Procuradora
da Lava Jato disse que Moro ajudou a derrubar esquerda e ganhou cargo com
Bolsonaro
Brazil's Justice Minister Sergio Moro attends a ceremony at
the Integrated Center of Command and National Control (CICCN) in Brasilia,
Brazil June 14, 2019. REUTERS/Adriano Machado
Nas novas
conversas vazadas pelo The Intercept, uma Procuradora reconheceu que Moro é
parcial e criticou seu lado e tomada de partido.
Parte 8
Às vésperas
de Moro aceitar convite para o Ministério da Justiça, procuradores do MPF
discutiam como ingresso do juiz na política podia legitimar críticas à Lava
Jato
Procuradores
do Ministério Público Federal, em mensagens privadas trocadas em grupos com
integrantes da Lava Jato, criticaram Sergio Moro duramente pelo que
consideraram uma agenda pessoal e política do juiz.
Eles foram além no decorrer
e logo depois da campanha eleitoral de 2018: para os procuradores, Moro
infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que
queria.
“Moro viola
sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, disse a
procuradora Monique Cheker em 1º de novembro, uma hora antes de o ex-juiz
anunciar ter aceito o convite de Sergio Moro para se tornar ministro da Justiça.
Integrantes da força-tarefa da Lava Jato lamentavam que, ao aceitar o cargo
(algo que ele havia prometido jamais fazer), Moro colocou em eterna dúvida a
legitimidade e o legado da operação. Os óbvios questionamentos éticos
envolvidos na ida do juiz ao ministério poderiam, afinal, dar maior
credibilidade às alegações de que a Lava Jato teria motivações políticas.
Uma vez que
o alinhamento de Moro com o bolsonarismo se tornou claro, até os maiores
apoiadores do ex-juiz dentro da Lava Jato passaram a expressar um
descontentamento antigo com as transgressões dele.
Mesmo o coordenador da
força-tarefa, Deltan Dallagnol (que sempre defendeu Moro), e o decano do grupo,
Carlos Fernando dos Santos Lima, íntimo do então juiz, confessaram preferir que
ele não aderisse ao governo Bolsonaro.
Um dia antes
do anúncio de Moro, em 31 de outubro, quando circulavam fortes boatos de que
Moro participaria do governo Bolsonaro, a procuradora Jerusa Viecili,
integrante da força-tarefa em Curitiba, escreveu no grupo Filhos do Januario 3:
“Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo.”
A
procuradora Laura Tessler, também da força-tarefa, concordou com a avaliação:
“Tb acho péssimo. MJ nem pensar… além de ele não ter poder para fazer mudanças
positivas, vai queimar a LJ. Já tem gente falando que isso mostraria a parcialidade
dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar. Péssimo.
E Bozo é muito mal visto…
se juntar a ele vai queimar o Moro.” Viecili completou: “E queimando o moro
queima a LJ”. Outro procurador da operação, Antônio Carlos Welter, enfatizou
que a postura de Moro era “incompatível com a de Juiz”:
31 de
outubro de 2018 – Filhos do Januario 3
Isabel Groba
– 09:24:41 – É o fim ir se encontrar com Bolsonaro e semana que vem ir
interrogar o Lula.
Jerusa Viecili – 09:25:20 – Concordo com tudo, Isabel!
Laura Tessler
– 09:25:27 – Tb!
Laura Tessler – 09:26:01 – Pelo amor de Deus!!!! Alguém fala pro Moro não ir
encontrar Bolsonaro!!!
Antônio Carlos Welter – 09:44:35 – Deltan Min do STF é um cargo no judiciário,
que seria o reconhecimento máximo na carreira.
Como ministro da justiça vai ter
que explicar todos os arroubos do presidente, vai ter que engolir muito sapo e
ainda vai ser profundamente criticado por isso. Veja que um dos fundamentos do
pedido feito ao comitê da Onu para anular o processo do Lula é justamente o de
falta de parcialidade do juiz.
E logo após as eleições ele é convidado para ser
Ministro. Se aceitar vai confirmar para muitos a teoria da conspiração. Vai ser
um prato cheio. As vezes, o convite, ainda que possa representar reconhecimento
(merecido), vai significar para muita gente boa e imparcial, que nos apoia, sem
falar da imprensa e o PT, uma virada de mesa, de postura, incompatível com a de
Juiz.
No dia
seguinte, 1º de novembro, quando ficou claro que Moro seria anunciado como
ministro da Justiça, outros procuradores do MPF não envolvidos com a Lava Jato
aderiram ao coro. Conversando no grupo BD, do qual faziam parte procuradores de
vários estados, eles dispararam duras críticas ao ex-juiz:
1º de
novembro de 2018 – BD
Ângelo –
10:00:07 – Cara, eu não confio no Moro, não. Em breve vamos nos receber cota de
delegado mandando acrescentar fatos à denúncia. E, se não cumprirmos, o próprio
juiz resolve. Rs.
Monique – 10:00:30 – Olha, penso igual.
Monique – 10:01:36 – Moro é inquisitivo, só manda para o MP quando quer
corroborar suas ideias, decide sem pedido do MP (variasssss vezes) e respeitosamente
o MPF do PR sempre tolerou isso pelos ótimos resultados alcançados pela lava
jato
Ângelo – 10:02:13 – Ele nos vê como “mal constitucionalmente necessário”, um
desperdício de dinheiro.
Monique – 10:02:30 – Se depender dele, seremos ignorados.
Ângelo – 10:03:02 – Afinal, se já tem juiz, por que outro sujeito processual
com as mesmas garantias e a mesma independência? Duplicação inútil. E ainda
podendo encher o saco.
Monique – 10:03:43 – E essa fama do Moro é antiga. Desde que eu estava no Paraná,
em 2008, ele já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam
da pro atividade dele, que inclusive aprendiam com isso.
Ângelo – 10:04:30 – Fez umas tabelinhas lá, absolvendo aqui para a gente
recorrer ali, mas na investigação criminal – a única coisa que interessa -,
opa, a dupla polícia/ juiz eh senhora.
Monique – 10:04:31 – Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por
seus resultados.
É
particularmente significativo que procuradores tenham chamado algumas
absolvições de Moro de “tabelinhas” – destinadas a criar uma falsa percepção de
imparcialidade –, já que as absolvições haviam sido citadas pelo ex-juiz e por
Deltan Dallagnol justamente para refutar acusações de que Moro era o verdadeiro
chefe dos procuradores.
Quando Moro
foi finalmente confirmado como ministro da Justiça, o procurador Sérgio Luiz
Pinel Dias, que atua na Lava Jato no Rio de Janeiro, digitou no grupo MPF GILMAR
MENDES que, daquele momento em diante, seria muito difícil “afastar a imagem de
que a LJ integrou o governo de Bolsonaro”:
1º de
novembro de 2018 – Grupo MPF GILMAR MENDES
Thaméa
Danelon – 10:19:01 – Bom dia pessoal. Qual a opinião de vcs sobre Moro no MJ?
José Augusto Simões Vagos – 10:44:57 – Acho inoportuno
Sérgio Luiz Pinel Dias – 10:50:51 – Thamea e colegas, pessoalmente acho ruim
para o legado da LJ, por melhor que sejam as intenções dele de tentar influir
por dentro. . . . Para mim, LJ, além de ser um símbolo, é um método de atuação
das nossas instituições, que nos permitiu, até aqui, surfar juntos em uma
excelente onda.
Mas será difícil, muito difícil, hoje e provavelmente no
futuro, com a assunção de Moro ao MJ, afastar a imagem de que a LJ integrou o
governo de Bolsonaro. Vejo, por esse motivo, com muita preocupação esse passo
do Moro.
Mônica Campos de Ré – 10:54:12 – Concordo!
A
procuradora Isabel Cristina Groba Vieira, da Lava Jato em Curitiba, opinou no
grupo Filhos do Januario 3: “É realmente péssimo. O nome da LJ não pode ser
conspurcado.”
AS CRÍTICAS
A MORO vinham se acumulando desde muito antes do anúncio oficial de que ele
seria empregado de um presidente de trajetória marcada por apologia à tortura,
à ditadura e a declarações misóginas e homofóbicas.
A três dias do segundo
turno das eleições, em 25 de outubro, os procuradores Jerusa Viecili e Paulo
Roberto Galvão lamentaram que Moro e que a própria força-tarefa passassem
a
impressão de
favorecer a candidatura de Bolsonaro.
Galvão se
mostrava especialmente preocupado com o silêncio da força-tarefa em relação às
declarações do político contra a liberdade de imprensa e ao seu desprezo pelo
devido processo legal.
