Terça, 14 Junho 2016 11:46 SENADO
IMPEACHMENT SEM CRIME
Lewandowski impede bloco do golpe de atropelar processo e
autoriza perícia
Lewandowski: decisão evita arguição futura de cerceamento
da defesa
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo
Lewandowski, colocou um freio na correria dos senadores que aderiram ao golpe,
cujo empenho, no momento, é o de atropelar prazos para antecipar a votação
definitiva do processo de impeachment em plenário. Com menos prazo na comissão,
iludem-se, o fraco governo provisório do usurpador Michel Temer ganharia
legitimidade e autoridade para tentar recuperar-se perante a opinião pública.
Na noite dessa segunda-feira (13), o ministro Lewandowski
acatou o pedido da defesa da presidenta Dilma Rousseff para que os fatos que
motivaram a denúncia: a edição de decretos suplementares de crédito sem
autorização e as ditas pedaladas fiscais passassem por uma auditoria pericial.
Lewandowski, que é a última instância recursal do processo, entendeu que a
realização da perícia não resultará em custos adicionais e evitará arguição de
nulidade do processo por parte da defesa futuramente.
"Essa decisão mostra que não se deve trabalhar nessa
comissão com atropelos. É importante que a comissão veja isso como um sinal. No
caso do Collor [ex-presidente Fernando Collor], que não tinha ninguém o
defendendo, teve perícia", lembrou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Na última quarta-feira (8), o advogado da presidenta Dilma
Rousseff pediu a uma análise do processo. Segundo ele, a perícia é essencial
para “"esclarecer os fatos relacionados à inexistência de materialidade,
de lesividade e de conduta típica, elementos centrais para que esteja
definitivamente provada a inocência da senhora presidenta".
O relator, Antônio Anastasia (PSDB-SP) até acatou o processo
mas, quando a comissão – composta em sua maioria por senadores golpistas – o
requerimento acabou rejeitado. Os apoiadores da presidenta tentaram reverter a
decisão, mas os atropeladores alegaram que já existe documentação sobre os
decretos suplementares e das pedaladas fiscais produzida pelo Tribunal de
Contas da União.
Nessa segunda-feira, durante o depoimento do secretário de
macroavaliação governamental do Tribunal de Contas da União, Leonardo Albernaz,
a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que os técnicos do TCU produziram um
relatório extremamente crítico com o governo, induzindo os ministros do TCU e a
sociedade a acreditarem que a presidenta Dilma Rousseff tinha praticado atos de
improbidade.
“Vossas senhorias nunca analisaram. Quando analisam, fazem o
relatório mais crítico da história, induzindo os ministros e grande parte da
opinião pública de que a presidente estava cometendo o maior crime de
responsabilidade, o maior crime em relação ao Orçamento e às contas públicas, e
induzindo que ela tinha que ser afastada. Foi isso que vossas senhorias fizeram
pela rigidez com que fizeram o relatório técnico”, afirmou.
A senadora insistiu que a presidenta enviou um projeto de
lei para revisão da meta fiscal em julho e o projeto só foi votado em dezembro
porque o Congresso não teve interesse em votar. Segundo ela, a edição dos
decretos em agosto foi necessária porque não era possível aguardar a
deliberação dos parlamentares.
O presidente da comissão especial do impeachment, Raimundo
Lira (PMDB-PB), designou três consultores do Senado: Diego Brandino Alves, que
atuará como coordenador, João Henrique Pederiva e Fernando Álvares Leão Rincón.
Os senadores terão 48 horas para apresentar perguntas aos
técnicos e, ao fim deste prazo, eles terão dez dias para concluir o trabalho.
De acordo com Lira, isso não atrapalhará o andamento dos trabalhos da comissão.
Lira também concedeu um prazo de 24 horas para que os
senadores analisem os nomes indicados por ele para a junta pericial.
A perícia, portanto, é uma forma de tentar encontrar uma
conclusão mais isenta para o caso. “Nós só temos uma forma aqui de provar que
não há crime de responsabilidade, e é tendo perícia. No caso do Plano Safra,
não há nem autoria por parte da Presidência da República”, afirmou o senador
Humberto Costa (PT-PE).
Ele ressaltou que a base de Temer já tentou limitar a
quantidade de testemunhas e conseguiu reduzir o tempo de fala dos senadores.
“Agora, perderam. Não vão cercear a defesa nesse ponto. Era escandalosa a
tentativa de impedir o direito de defesa da perícia. A decisão mostra que não
dá para trabalhar com atropelos. Montou-se uma maioria nesta comissão para
atropelar o devido processo legal”, criticou.
Audiência
Na noite dessa segunda-feira (13), antes de anunciada a
decisão de Lewandowski, senadores contrários ao afastamento da presidenta foram
até o STF, juntamente com o advogado de Dilma José Eduardo Cardozo, para protestar
contra os atos de cerceamento de defesa da presidenta praticados pela comissão
do Senado. Lewandowski é o responsável pela comissão processante do Senado
neste momento de análise do mérito da denúncia contra Dilma.
A ida ao Supremo ocorreu após a primeira parte da reunião
realizada pelo colegiado, que ouviu a duas testemunhas de acusação integrantes
do Tribunal de Contas da União. “Mais uma vez, a acusação não conseguiu
comprovar que houve crime de responsabilidade por parte da presidenta e tenta,
deliberadamente, suprimir os direitos da defesa”, resumiu o líder do Governo
Dilma no Senado, Humberto Costa (PT-PE).
O parlamentar e demais aliados da presidenta decidiram ir
até a sede do STF questionar os procedimentos adotados pela comissão para buscar
uma posição do ministro sobre os “atos explícitos” de cerceamento de defesa da
presidenta praticados pela comissão.
Com informações da assessoria de imprensa do senador
Humberto Costa e das agências de noticia
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