A morte do
inocente neto de Lula soltou os monstros do ódio
Juan Arias 21
horas atrás 02/03/2019
© Reprodução/Twitter Arthur em imagem divulgada pelos
perfis de Lula nas redes sociais.
Sabíamos que
no Brasil majoritariamente solidário, sensível à dor alheia e que ama seus
pequenos, existiam monstros de ódio.
Confesso, no entanto, que ignorava que
fossem tantos e com tanta carga de sadismo.
Estão sendo revelados pelos
comentários sórdidos e até blasfemos, já que invocam a Deus como motivo
da morte de Arthur, de sete anos, neto inocente de Lula,
condenado e preso por corrupção.
Uma criança
ainda não teve tempo de conhecer a que abismos de cegueira tanto a política
como a ideologia podem conduzir.
E cai sobre nossa consciência de adultos a
infâmia de transformar em piadas baratas, em ironia e sarcasmo nas redes
sociais a dor de um avô pela perda de seu neto.
Lula, mesmo condenado
e na cadeia, não perdeu nem sua dignidade de pessoa nem seu pedaço de história
positiva que deixa escrita neste país.
Aqueles que se
alegram pela perda do neto de Lula, que seria o castigo de Deus por ter apoiado
como presidente governos como o da Venezuela que hoje mata de fome suas crianças, como li aqui mesmo neste
jornal, estão revelando a que ponto de cegueira e insensibilidade humana pode
chegar o soberbo Homo sapiens.
Essa
ausência de empatia e decência chegou a infectar até políticos com
responsabilidade, como o filho do presidente Bolsonaro, o deputado federal
Eduardo, que tudo o que soube escrever na Internet sobre
a triste morte do neto de Lula é que este deveria estar
"em uma prisão
comum, como um prisioneiro comum", sem uma única palavra de piedade ou
pelo menos de respeito por seu inimigo político.
Como resposta, Fernando Lula
Negrão escreveu que as palavras do filho do presidente
"eram emblemáticas
do caráter, da criação, dos complexos, da falta de misericórdia, dos ódios, das
angústias e da falta de amor que é típica dos psicopatas, dos serial
killers e dos covardes...”
Um duro julgamento que, tenho certeza, tem o
aplauso dos milhões de brasileiros que não perderam a capacidade de mostrar
solidariedade com a dor dos outros.
E também
Alexandre Braga, certamente outro dos milhões de brasileiros sãos, não
envenenado pela ideologia, lhe respondeu com sensatez:
"Perdeu a chance
(Eduardo) de ficar calado.
Lula já está acabado e preso. Respeite a dor do avô,
basta desse ódio malvado e vamos pensar no Brasil".
Tentando
lembrar tempos sombrios da História em que o ser humano chegou a se degradar a
ponto de não só não respeitar a inocência da infância, como também fazer dela
carne da infâmia,
só me vieram à memória aqueles campos de concentração nazistas onde
as crianças eram queimadas vivas porque "não serviam para trabalhar".
Foi em um desses campos que um de seus dirigentes dedicava para a rega das flores
de seu jardim a pouca água que havia, deixando as crianças morrerem de sede.
Para aqueles
que como eu dedicaram tantos artigos a louvar o positivo da alma brasileira que
tanto me ensinou e confortou nos momentos em que não é difícil perder
a
confiança no ser humano, ler os comentários sem alma, sem empatia, de ódio ou
sarcasmo e até mesmo regozijando-se pela morte de um inocente, tão somente por
ódio a Lula, seria preferível não ter vivido este dia.
Estou entre
os jornalistas que criticaram na época o fato de Lula, que chegou com a
esperança de renovar a política, ter acabado se contaminando pelos afagos dos
poderosos e pela política fácil da corrupção.
Hoje, porém, diante desses
caminhões de lixo que as redes estão vomitando contra ele e até contra o neto
inocente que perdeu, eu me atrevo a lhe pedir perdão em nome dos milhões de
brasileiros que ainda não se venderam ao ódio fácil e ainda sabem manter sua
dignidade perante o mistério da morte de um inocente.
Houve quem
escrevesse que depois dos campos de concentração do nazismo não seria possível
continuar acreditando em Deus.
E depois desses ódios e insultos imundos
despejados contra Lula por causa de sua dor por ter perdido o neto, é possível
continuar acreditando no Brasil?
O Brasil dos esgotos, que hoje manchou
gratuitamente a alma de uma criança inocente, passará, como o nazismo passou.
O
outro Brasil, o anônimo, aquele que hoje ficou horrorizado vendo os monstros
soltos desfilando nas redes sociais, o majoritário, acabará — ou será somente a
minha esperança?
— dominando os monstros que hoje nos assustam para assim
abrir caminho aos anjos da paz.
Fonte: https://www.msn.com/pt-br
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