BOMBA NO COLO DE MORO! Banqueiros Da Odebrecht Omitiram
Informações Em Delação Da Lava Jato; CONFIRA!
Por Luis Nassif e Joaquim de Carvalho
Luiz Augusto França, Marco Bilinski e Vinicius Borin são
peixes graúdos no mundo dos doleiros e das empresas offshore.
Foram pioneiros entre os operadores de mercado
especializados em trabalhar com paraísos fiscais e com dinheiro não declarado.
A cadeia da lavagem de dinheiro é composta assim:
Ação 1 – O caixa 2 da empresa ou da atividade criminosa.
Ação 2 – O agente financeiro, ou doleiro, que transfere para
instituições no exterior.
Ação 3 – A instituição que faz o chamado clearing,
ou seja,
a troca de reservas entre contas.
Os três conseguiram o feito de trabalhar simultaneamente nas
Ações 1 e 2.
Junto com executivos do Departamento de Operações
Estruturada (DOE), o departamento de propina da Odebrecht, adquiriram um
pequeno banco em Antigua, ilha do mar do Caribe, com o qual passaram a reciclar
a maior parte dos pagamentos da Odebrecht ao redor do mundo.
O nome dos três aparece na lista dos Paradise Papers, o novo
vazamento de contas em paraísos fiscais, divulgada pelo Le Monde.
Eles tinham acesso ao sistema Drousys, a rede criada pela
Odebrecht, para proteger as comunicações que sustentavam transferências e
aplicações.
Entre 1975 e 1982, Luiz França trabalhou no Eurobraz
(European Brailian Bank) e no Libra Bank.
Depois, na representação do Midland
Bank, no Excel, no Banco ABC e no Trend Bank, todas instituições que operavam o
mercado offshore.
Em 2004, juntamente com Borin e Bilinski, França foi
contratada para tocar a representação comercial do AOB (Antigua Overseas Bank),
cuja sede era
em Antígua.
A partir de determinado momento, a AOB se tornou a
instituição operada pelo DOE da Odebrecht e pela notória Cervejaria Petrópolis.
Em 2008 e 2009, o banco enfrentou problemas de liquidez e
foi liquidado, resultando em prejuízos para
a Odebrecht.
Surgiu daí a proposta de adquirir a filial desativado do
Meinl Bank em Antígua.
Um grupo de sócios ostensivos e ocultos – dentre esses,
executivos da Odebrecht, sem conhecimento da empresa – assumiram o controle.
Através do diretor da DOE Luiz Eduardo Soares convenceu a
empresa trocar o doleiro Adir Assad pelo chinês Wu Yu Sheng, que operava
através de um banco de Antígua.
Além de mais seguro, o novo banqueiro cobraria
apenas 4% de comissão, contra 5,5% de Adir.
Na verdade, o chinês era álibi. Recebia um fee mensal, mas
as comissões iriam direto para os três companheiros juntamente com os
executivos do DOE.
Com sinal verde, adquiriram uma filial do austríaco Meinl
Bank em Antígua, que estava praticamente desativado.
França se tornou o presidente do Banco e seu relações
públicas. Mas, antes mesmo da Lava Jato, seu histórico o condenava.
Foi o braço
direito do banqueiro Ezequiel Nasser, dono do Banco Excel, sobrinho dos Safra,
que adquiriu o Banco Econômico e acabou enredado em denúncias de fraude e
corrupção.
Quando tentou abrir uma filial do Meinl Bank no Panamá, a incursão
foi proibida pelas autoridades financeiras.
Conforme já relatado na abertura da série, a estratégia de
Wu consistia em ter contas no Meinl Bank e em bancos de Hong Kong.
Fazendo as
transferências entre os mesmos titulares, burlava-se o controle da OFAC
(Oficina de Controle de Ativos Estrangeiros), agência de inteligência financeira
do Departamento do Tesouro dos EUA.
Com a parceria com o DOE, a operação se expandiu.
Foram
abertas contas de brasileiros, peruanos, dominicanos, venezuelanos e
panamenhos.
França jogava alto. Em setembro de 2015 encontrou-se com o
embaixador Casroy James e acertou pagamento de 3 milhões de euros para o
primeiro ministro de Antígua e Barbuda, Gaston Browner, para controlar as
informações que seriam remetidas para a Lava Jato, no acordo de cooperação.
O pagamento vazou, obrigando o primeiro ministro a demitir
James.
Para a operação, os três sócios convenceram Vanuê Faria,
sobrinho de Walter Faria, o notório proprietário da cervejaria Petrópolis, a
comprar parte do capital e ludibriar o diretor do DOE sobre suas intenções,
simulando a entrada de capital.