Essas posições eram criticadas pela Lava Jato quando
verbalizadas por outros políticos. Galvão se incomodava também com o silêncio
dos colegas frente aos ataques dirigidos contra os protestos anti-Bolsonaro que
ocorriam em universidades, assim como Jerusa Viecili:
25 de
outubro de 2018 – grupo Filhos do Januário 3
Jerusa
Viecili – 14:45:52 – Pessoal, desculpem voltar ao assunto (sou voto vencido),
mas, somente esta semana, várias pessoas, inclusive alguns colegas e
servidores, me questionaram a ausência de manifestação da FT diante de alguns
posicionamentos dos candidatos à presidência.
Fato é que sempre nos
posicionamos diante de várias ameaças ao nosso trabalho e, nos últimos dias,
temos ficado silentes, mesmo com ameaças de candidatos à independência do
Ministério Público (nomeação de PGR fora da lista tríplice) e à liberdade de
imprensa.
Em outros tempos, por motivos outros, mas igualmente relevantes e
perigosos, divulgamos nota, convocamos coletiva e ameaçamos renunciar (!).
Agora, jornalistas escrevem no Twitter que a LAVA JATO é caso de desaparecido
político, pois já alcançou o que queria.
Acho muito grave ficarmos em silêncio
quando um dos candidatos manifesta-se contra a nomeação do PGR da lista
tríplice, diante de questões ideológicas.
Mais grave ainda, assistirmos
passivamente, ameaças à liberdade de imprensa quando nós somos os primeiros a
afirmar a importância da imprensa para o sucesso da Lava Jato.
Igualmente
grave, candidatos divulgarem nomes de futuros ministros que são alvos de
investigações e processos por corrupção. Nossa omissão também tem peso e influência.
Eu sinceramente não quero (e isso a penas a história dirá) que a Lava Jato seja
vista, no futuro, como perseguição ao PT e, muito menos, como co-responsável
pelos acontecimentos eleitorais de 2018. . . .
Três horas
depois, o procurador Paulo Roberto Galvão disse no mesmo grupo: “Pessoal, nós
somos procuradores da República. Cumprimos a nossa função no combate à
corrupção, e não poderíamos ter feito diferente, ainda que soubéssemos que daí
poderia advir um eleito antidemocrático (e sabíamos pois estudamos e
conhecíamos o risco Berlusconi)”.
Para ele, a força-tarefa não poderia ser
acusada de ter tentando influenciar as eleições presidenciais, porque só fez o
seu trabalho. “Infelizmente, Moro indiretamente e Carlos Fernando diretamente
erraram ao deixar transparecer preferência (o primeiro) ou dizer abertamente de
sua preferência (o segundo)”, ponderou.
Um dia
depois, Jerusa Viecili insistiu no assunto: “Já desvirtuam o que falamos contra
a corrupção ser a favor do Bolsonaro. mas não vou mais insistir. o fato é que a
FT sempre comentou tudo (desde busca e apreensão em favela, lei de abuso de
autoridade, anistia, indulto, panelinha, etc …) e agora não comenta
independencia do MP, liberdade de imprensa e BA em universidade”.
MORO ASSUME,
AS RECLAMAÇÕES AUMENTAM
NA NOITE DO
SEGUNDO TURNO, antes de ser anunciado o resultado, procuradores da Lava Jato e
outros membros do MPF se mostraram irritados no grupo BD com a esposa de Moro.
Mesmo depois de o ex-juiz já ter “cumpriment[ado] o eleito”, Rosângela comemorou
explicitamente a vitória de Bolsonaro em suas redes sociais:
28 de
outubro de 2018 – grupo BD
Alan Mansur
PRPA – 20:21:05 – Esposa de Moro comemorando a vitória de Bolso nas redes
José Robalinho Cavalcanti – 20:21:29 – Erro crasso.
José Robalinho Cavalcanti – 20:22:09 – Compromete moro. E muito
Janice Agostinho Barreto Ascari – 20:25:30 – Moro já cumprimentou o eleito.
Como perde a chance de ficar de boa, pqp
Luiz Fernando Lessa – 20:25:56 – esse povo do interior
Luiz Fernando Lessa – 20:26:02 – é muito simplório
Confirmada a
vitória de Bolsonaro, o procurador Luiz Fernando Lessa ironizou a ânsia de Moro
em fazer parte do governo.
