Dallagnol e Moro admitem que Lava-Jato depende da mídia
O ex-presidente Lula tem criticado o conluio entre as
autoridades policiais e do MPF e a imprensa, por meio do qual a pessoa é
condenada perante a opinião pública antes mesmo do devido processo legal
Publicado em 08/04/201
Sérgio Moro recebe prêmio de "Personalidade do
Ano"
das mãos do vice-presidente do Grupo Globo, João
Roberto Marinho
(dir), e do diretor de redação do
jornal O Globo, Ascânio Seleme
Essa semana, tanto o juiz federal Sérgio Moro, quanto o
coordenador dos procuradores da Lava Jato, Deltan Dallagnol, admitiram que o
apoio do que chamam de "opinião pública" é fundamental para o êxito
da Lava Jato, o que é estranho em casos penais, se basear mais na pressão
popular que nas evidências.
Em um país como o Brasil, onde a mídia é fortemente
concentrada em poucos grupos, em especial nas Organizações Globo, isso é ainda
mais grave.
Moro, que em artigo de 2004 analisou a importância dos
vazamentos e do apoio da "mídia simpatizante" na Operação Mãos
Limpas, afirmou, na Argentina, conforme registra o El País, que “Segundo a
Constituição brasileira, todos os processos têm de ser públicos. Na prática
isso é excepcional. A maioria desses processos complexos costuma ser
encaminhada de forma secreta.
Nós decidimos tratar esses casos com o máximo de
transparência e publicidade. É importante que a opinião pública possa controlar
o que está acontecendo, saber o que a Justiça está fazendo. Isso permitiu que houvesse
um grande apoio da opinião pública e serviu como proteção da Justiça porque,
quando pessoas poderosas estão envolvidas, há grande risco de obstrução, há
pressões. Milhões saíram às ruas, protestaram contra a corrupção e apoiaram as
investigações”, afirmou.
Moro recebeu em 2015 o Prêmio "Faz Diferença", das
Organizações Globo, e participou de eventos e publicou artigos em revistas da
Editora Abril, que publica a revista Veja.
Já Dallagnol, em
entrevista ao site da revista Época Negócios, também das Organizações
Globo, apontou a "comunicação social" como um dos fatores, junto com
a formação da força-tarefa e as delações premiadas, importantes para o sucesso
da Lava Jato.
"Outro fato foi a comunicação social, sendo transparente,
prestando contas para a sociedade.
Em um caso com tantos interesses poderosos
envolvidos, não se vai para a frente sem que a sociedade empreste seus ombros
para carregar adiante o caso."
Em tese, de acordo com o Código de Processo Penal,
Moro deveria ser imparcial em relação a equipe de Dallagnol e os advogados de
defesa. Mas Dallagnol já disse que ele e Moro são do "mesmo time" e
ambos tem discurso afinado como rostos públicos da força-tarefa onde a equipe
de Dallagnol atua em todos os casos e Moro julga todos os casos.
O ex-presidente Lula tem criticado o conluio entre a
Operação e a imprensa, onde a pessoa é condenada perante a opinião
pública antes mesmo do devido processo legal.
Para o desembargador Guilherme de Souza Nucci, "quando uma força-tarefa,
seja de que espécie for, passa da conta, invade o campo da ilicitude,
pratica abuso de autoridade e começa a contar com apoio popular para se
segurar, tem alguma coisa errada".
Fonte: http://lula.com.br/
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