JORNALISTAS
DENUNCIAM RECORD POR PRESSIONÁ-LOS A FAVORECER BOLSONARO
21/10/2018
"Em
defesa do direito à informação correta e equilibrada na cobertura das eleições,
o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo repudia as
pressões feitas pela direção da Record e exige o respeito à autonomia de
apuração e edição dos jornalistas da empresa", aponta nota publicada pelo
sindicato; bispo Edir Macedo usa uma concessão pública em favor de seus
interesses pessoais
20 DE
OUTUBRO DE 2018 ÀS 12:21 // INSCREVA-SE
NA TV 247
Do Sindicato
dos Jornalistas de São Paulo –
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais
no Estado de São Paulo (SJSP) recebeu denúncias de vários jornalistas da Rede
Record – televisão, rádio e portal de notícias R7 – de que estão sofrendo
pressão permanente da direção da emissora para que o noticiário beneficie o
candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e prejudique o candidato Fernando
Haddad (PT).
A entidade torna público, como exige seu dever de representação da
categoria, o inconformismo desses profissionais com as pressões inaceitáveis e
descabidas em uma empresa de comunicação.
A pressão
interna para favorecimento do candidato do PSL tem origem no anúncio feito em
29 de setembro passado, pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de
Deus, proprietário da emissora, de que passava a apoiar Bolsonaro à
Presidência.
A partir daí, o noticiário começou a dar uma guinada, ainda antes
do primeiro turno eleitoral.
Um momento importante foi a entrevista com Jair
Bolsonaro levada ao ar em 4 de outubro, no mesmo momento em que sete outros candidatos
à Presidência realizavam um debate na TV Globo, com a ausência do líder nas
pesquisas.
Outras
expressões dessa virada são decisões de não colocar em rede reportagens
relevantes – exibidas em afiliadas – barradas na grade de noticiário nacional
da emissora, por avaliações de que poderiam prejudicar Bolsonaro ou ajudar
Haddad.
O portal R7 também passou a ser dirigido a favor do candidato do PSL de
forma explícita:
por vários dias seguidos, os destaques da rubrica “Eleições
2018” na home se dividiam entre reportagens favoráveis a Bolsonaro e
reportagens negativas a Haddad.
As pressões
internas pela distorção do noticiário tomaram a forma de assédio a diversos
jornalistas.
A tensão na redação tornou-se insuportável para alguns
profissionais.
O fato já foi divulgado por sites jornalísticos.
Concessão
pública
Nesta
situação, deve-se lembrar em primeiro lugar que um canal aberto de televisão é
uma concessão pública outorgada pelo governo federal, o que se subordina às
disposições do artigo 5º da Constituição brasileira, inciso XIV, que assegura a
toda a população o acesso à informação.
No contexto de uma eleição, e no âmbito
do jornalismo, isso significa o direito da sociedade a receber uma informação
precisa, bem apurada, equilibrada, que contribua para qualificar a compreensão
das propostas em jogo e dos compromissos e interesses envolvidos em cada
candidatura.
Em outras palavras, o cidadão deve ter acesso a uma cobertura
eleitoral que valorize o bom jornalismo, reportando os fatos de forma correta,
independentemente do candidato envolvido.
Isso vale mesmo se o veículo tiver
posicionamento político explícito, a favor de quaisquer dos candidatos, o que
não deveria interferir em sua função jornalística.
Para balizar
a atuação dos profissionais, existe o ferramental próprio da profissão, que
inclui o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, no qual o jornalista é
orientado a “divulgar os fatos e informações de interesse público” e a não se
“submeter a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à
correta divulgação da informação”.
É preciso
considerar que a Rede Record é uma empresa privada, para a qual a legislação
prevê o “poder diretivo” do empregador sobre os funcionários.
Isso funciona
para o conjunto das relações de trabalho, mas o jornalismo está entre as
profissões que exigem relativa autonomia por sua própria natureza (como
acontece, por exemplo, com os professores).
O compromisso do profissional com o
“acesso à informação”, cláusula pétrea da Constituição, deve ser preponderante
quando existe um conflito.
O Sindicato
dos Jornalistas atua para garantir as prerrogativas profissionais nas relações
de trabalho, e busca inserir nas Convenções Coletivas uma “cláusula de
consciência”, que diz, resumidamente, que, em “respeito à ética jornalística, à
consciência do profissional e à liberdade de expressão e de imprensa”,
o
jornalista tem o direito de “recusar a realização de reportagens que firam o
Código de Ética, violem sua consciência e contrariem a sua apuração dos fatos”.
Pela cláusula, o profissional poderia ainda se opor ao uso de material
produzido por ele em reportagem coletiva (inclusive para preservar sua relação
com fontes) e recusar a associação de seu nome ou imagem a trabalho
jornalístico com o qual não queira se associar.
As empresas de rádio e
televisão recusam-se a aceitar esta cláusula essencialmente democrática,
deixando o terreno livre para exercer sobre os jornalistas pressões abusivas,
decorrentes de interesses privados que contrariam o direito público à
informação.
Repúdio
Em defesa do
direito à informação correta e equilibrada na cobertura das eleições, o
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo repudia as
pressões feitas pela direção da Record e exige o respeito à autonomia de
apuração e edição dos jornalistas da empresa.
Em função da situação, adota
ainda as seguintes providências:
a)
respeitando a autonomia da Comissão de Ética do SJSP, reforça o pedido para que
a direção da Record endosse o “Protocolo Ético para o Segundo Turno das
Eleições 2018”, enviado pela Comissão de Ética para a chefia do jornalismo de
todas as empresas de comunicação do Estado;
b) solicita
uma reunião imediata com a empresa para expressar diretamente sua posição e
reivindicar garantias de que as pressões sobre os jornalistas serão
interrompidas o quanto antes;
c) insiste
desde já com as empresas de rádio e televisão do Estado para que, nas
negociações da campanha salarial deste ano (data-base em 1º de dezembro), seja
incluída a cláusula de consciência, integrante da pauta de reivindicações;
d) decide
inserir as denúncias relativas à Rede Record no dossiê que prepara para
entregar ao Ministério Público dos Direitos Humanos sobre a violação de
garantias profissionais dos jornalistas no atual período eleitoral; e
e) coloca-se
à disposição de todos os jornalistas da emissora para fazer debates, reuniões e
adotar todas as medidas necessárias para garantir o respeito à autonomia
profissional a que todos os jornalistas, e cada um, têm direito.
São Paulo,
19 de outubro de 2018
Direção - Sindicato
dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
FONTE: https://www.brasil247.com/
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