MOVIMENTO POR ANULAÇÃO DO IMPEACHMENT CRESCE NO BRASIL E NO
EXTERIOR
Movimento pela Anulação do Impeachment se reuniu pela
primeira vez em São Paulo, onde defendeu o consenso de que a derrubada do
impeachment de Dilma Rousseff é o único caminho para a saída dos golpistas do
poder, o resgate do projeto aprovado e reeleito por 54 milhões de votos e o
restabelecimento da democracia; entre as estratégias para viabilizar a
volta de Dilma estão a ampliação e intensificação de debates e a realização de
grandes manifestações em várias cidades do País; para Eugênio Aragão,
último ministro da Justiça do governo Dilma e presente no evento, só a
organização da sociedade, com participação das massas, pode trazer resultados;
segundo ele, Michel Temer é "inimigo"; "Não temos de ser
oposição a Michel Temer porque ele assaltou o poder e se comportou como
inimigo, deve então ser tratado como inimigo"
11 DE JANEIRO DE 2017 ÀS 21:32
Da Rede Brasil Atual - A derrubada do impeachment de
Dilma Rousseff é o único caminho para a saída dos golpistas do poder, o resgate
do projeto aprovado e reeleito por 54 milhões de votos, o restabelecimento da
democracia, a consolidação do estado democrático de direito e a garantia de que
o povo vai poder escolher o futuro que quer para o país.
Uma nova eleição, em
meio ao avanço do golpe sobre os direitos, seria manipulada pelos golpistas
para a sua permanência no poder.
Este é o consenso defendido na noite desta
terça-feira (10) no primeiro ato-debate oficial realizado pelo Movimento pela
Anulação do Impeachment.
O jurista e procurador da República Eugênio Aragão, que foi
o último ministro da Justiça do governo Dilma, dividiu a mesa de debate com o
jornalista e presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, a enfermeira aposentada e
militante do PT Edva Aguilar, idealizadora das ventarolas distribuídas durante
os jogos olímpicos do Rio de Janeiro com a estampa "Fora Temer", e a
artista, compositora e ativista digital Malu Aires.
Na plateia que lotou o auditório da Apeoesp (o sindicato dos
professores da rede pública estadual), na Praça da República, região central de
São Paulo, representantes de movimentos de mulheres, de moradia e da periferia
da capital, do interior e de outros estados, além de integrantes do PT e do PCO
– que organizou o evento –, e dirigentes do sindicato dos psicólogos, de
professores e de sociólogos.
Participaram ainda representantes da União
Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes).
A ex-ministra de Políticas para
as Mulheres e amiga pessoal de Dilma Eleonora Menicucci não pôde comparecer,
mas enviou mensagem na qual destaca que as duas agradecem e apoiam a
mobilização. Um nome conhecido presente foi o ex-deputado estadual petista
Adriano Diogo.
Entre as estratégias do movimento para viabilizar a volta de
Dilma estão a ampliação e intensificação de debates e a realização de grandes
atos e manifestações em várias cidades do país para dar mais peso às pressões
que alguns de seus militantes já vêm fazendo sobre o Supremo Tribunal Federal e
a Procuradoria-Geral da República, onde estão parados processos que questionam
o impeachment por não haver crime de responsabilidade.
Além disso, levar a
questão para cortes internacionais por meio de um pedido de liminar na Corte
Interamericana de Direitos Humanos, na Costa Rica.
Estão sendo criados comitês em diversas cidades pelo país e
até no exterior, os quais começam a agendar eventos. Nesta sexta-feira (13) à
noite, haverá debate na sede da CUT, em Brasília, e em Belo Horizonte, a partir
das 20h, no Restaurante do Ano, com a presença de Edva e Malu, na chamada Sexta
Valente.
Entre os próximos dias 27 e 29, elas estarão no 1º Encontro
Internacional pela Democracia e Contra o Golpe em Amsterdam, na Holanda, com
ativistas brasileiros que moram na Europa.
É possível reverter o golpe?
Para Eugênio Aragão, é possível. "Se não tivéssemos
condições de enfrentar a Globo, o Sergio Moro, Rodrigo Janot, Gilmar Mendes,
não deveríamos estar aqui, e sim estar em casa, vendo novela", disse.
"Mais do que acreditar nisso, temos de ter fé de que é possível a partir
de uma consciência revolucionária.
Não se trata de religião. Nossa fé é uma fé
ditada, que nasce de um processo histórico, e a gente sabe que as coisas só
mudam na luta. Não existe nada que é dado de graça."
Essa consciência revolucionária, segundo ele, é o caminho
para uma democracia alternativa à atual, moldada para impedir que os excluídos
cheguem ao poder. "Vivemos em uma sociedade escravocrata, pré-histórica em
muitos aspectos.
Para chegarmos à democracia que queremos, temos de restabelecer
a que tínhamos. E para isso precisamos nos organizar e modular o nosso
discurso. A gente tem todas as condições na proporção de força para assumir o
poder que nunca assumimos", afirmou, ressaltando que, no seu entender, a
esquerda nunca esteve no poder, tampouco as massas.
"As massas que fazem a
crítica ao movimento, que oxigenam o movimento, nunca ditaram as políticas.
Apenas tiveram parte nas suas discussões."
Só a organização da sociedade, com participação das massas,
pode trazer resultados, conforme o ex-ministro. Ele não acredita que medidas
levadas às cortes internacionais possam surtir efeito.
O Comitê de Direitos
humanos ao qual os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
recorreram contra os abusos na Operação Lava Jato é "apenas mais um
elemento, uma pedra no caminho da reação".