Ainda no grupo BD, ele se dirigiu ao então
presidente da Associação Nacional de Procuradores da República, José Robalinho
Cavalcanti: “Robalinho, já tem lugar na posse, do lado do Mourão? Com as tuas
medalhas?”
As críticas
à parcialidade e ao partidarismo do juiz foram se intensificando à medida que a
especulação acerca de um cargo para Moro no governo Bolsonaro aumentava.
Comentando uma postagem do site O Antagonista, que tratava de uma suposta
intenção de Bolsonaro de nomear Moro ao STF e integrar a força-tarefa ao
governo sob um “conselhão” a ser presidido por Deltan Dallagnol, o procurador
Paulo Galvão reclamou no grupo Filhos do Januario 3:
“impressionante como toda
vez que moro fala fora dos autos fala bobagem.”
Quando Laura Tessler respondeu
com uma defesa moderada de Moro (“Ele quis estancar os boatos, mas sem fechar
as portas”), Jerusa Viecili respondeu: “o ‘sem fechar as portas’ é que é
perigoso para um juiz.”
No dia 31 de
outubro, véspera do anúncio, a preocupação dos procuradores deu lugar à raiva e
até pânico quando foi postado no grupo Winter is Coming um artigo de O Globo
com a notícia que Moro viajaria ao Rio de Janeiro para um encontro com
Bolsonaro na casa do presidente recém-eleito.
Enquanto o sempre leal Deltan
defendia Moro sozinho, os outros procuradores manifestavam sua indignação:
31 de
outubro de 2018 – Winter is Coming
Janice
Ascari – 08:06:11 – Moro se perdeu na vaidade. Que pena.
João Carlos de Carvalho Rocha – 08:10:31 – Ele se perdeu e pode levar a Lava
Jato junto. Com essa adesão ao governo eleito toda a operação fica com cara de
“República do Galeão”, uma das primeiras erupções do moralismo redentorista na
política brasileira e que plantou as sementes para o que veio dez anos depois.
Às 9h36,
Ascari completaria, no mesmo grupo: “Se Moro topar ser MJ, para mim será a
sinalização de estar de olho na próxima campanha presidencial.”
Simultaneamente,
o assunto mobilizava o grupo Filhos do Januario 3.
31 de
outubro de 2018 – Filhos do Januario 3
Jerusa
Viecili – 08:48:20 – Espero que não seja verdade
Jerusa Viecili – 08:48:20 – https://glo.bo/2JrHJrR
Deltan Dallagnol – 08:51:47 – Ótima decisão pras leniências tb
Deltan Dallagnol – 08:52:47 – Ele vai checar lá. Ficou 1 ano sozinho. Acho que
pessoal será sensível, mas veremos
Deltan Dallagnol – 08:54:16 – Acho que não vai converter nem desconverter ng do
que já acha sobre a LJ, nesse ponto
Jerusa Viecili – 08:55:38 – Não é sobre converter as pessoas. É sobre preservar
a LJ.
Laura Tessler – 08:57:25 – Tb acho péssimo. MJ nem pensar… além de ele não ter
poder para fazer mudanças positivas, vai queimar a LJ.
Já tem gente falando que
isso mostraria a parcialidade dele ao julgar o PT. E o discurso vai pegar.
Péssimo.
E Bozo é muito mal visto… se juntar a ele vai queimar o Moro
Jerusa Viecili – 08:59:58 – E queimando o moro queima a LJ
Isabel Groba – 09:18:58 – É realmente péssimo.
O nome da LJ não pode ser
conspurcado.
Andrey Mendonça – 09:19:27 – Para ministro do stf, acho otimo. Para ministro da
justiça acho que vai dar azo – com razão – a argumentos de politização da lava
jato.
Andrey Mendonça – 09:20:24 – Lembro de um promotor italiano em um artigo q
falava sobre maos limpas. Terminava dizendo: e nunca entrem na política
Isabel Groba – 09:22:30 – Isso! E pra ser Ministro do STF precisa abrir vaga.
Então, ainda que em futuro próximo, isso ficaria para um momento posterior. E,
depois, como Ministro pode rechaçar medidas reacionárias que venham.
Isabel Groba – 09:23:17 – Como Ministro do STF
À medida que
apareciam na imprensa as notícias de que Moro estava negociando com Bolsonaro
um superministério com poderes expandidos, o procurador Ângelo Augusto Costa
chamou a atenção do grupo BD para o precedente perigoso que estava sendo
criado: “Não eh muita coisa? Acho que o próprio Bolsonaro vai ficar com medo.