Segundo Tacla Durán, em seu livro, na delação premiada, os
três sócios, França, Bilinski e Olívio Rodrigues esconderam informações a
respeito dos sistemas de computação do banco.
Com a Lava Jato explodindo,
acabaram ficando com depósitos de várias empresas, que preferiram não expor
resgatando os recursos.
Na delação de França, a Lava Jato aceitou passivamente que
os ganhos dos sócios limitavam-se a retiradas mensais de US$ 10 mil e quase
nenhum dividendo.
Isso para um banco, que segundo levantamentos superficiais,
movimentou mais de US$ 1,6 bilhão em 40 contas.
As penas propostas para os três foram:
Condenação à pena unificada máxima de 8 anos de reclusão e
suspensão dos demais feitos criminais.
Um ano em regime aberto diferenciado, com a única obrigação
de recolhimento domiciliar noturno nos dias úteis (das 20 às 6 horas) e
integral nos feriados e fins de semana, sem tornozeleira.
Seis meses em regime aberto com recolhimento integral nos
finais de semana e feriado, sem tornozeleira.
De 3 a 6 meses de pena restritiva de direitos: 6 horas
semanais de prestação de serviços à comunidade.
Depois disso, suspensão condicional da pena, sem quaisquer
condições restritivas pelo período restante
Ficou acertada, ainda, a possibilidade de 6 viagens nacionais ou internacionais
a trabalho, durante o cumprimento da pena prevista, com prévia autorização
judicial pelo período máximo de 7 dias
E uma multa de apenas US$ 1 milhão, que será paga apenas após
a repatriação de valores do exterior.
Para saber quanto dinheiro eles ganharam, a conta é simples.
Recebiam 4% sobre as operações da Odebrecht feitas através do banco.
Dois
valores aparecem relacionados às operações do Meinl Bank relacionadas à
Odebrecht — ora 1,6 bilhão, ora 2,6 bilhões.
De dólares.
Considerando que o número correto seja 1,6 bilhão de
dólares, a comissão do grupo foi de cerca de 64 milhões de dólares.
Além disso,
o banco recebia mais 2% pela movimentação oficial do dinheiro, o que representaria
mais 32 milhões.
No total, portanto, estima-se que os três, mais Olívio
Rodrigues, o quarto sócio — além dos dois sócios ocultos — receberam 96 milhões
de dólares de comissão, o que corresponde a 326 milhões de reais.
Mas a Lava Jato só cobrou dos três a multa de R$ 3,4 milhões
de reais.
Estranho, como é estranho também que os procuradores da república de
Curitiba tenham omitido da delação o doleiro por trás das maiores operações
realizadas pelo grupo: Dario Messer.
Em sua delação, Vinícius Borin aponta o que seria o caminho
do dinheiro sujo da Odebrecht.
Borin diz que a Odebrecht fazia transferências
para offshores dos sócios do Meinl Bank, incluindo ele próprio, e estes, depois
de ficar com a comissão de 2%, encaminhavam os valores para empresas do
advogado Rodrigo Tacla Durán no exterior.
Este remetia os recursos para
Vinícius Claret, o Juca Bala, no Uruguai.
Juca tem uma loja de surf em Punta Del Leste, a Paddle
Boards Uruguay, mas é só fachada.
Ele é conhecido por suas operações de lavagem
de dinheiro no Brasil.
Juca Bala tem um esquema que faz chegar até o endereço
indicado cédulas de real, transportadas por carro forte.
O esquema foi descoberto na investigação envolvendo
ex-governador Sérgio Cabral.
Tacla Durán nega participação nesse esquema, mas
sabe que ele existe. E mais: ele tem provas Juca Bala não é o cabeça do
esquema.
Ele trabalha para Darío Messer, apontado como o maior doleiro do
Brasil e antigo conhecido do juiz Sergio Moro.
Messer apareceu no escândalo do
Banestado, como grande operador, mas conseguiu se safar.
Messer nasceu no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, e seu
pai é paraguaio — por isso, ele tem cidadania paraguaia. No país vizinho, tem
grande influência política.
Seu pai foi amigo do atual presidente, Horácio
Cartes. O combativo e influente jornal ABC Color, de Assunção, publicou
reportagem sobre essa proximidade.
A relação entre os 2 viria dos anos 1980.
O pai de Darío
Messer, Mordko Messer, teria acolhido Cartes “afetiva e economicamente” quando
o político tentava se livrar de acusações de evasão de divisas naquela década.
