quinta-feira, 3 de junho de 2021

The Economist Sobre Bolsonaro: Sua Conduta Se Qualifica Como Impeachável, Incluindo “Crimes De Responsabilidade”

SUED E PROSPERIDADE

03/06/2021

The Economist Sobre Bolsonaro: Sua Conduta Se Qualifica Como Impeachável, Incluindo “Crimes De Responsabilidade”

Celeste Silveira 3 de junho de 2021

O sistema político que o ajudou a conquistar o cargo precisa de uma reforma profunda.

The Economist – Hospitais estão lotados, favelas ecoam com tiros e um recorde de 14,7% dos trabalhadores estão desempregados. Incrivelmente, a economia do Brasil está menor agora do que era em 2011 – e serão necessários muitos trimestres fortes como o relatado em 1º de junho para reparar sua reputação. 

O número de mortos no Brasil em covid-19 é um dos piores do mundo. O presidente, Jair Bolsonaro, brinca que as vacinas podem transformar as pessoas em jacarés.

O declínio do Brasil foi chocantemente rápido. Após a ditadura militar de 1964-85, o país conseguiu uma nova constituição que devolvia o exército aos quartéis, programas sociais que, com um boom de commodities, começaram a diminuir a pobreza e a desigualdade. Uma década atrás, o país estava cheio de dinheiro do petróleo e foi premiado com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Parecia destinado a florescer.

Em seus esforços para se proteger das consequências da Lava Jato, uma enorme investigação anticorrupção, os políticos têm resistido às reformas que impediriam a corrupção. Os promotores e juízes por trás do Lava Jato são parcialmente culpados. Depois que alguns demonstraram ter uma agenda política, sua investigação ficou paralisada no Congresso e nos tribunais.

Finalmente, o sistema político do Brasil é uma pedra de moinho. Distritos estaduais e 30 partidos no Congresso tornam as eleições caras. Ainda mais do que em outros países, os políticos tendem a apoiar projetos extravagantes para ganhar votos, em vez de reformas dignas de longo prazo. 

Uma vez no cargo, eles seguem as regras erradas que os elegeram. Eles desfrutam de privilégios legais que os tornam difíceis de processar e de uma grande quantidade de dinheiro para ajudá-los a manter o poder. Como resultado, os brasileiros os desprezam. Em 2018, apenas 3% disseram confiar “muito” no Congresso.

A desilusão abriu o caminho para Bolsonaro. Ex-capitão do Exército com uma queda pela ditadura, ele convenceu os eleitores a verem sua impropriedade política como um sinal de autenticidade. Ele prometeu expurgar políticos corruptos, reprimir o crime e turbinar a economia. Ele falhou em todas as três promessas.

Depois de aprovar a reforma da previdência em 2019, ele abandonou a agenda de seu ministro da Economia liberal, temendo que custasse votos. A reforma tributária e do setor público e as privatizações estagnaram. As doações em dinheiro ajudaram a evitar a pobreza no início da pandemia, mas foram reduzidas no final de 2020 devido ao aumento da dívida. 

A taxa de desmatamento na Amazônia aumentou mais de 40% desde que ele assumiu o cargo. Ele levou uma motosserra para o ministério do meio ambiente, cortando seu orçamento e forçando a saída de funcionários. Seu ministro do Meio Ambiente está sob investigação por tráfico de madeira.

Cobre a covid-19, Bolsonaro apoiou comícios anti-lockdown e curas de charlatães. Ele enviou aviões carregados de hidroxicloroquina para tribos indígenas. Por seis meses ele ignorou ofertas de vacinas. Um estudo descobriu que o atraso pode ter custado 95.000 vidas.

Em vez de lidar com o enxerto, ele protegeu seus aliados. Em abril de 2020, ele demitiu o chefe da Polícia Federal, que investigava seus filhos por corrupção. Seu ministro da Justiça pediu demissão, acusando-o de obstrução da justiça. Dias antes, Bolsonaro havia ameaçado a independência da Suprema Corte. Em fevereiro, seu procurador-geral fechou a força-tarefa Lava Jato.