"Não podemos ter esperança porque o comitê não tem
poderes importantes. Faz um parecer sobre a situação e faz recomendações aos
governos. Se os governos não acatarem, o comitê nada pode fazer. No máximo declarar
que o governo esta descumprindo um tratado. Ponto. A menos que esteja em jogo
interesses estratégicos de grandes potências centrais, o que não é o caso do
Brasil."
Diferenciados os conceitos de inimigo e adversário, Eugênio
Aragão destacou que o governo Temer é inimigo. E que oposição cabe apenas
quando a democracia está em vigor, o que não acontece agora.
"Quando a
democracia é derrotada, quem resiste é inimigo do golpe. Não temos de ser
oposição a Michel Temer porque ele assaltou o poder e se comportou como
inimigo, deve então ser tratado como inimigo."
Ele conclamou os movimentos sociais, que participaram, mas
não ditaram as políticas nos governos petistas, a relevarem as divergências
para a derrubada do golpe.
"Volta de Dilma é imperativo, é a partir daí
que a gente volta a conversar, a definir o que queremos para revigorar a
democracia. Não podemos vacilar agora. Num duelo, quem vacila leva o
tiro."
Ele lembrou episódios da ditadura, como a ocasião em foi
humilhado e xingado por militares por não cantar o hino nacional quando se
apresentou para o serviço militar. "Não podemos permitir que esse estado
de coisas volte".
E destacou a diferença entre os setores progressistas e a
ala conservadora que teve participação nos governos petistas e que apoiaram o
golpe e agora participam de seu governo. "Somos como água e óleo. Temos de
nos voltar para as massas, das quais nunca deveríamos ter nos afastado.
100% de chance
Rui Costa Pimenta também acredita na reversão do golpe.
"Um movimento formado pelas bases tem "100% de chances de
prosperar", diz. Crítico dos governos do PT principalmente pelas alianças
com setores da direita, pelo afastamento dos movimentos sociais e mais
recentemente pela falta de empenho das lideranças da legenda para conter a instalação
e o avanço do golpe, ele declara que não votou em Dilma – assim como todos do
PCO, segundo diz.
No entanto, defende a volta da presidenta eleita para a
expulsão dos golpistas e o fim do avanço dos ataques à democracia e aos
direitos.
Para ele, o momento é propício porque, conforme acredita, o
governo golpista entrou em uma espiral da crise que aponta para o fracasso do
golpe.
"Há diversos choques entre o governo, o congresso e o Judiciário,
em que a mídia golpista noticia que Temer tem o controle sobre o legislativo.
E
há até colunistas conservadores já escrevendo sobre a necessidade de o governo
dar marcha à ré e fazer política igual à do PT para evitar o colapso total. É a
oportunidade para reverter o impeachment.
E se não fosse possível, este
auditório não estaria lotado a uma hora dessas, em início de janeiro. A chance
de este movimento formado pelas bases dos movimentos, sindicatos e
partidos."
Na avaliação de Pimenta, a maior parte da esquerda não
dimensionou a real amplitude do impeachment. "É um típico golpe de estado
que avança rapidamente com medidas já aprovadas e outras em andamento para
modificar profundamente as relações existentes no país, principalmente
trabalhistas e sociais, que colocam em risco até mesmo a sobrevivência da
esquerda na legalidade.
A depender do plano que minimiza os riscos que o povo
está correndo, a esquerda vai ficar à margem de um estado que podem inclusive,
vir a sofrer uma intervenção militar."
A grande questão, para ele, é a facilidade com que o
impeachment foi assimilado por políticos e pela maioria da esquerda.
"Ninguém poderia ter aceitado o golpe desse grupo conspirador.
Não podemos
recuar diante do golpe que não se esgota com a retirada da presidenta eleita
reeleita com 54 milhões de votos mas que nos leva a todos a um beco sem saída.
Se não houver resistência, eles vão avançar e engolir tudo o que foi
conquistado com muita luta para derrubar a ditadura" .
Dúvidas
Edva Aguilar afirmou duvidar do apoio de Dilma a novas
eleições e criticou seu partido e a maioria da esquerda em dar o golpe como
consumado. "Grande parte das lideranças do PT e da esquerda não se
empenham na luta pela restituição do mandato de Dilma. Por que não unir forças
numa grande mobilização para anular o impeachment?", propõe.
A militante leu uma carta em que questiona a postura dos
integrantes do STF e do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em
relação às ações que questionam o impeachment.
"As perícias do Senado inocentaram Dilma das supostas
acusações de crime de responsabilidade que a tiraram do cargo. Isso torna o
impeachment ilegal, ilegítimo e inconstitucional.
Por isso os ministros do STF,
que são partícipes do golpe, devem acatar a ação que pede o cancelamento do
impeachment que é um golpe contra o voto popular, que dá um ponta pé na democracia
e um sinal verde ao golpismo. Anular é importante para a democracia porque não
há garantias de um processo eleitoral isento e livre."
Processo xexelento
Uma das autoras de Crônicas da Resistência 2016 – Narrativas
de uma Democracia Ameaçada, Malu Aires acredita que as pessoas estão finalmente
despertando para uma nova realidade.
"Parece que estão começando a
perceber a mesma coisa, que parece não haver mais leis, ou que as leis não são
nossas, e que os brasileiros não têm mais direito a nada.", diz.
A ativista não cogita a possibilidade de eleições.
"Não
vai haver 2018 porque a democracia acabou em 2014. Se a Dilma voltar, se esse
processo xexelento for anulado, com um país desse tamanho, muito maior que o
Congresso e o STF, nós vamos fazer o que deveríamos ter feito desde o começo:
governar junto com ela."
Fonte: http://www.brasil247.com/
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