS CONVERSAS
ENTRE MORO E DALLAGNOL enviadas pela fonte anônima compreendem um período
de dois anos entre 2015 e 2017. Já no grupo de procuradores citado neste texto,
o FT MPF Curitiba, o conteúdo dos chats totaliza o equivalente a um livro de
1.700 páginas.
Juristas
ouvidos pelo Intercept disseram que a proximidade entre procuradores e juízes é
normal no Brasil – ainda que seja imoral e viole o código de ética dos
magistrados.
“Pela
Constituição, o processo penal brasileiro é acusatório. Na prática, é
inquisitivo”, cravou Lenio Streck, advogado, jurista, pós-doutor em Direito e
professor de Direito Constitucional na Unisinos, no Rio Grande do Sul.
“O juiz
acaba sendo protagonista do processo, age de ofício [ou seja, sem ser provocado
por uma das partes], busca provas. Isso acaba fazendo com que o MP, também com
postura inquisitiva, acabe encontrando um aliado estratégico no juiz. É um
problema anterior, de que a Lava Jato é um sintoma.”
Aprovado em
2008 pelo Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, o Código de Ética da Magistratura Nacional determina, em
seu primeiro artigo, que juízes atuem “norteando-se pelos princípios da
independência, da imparcialidade” e “do segredo profissional”, entre outros.
O capítulo 3
do código, que trata exclusivamente da imparcialidade, diz, no artigo oitavo:
“O magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com
objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância
equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir
favoritismo, predisposição ou preconceito”.
O artigo seguinte determina que o
juiz, “no desempenho de sua atividade, cumpre dispensar às partes igualdade de
tratamento, vedada qualquer espécie de injustificada discriminação.”
Em várias
decisões, o Supremo Tribunal Federal ratificou decisões que proíbem juízes de
promover investigações. “A Constituição de 1988 fez uma opção inequívoca pelo
sistema penal acusatório.
Disso decorre uma separação rígida entre, de um lado,
as tarefas de investigar e acusar e, de outro, a função propriamente
jurisdicional. Além de preservar a imparcialidade do Judiciário, essa separação
promove a paridade de armas entre acusação e defesa, em harmonia com
os princípios da isonomia e do devido processo legal”, diz a ementa da ação direta de inconstucionalidade 5104,
relatada pelo ministro Roberto Barroso.
As conversas
sugerem que o juiz deu acesso privilegiado à acusação e ajudou o Ministério
Público a construir casos contra os investigados, o que pode ser usado pela
defesa dos acusados na Lava Jato.
Esse foi, por exemplo, o argumento da defesa
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao recorrer da condenação e ao denunciar Sergio Moro na Comissão de Direitos Humanos da ONU. “O juiz Moro atuou com pré-julgamento, pois ele foi o juiz de
investigação de Lula”, disse o advogado que representou o ex-presidente na
ONU, Geoffrey Robertson, na época em que o petista
foi condenado em segunda instância. A defesa de Lula vem, sem sucesso, questionando a imparcialidade de Moro no
Supremo Tribunal Federal.
“O juiz
brasileiro, em regra, é um juiz formal, mais distante, mas tem mais proximidade
com o MPF, porque são ambos funcionários públicos. Existe um desequilíbrio
nesse sentido”, afirmou o advogado Antônio Sérgio Pitombo, que já defendeu na Justiça o atual chefe de Moro, Jair
Bolsonaro.
“Conheço o
juiz Moro há muitos anos. Não é um modelo de juiz imparcial, tem um viés de
favorecer a acusação. [Mas] O ponto sobre Lava Jato nunca foi o juiz Moro, mas
o Tribunal Regional da Quarta Região [responsável por julgar na segunda
instância os processos da operação] nunca corrigir o juiz Moro.
Juízes com esse
ímpeto [punitivista] sempre tivemos no Brasil. Mas nunca tivemos um
tribunal tão leniente [com a primeira instância] como o TRF4. Ali
parecia haver um pacto ideológico entre tribunal e juiz. O tribunal achava
bonito aquilo”, criticou Pitombo.
O relator
dos processos da Lava Jato no TRF4, o juiz de segunda instância João Pedro
Gebran Neto, é amigo pessoal de Moro e, via de regra, se alinha ao
atual ministro em suas sentenças.
Muitas das
decisões tomadas por Moro ainda podem ser questionadas pelas defesas de
condenados na Lava Jato e revistas em tribunais superiores.
Ao contrário
do que tem como regra, o Intercept não solicitou comentários de procuradores e
outros envolvidos nas reportagens, para evitar que eles atuassem para impedir
sua publicação e porque os documentos falam por si.
Entramos em contato com as
partes mencionadas imediatamente após publicarmos as matérias.
Atualização
A
força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal emitiu três notas após
a publicação da reportagem. Nelas, dedicou especial atenção à “ação criminosa
de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério
Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes” e disse que sua
atuação “é revestida de legalidade, técnica e impessoalidade”.
Em nenhuma das
notas, os procuradores questionaram a veracidade dos diálogos publicados pelo
Intercept.
Também
em nota, o ministro Sergio Moro disse que “não se
vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto
magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das
matérias”.
O Intercept refuta a acusação de sensacionalismo e informa que
trabalhou com rigor para que todas as conversas fossem reproduzidas dentro do
contexto adequado.
Dependemos
do apoio de leitores como você para continuar fazendo jornalismo independente e
investigativo.
Vamos ganhar uma renda extra pessoal?
A cabei de me juntar á bunited.
E achei que é interessante pra você também.
A bunited tem o poder de tornar nosso mundo
sustentável. Não é só conversa, mas mudanças substanciais e reais.
E o melhor é que bunited paga para todos que trazem
novos membros com sucesso. Muito inovador, não?
Clica ai pra você ver, eu amei isso!
Este é o meu ID de Membro bUnited: BDXD-6740.
É grátis, sem problemas e por uma boa causa.
Boa sorte.
Doação
para o Blog
Queridos
leitores do Blog SUED E PROSPERIDADE
Que
a paz esteja com todos.
Venho
pedir aos leitores que têm condições e querem contribuir
com
o Blog uma pequena doação para o Blog
Que
a prosperidade os acompanhe hoje e sempre.
Desde
já agradeço.
Maria
Joselia
Número
da conta
Maria
Joselia Bezerra de Lima
Caixa
Econômica Federal
Agencia:
0045
Operação:
013
Conta:
00054784-8
Poupança
Brasil
Obrigado
Nenhum comentário:
Postar um comentário