A democracia brasileira está mais frágil do que em qualquer momento desde o fim da ditadura. Em março, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, que se recusou a enviar o exército às ruas para forçar a reabertura de empresas. 

Se ele perder a reeleição em 2022, alguns acham que ele pode não aceitar o resultado. Ele lançou dúvidas sobre o voto eletrônico, aprovou decretos para “armar o público” e se gabou de que “só Deus” o removerá da presidência.

Na verdade, o Congresso do Brasil poderia fazer o trabalho sem a intervenção divina. Sua conduta provavelmente se qualifica como impeachável, incluindo “crimes de responsabilidade”, como instar as pessoas a desafiarem os bloqueios, ignorar ofertas de vacinas e demitir funcionários para proteger seus filhos. O Congresso recebeu 118 petições de impeachment. Dezenas de milhares se reuniram em 29 de maio para exigir sua expulsão.

Por enquanto, ele tem apoio suficiente no Congresso para bloquear o impeachment. Além disso, o vice-presidente, que iria assumir, é um general também nostálgico do regime militar.

No longo prazo, além de substituir Bolsonaro, o Brasil deve lidar com o cinismo e o desespero que o elegeu, enfrentando o baixo crescimento crônico e a desigualdade. Isso exigirá uma reforma dramática. No entanto, a própria resiliência que protegeu as instituições brasileiras das predações de um populista também as torna resistentes a mudanças benéficas.

As ações necessárias são assustadoras. Acima de tudo, o governo precisa servir ao público e não a si mesmo. Isso significa reduzir os privilégios dos trabalhadores do setor público, que consomem uma parcela insustentável dos gastos do governo. Os políticos também não devem se poupar. Os titulares de cargos devem ter menos proteções legais. Eles devem sacudir os sistemas eleitoral e partidário para permitir que sangue novo entre no Congresso.

O próximo governo deve combater a corrupção sem preconceitos, conter gastos desnecessários e aumentar a competitividade. A repressão na Amazônia deve ser acompanhada de alternativas econômicas ao desmatamento. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde, novos Bolsonaros surgirão.

Uma longa jornada pela frente

Salvo o impeachment de Bolsonaro, o destino do Brasil provavelmente será decidido pelos eleitores no ano que vem. 

Seu sucessor herdará um país danificado e dividido. Infelizmente, a podridão é muito mais profunda do que um único homem.

CONTINUA

Ex-Assessor De Bolsonaro E Médico Detalham Em Lives ‘Gabinete Paralelo’ Na Gestão Da Pandemia

Celeste Silveira 3 de junho de 2021 

Arthur Weintraub, apontado como idealizador dessa estrutura, estimou em 300 o número de integrantes do grupo.

Folha – Apontado como idealizador do chamado “gabinete paralelo” que assessora o governo federal no combate à pandemia da Covid-19, o ex-assessor da Presidência Arthur Weintraub estimou em cerca de 300 o número de pessoas aconselhando Jair Bolsonaro quanto ao uso da hidroxicloroquina

Detalhes da concepção e funcionamento desta estrutura, à margem do Ministério da Saúde, são descritos em duas lives realizadas entre Weintraub e o anestesista Luciano Dias Azevedo, um dos médicos mais influentes entre defensores do chamado “tratamento precoce” contra a Covid.

As conversas foram promovidas pelo canal de Weintraub no YouTube e tiveram audiência baixa, inferior a 5.000 visualizações cada uma até quarta-feira (2).

A existência de um “gabinete paralelo”, que aconselharia Bolsonaro sobre o uso de drogas ineficazes contra a Covid-19 como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, é uma das principais linhas de investigação da CPI da Covid no Senado.

Em 8 de julho de 2020, o então assessor da Presidência e o médico conversaram durante 58 minutos sobre os supostos benefícios do tratamento precoce contra o coronavírus. Na parte final da live, Azevedo explica à audiência que foi Weintraub quem criou o grupo paralelo e o agradece pela iniciativa.

“Eu quero te agradecer [Arthur], muito obrigado por essa jornada, de dias e noites que conversamos tanto, estudamos tanto juntos, discutimos tanta coisa. Você começou isso lá no começo de março [de 2020], pedindo para juntar gente para estudar [tratamento precoce]”, afirma o médico Azevedo.