Rs. Isso sem falar de quem vem depois.
Moro, ok, mas nada eh eterno. Esse super
MJ pode virar uma máquina de perseguição política.”
Mesmo os
poucos defensores que o juiz ainda tinha passaram a admitir o que era antes
impensável assim que a notícia de que ele havia aceitado o ministério se
espalhou: as constantes reclamações do PT – de perseguição por parte da Lava
Jato e de partidarismo e motivação política por parte de Moro – ganhariam
credibilidade, e que todo o trabalho da Lava Jato seria contaminado pela
aventura política de Moro:
1º de
novembro de 2018 – grupo BD
Monique
Cheker – 10:50:46 – Um general da ativa não teria “argumento de autoridade”
para atropelar o sistema acusatório. Moro fará com diploma em Harvard e com o
nome da lava jato.
Monique Cheker – 10:51:23 – Mas concordo com a fala de Robalinho de que já
passamos coisas piores
Janice Ascari – 10:55:15 – Moro aceitou
Janice Ascari – 10:55:19
–
https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/moro-aceita-ministerio/?utm_source=twitter:newsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-
sociais:112018:e&utm_content=:::&utm_term=
Luiza – 10:56:16 – Moro aceitou
Alan Mansur – 10:57:25 – GloboNews diz que Moro aceitou e fará uma nota daqui a
pouco
Monique Cheker – 11:00:03 – Pessoal da AGU surtando…
Monique Cheker – 11:00:03 – “@onyxlorenzoni Deputado. A AGU é função essencial
à Justiça prevista na CF. Não precisa ser vinculada a nenhum ministério.
@jairbolsonaro”
Monique Cheker – 11:00:03 – TT que estão espalhando
Ângelo Augusto Costa – 11:00:39 – De alegria, né?
Ângelo Augusto Costa – 11:00:51 – Próximo passo eh lista tríplice
Alan Mansur – 11:00:56 – Tem toda a técnica e conhecimento para ser um
excelente ministro da Justiça. E tentar colocar em prática tudo que ele
acredita.
Porém, o fato de ter aceitado, neste momento, entrar na política e
desta forma, é muito ruim pra imagem de imparcialidade do sistema de justiça e
MP em geral.
Alan Mansur – 11:01:59 – Será ainda mais marcado por parcialidade. E sempre
ficará o comentário, Moro fez tudo isso para assumir o poder.
Alan Mansur – 11:02:46 – Pelo lado da técnica, ele será um excelente Ministro e
acho que vai ajudar em muito a organização do sistema.
Mas teremos que lidar
com esta crítica constante
Minutos
depois, os procuradores do grupo BD começaram a se preocupar em como a nomeação
de Moro serviria de munição para o PT contra a Lava Jato.
“Acho que o PT deve
estar em festa agora, para justificar todo o discurso deles”, escreveu Alan
Mansur. Peterson de Paula Pereira, procurador da República no Distrito Federal,
disse que a decisão de Moro mostrava como ele atuava contra o ex-presidente
Lula: “Fica claro que ele tinha Lula como troféu”. Para Monique Cheker, o
movimento do ex-juiz passava uma imagem de que ele estava fazendo uma
“escadinha” política com a Lava Jato:
1º de
novembro de 2018 – grupo BD
Monique
Cheker – 11:27:01 – Diferente se fosse ao STF direto. Seria perfeito. Políticos
precisam obedecer prazos de desincompatibilidade.
Por que não juízes e membros
do MP? O distanciamento é importante numa república. Não basta ser honesto, tem
que parecer honesto. Enfim.
Alan Mansur 11:28:04 – [imagem não encontrada] Monique Cheker – 11:28:23 – E a
“escadinha” disso tudo foi terrível: Moro ajudou a derrubar a esquerda, sua
esposa fez propaganda para Bolsonaro e ele agora assume um cargo político. Não
podemos olhar isso e achar natural
Em 6 de
novembro, dias depois de Moro ter aceitado o convite, mesmo Deltan Dallagnol, o
procurador mais leal a Moro, confessou estar preocupado com os danos causados à
reputação e à credibilidade do trabalho realizado por cinco anos pela operação
Lava Jato.
Ele e a procuradora Janice Ascari concordaram em uma conversa entre
os dois que a conduta de Moro gerava “uma preocupação sobre alegações de
parcialidade que virão”. Mesmo assim, os dois continuariam a defendê-lo.
6 de novembro
de 2018 – chat privado
Deltan
Dallagnol – 11:50:41 – Jan, não sei qual sua posição sobre a saída do Moro pro
MJ, mas temos uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão.
Não
acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na
opiniã pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ estão intimamente
vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ e
vice-versa. Ainda que eu tenha alguma ponderação pessoal sobre a saída dele,
que fiz diretamente a ele, é algo que seria importante – se Vc concordar –
defender…
Quanto à delação do Palocci, tema em que podem entrar, expliquei essa
questão na minha entrevista da Folha de umas semanas atrás, não sei se chegou a
ver, então mando aqui… bjus
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/deltan-dallagnol-critica-discurso-hipocrita-a-favor-da-lava-jato.shtml
Janice Ascari – 12:55:05 – Oi querido, nosso pensamento é convergente. Também
me preocupo com esse aspecto da parcialidade dele, porque põe em dúvida,
também, o trabalho do MPF.
Pretendo, além de, claro, defender a LJ como sempre
faço (até quando não concordo com algumas coisas rsrs), mostrar que o
Ministério da Justiça tem muita coisa com que se preocupar além da LJ, que
continuará com Moro ou sem Moro.
Num outro
grupo integrado por procuradores e assessores de imprensa da força-tarefa no
Paraná, um dos jornalistas revela que Carlos Fernando dos Santos Lima “torcia”
para que Moro recusasse o convite do presidente de extrema-direita: “CF mesmo,
disse estar torcendo pra ele não aceitar”.
“Creio que o que eu tinha para
falar, já está falado.
Agora é rezar para que ele não aceite”, prosseguiu
Santos Lima, de acordo com o relato de seu assessor.
Em resposta a nossos contatos, o porta-voz da força-tarefa da Lava Jato enviou
o que já se tornou sua resposta padrão, evitando qualquer comentário sobre o
conteúdo da reportagem e preferindo insinuar falsa e levianamente que as
conversas podem não ser autênticas: “O trecho do material enviado à
Força-Tarefa não permite constatar o contexto e a veracidade do conteúdo.
Autoridades públicas foram alvo de ataque hacker criminoso, o que torna
impossível aferir se houve edições no material alegadamente obtido.
A Lava Jato
é sustentada com base em provas robustas e em denúncias consistentes,
analisadas e validadas por diferentes instâncias do Judiciário. Os integrantes
da Força-Tarefa pautam suas ações pessoais e profissionais pela ética e pela
legalidade.”
A
procuradora Monique Cheker disse que “não tem registro da mensagem enviada e,
portanto, não reconhece a suposta manifestação”. “A procuradora ainda afirma
que são públicas e notórias as incontáveis manifestações de apoio à operação
Lava Jato e ao então juiz Sérgio Moro”, acrescentou sua assessoria.
O
procurador regional da República Luiz Fernando Lessa esclareceu que, desde
recentes ataques ao Telegram, não possui mais o aplicativo nem as mensagens
trocadas por meio dele, de modo que não reconhece as mensagens.
Demais
procuradores que não fazem parte da força-tarefa foram procurados e não
responderam até a publicação deste texto. Eventuais comentários serão
publicados se forem enviados ao Intercept.
O Intercept
publicou a primeira reportagem sobre a #VazaJato há menos de três semanas.
Desde então, o trabalho jornalístico realizado pelo Intercept – bem como pela
Folha de S.Paulo e pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da BandNews – demonstrou
de forma clara que Sergio Moro violou repetidamente as normas éticas da
magistratura, não exercendo seu poder judicial “pautado pela ética e pela
legalidade”, mas cometendo diversos desvios éticos e atropelando os
procedimentos legais.
Ao passo que
essas revelações chocaram boa parte dos brasileiros, a imagem que emerge das
conversas é que, entre os procuradores, o comportamento antiético e politizado
de Moro já era há muito conhecido.
Quando ficou claro que os desvios de Moro
poderiam causar prejuízos ao trabalho da força-tarefa, os procuradores passaram a
expressar suas críticas – ao menos quando pensavam estar falando de forma
privada – de forma bastante clara, sincera e raivosa.
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