Hoje, segundo o jornal, Darío Messer é como um irmão para Cartes, conhecido
também HC.
Messer, por sinal, depois que estourou a Lava Jato, teria
transferido residência para
o Paraguai.
O nome de Messer não aparece na Lava Jato, da mesma forma
como sumiu do caso Banestado, que morreu na jurisdição de Moro.
Estas são
linhas de investigação que devem ser perseguidas para conhecer efetivamente o
submundo do caixa 2 no Brasil.
O que está na superfície é glamouroso.
Borin e seus dois sócios trabalharam durante anos com Adir
Assad, no Trend Bank, onde a lavagem de dinheiro era feita através de
patrocínio em eventos automobilísticos.
Assad chegou a ser intimado para depor no FBI quando Hélio
de Castroneves foi processado por sonegação de impostos, há alguns anos.
Castroneves tinha patrocínio de empresas indicadas por Assad, mas ficava com
10% do valor pago.
O restante era devolvido, em contas de empresas de paraíso
fiscal, para a formação de caixa 2.
A Indy teria sido usado com esta finalidade por diversas
empresas, como o próprio Banestado e corruptores notórios, como a Bauruense,
cujo dono, Airton Daré, tinha um filho que disputou campeonatos da categoria, o
Darezinho.
A Baruense, protegida de Aécio Neves, foi uma das maiores
fornecedoras de serviços da estatal Furnas.
No Brasil, as digitais de Adir Assad— e, em consequência, de
Vinícius Borin, Luiz Augusto França e Marco Bilinski — estão impressas em
patrocínios da Stock Car. O esquema era o mesmo.
O patrocinador, como o próprio
Trend Bank, onde eles operavam, despejava um caminhão de dinheiro
nas equipes.
Tinha o nome estampado nos carros, mas isso não era o mais
importante. O que interessava era o dinheiro pago de volta. Lavagem pura.
Adir
Assad, conhecido por seu temperamento instável, já vazou sua intenção de contar
como funcionava o esquema, mas a justiça ainda não aceitou sua proposta de
delação. Estranho.
Carro da Stock Car com patrocínio do Trend
Os termos de delação dos três sócios do Meinl Bank podem ser interpretados como
mais um lance favorável no trio.
Delação é o resultado de negociação, com
valores estabelecidos num mercado de informação de interesse judicial. E eles
saíram bem.
Há mais de dez anos que atuam juntos, vistos como operadores
bem sucedidos.
Olívio se agregou ao grupo e trouxe para a sociedade o chinês Wu
Yu Sheng, que ajudou Fernando Migliaccio e Luiz Eduardo Soares a convencerem
Marcelo Odebrecht a trocar Assad do automobilismo por outro esquema de lavagem,
num lance que gerou atrito com Hilberto Silva, diretor de Operações
Estruturadas da empresa, muito próximo de Assad.
O chinês foi apresentado como um expert em operações de
lavagem, com trânsito em mercados orientais, mas não era nenhum astro da
lavagem de dinheiro.
Foi incorporado ao grupo por ter estudado com o irmão de
Olívio, Marcelo. Aceitou o papel, e outro Marcelo, o Odebrecht, foi convencido
a dar um tempo na sua relação com Adir Assad.
Em dez anos de operação, os três aceitaram outros parceiros,
mas eles mesmos nunca se separaram. Fazem tudo juntos, de maneira coordenada.
A
sede do Meinl Bank em São Paulo, na rua Helena, 267, foi comprada pelos três,
além de Olívio Rodrigues, o quarto sócio de fato e de direito
do banco.
O banco ocupa duas salas no condomínio da rua Helena.
Fernando Migliaccio, que era executivo da Odebrecht, é dono de 20%. Os outros
80% estão divididos entre os quatro.
Luiz Eduardo Rocha Soares, também
executivo da Odebrecht, chegou a ter participação na propriedade, mas depois a
vendeu.
Luiz Eduardo Soares talvez tenha se dado conta de que, no
grupo, era um parceiro eventual.
Migliaccio permaneceu na sociedade, mas, como
mostra seu acordo de delação, agia sozinho.
Seu patrimônio é grande, como
mostra a declaração juntada no acordo de delação premiada (abaixo).
Só em carros, exibe marcas como Mercedes e Porsche.
Tem ouro
em barra, casas de luxo, aplicações variadas.
Se ele, empregado da Odebrecht,
tem patrimônio declarado de algumas dezenas de milhões de dólares, imagine
quanto têm seus sócios no Meinl Bank, donos do banco.
Para eles, a multa de 1 milhão de dólares foi mais um entre
os excelentes negócios que aprenderam a fazer.