Em resposta, Weintraub retribui a gentileza e estima o tamanho da rede de contatos do interlocutor.

”Você juntou um grupo gigante. As pessoas não sabem. Você deve ter umas 300 pessoas na tua rede de contatos, networking, só da hidroxicloroquina. Você é antenado, você sabe o que está acontecendo lá fora”, diz o então assessor da Presidência.

O médico em seguida emenda: “Agradeço pela oportunidade que vocês me abriram de eu puder juntar esse time para a gente poder estudar juntos e continuar achando soluções”.

A participação de Weintraub na estrutura paralela entrou na mira da CPI da Covid após o site Metrópoles ter revelado o vídeo de um evento dele, em agosto de 2020 no Palácio do Planalto, em que fala sobre seu contato com médicos que defendem o tratamento precoce. Azevedo era um dos presentes à solenidade, na ocasião.

Nas lives, Azevedo e Weintraub confirmam a existência do grupo de assessoramento, embora não utilizem o termo “gabinete paralelo” em nenhum momento.

Weintraub foi assessor da Presidência até setembro do ano passado, quando ganhou um cargo na OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington, nos Estados Unidos. Ele é irmão de Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, que também vive na capital americana, trabalhando no Banco Mundial.

Sete meses depois da primeira live, em 13 de fevereiro deste ano, os dois amigos voltaram a conversar, desta vez num bate-papo online de duas horas.

O tema principal era o uso medicinal da maconha, mas na parte final eles voltaram a falar sobre tratamento precoce e o grupo de assessoramento paralelo. Weintraub já estava em Washington, em seu novo cargo na OEA.

Dirigindo-se aos que acompanhavam a live, Azevedo diz que Arthur Weintraub foi quem “conectou” os médicos do grupo, que levavam informações a Bolsonaro.

Médico concursado da Marinha, Azevedo explica que integrava o Docentes Pela Liberdade, entidade que reúne professores universitários de direita, e foi nessa condição que se aproximou de Arthur.

Na live, o médico chega a chamar amistosamente o ex-assessor da Presidência, que tem formação jurídica e não médica, de “cabeção que estuda pra caramba”. Revela ainda que Abraham Weintraub, definido como “cabeção master”, também participou da iniciativa.

“Arthur começou a buscar junto com o Abraham para achar soluções para o país e para os hospitais e levava os artigos para o presidente ler. O presidente foi entendendo a doença, foi entendendo as possíveis soluções, o tratamento [precoce] era uma das soluções”, afirma Azevedo.

Em seguida, ele cita diversos médicos que se somaram ao grupo, inclusive Nise Yamaguchi, que prestou depoimento à CPI na última terça-feira (1º).

“Fomos construindo e agregando, aí veio o Zanotto, veio o Paulo, que é um colega da Unifesp que trabalha na área de linguística, o Marcelo, a Nise, o Wong, o Zeballos, a Marina, Luciana, Jorge, Zimmermann, já são mais de 10 mil. Entre fevereiro e março [de 2020] éramos nós que estávamos estudando, o Arthur tentando conectar esse pessoal todo”, relata Azevedo.

Entre os médicos citados estão, além de Nise, Paulo Zanotto (virologista), Anthony Wong (pediatra, morto em janeiro), Roberto Zeballos (imunologista) e Ricardo Zimmermann (infectologista). A Folha não conseguiu identificar os demais.

Azevedo acrescenta ainda que esse grupo fornecia informações bem fundamentadas para Bolsonaro sobre o tema.

“Esses caras estavam ouvindo uma gama imensa de gente que estava trazendo soluções de tudo que é jeito para ele [Bolsonaro], de grandes instituições, que estavam tendo reuniões constantes. Isso precisa ser dito”, afirma o médico.

Segundo ele, não eram opiniões “soltas”.

“Não é uma opinião solta, que o presidente da República acordou de manhã e falou ‘eu vou…’ Não, existia um movimento e um porquê, essas pessoas idôneas que tivessem a paciência de virar a noite, estudando e lendo artigos e compartilhando. Foi assim que tudo começou”, complementa.

Fonte: https://antropofagista.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário