“TEMPLOS RELIGIOSOS SÃO O MELHOR LUGAR PARA SE LAVAR
DINHEIRO NO BRASIL”
O Favela 247 procurou o ex-diácono André
Constantine, 38, hoje presidente da associação de moradores da Babilônia, a
comentar as acusações de que o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
teria utilizado a Assembleia de Deus para lavar dinheiro de propina: "O
que eu vou falar todo mundo sabe: nenhum templo religioso contribui com imposto
no Brasil, e este é o ponto de partida para toda a picaretagem. Viabiliza que
ali se lave dinheiro do narcotráfico, de bicheiro, de político e das
milícias", afirma Constantine
14 DE OUTUBRO DE 2015 ÀS 21:00 / Atualizado em 22/06/2016
Por Artur Voltolini, para o Favela 247
Segundo ex-pastor, isenção de impostos estimula a lavagem de
dinheiro nos templos religiosos
Entre as diversas acusações que pairam sobre Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), uma é a que ele tenha utilizado a igreja Assembleia de Deus, da qual
é membro, para receber pagamentos e fazer lavagem de dinheiro de propina,
segundos investigações da operação Lava Jato.
Para comentar as suspeitas, o Favela 247 procurou
o ex-diácono da Igreja Universal do Reino de Deus André Constantine, 38,
presidente da associação de moradores do morro da Babilônia e criador do
movimento Favela Não Se Cala. Constantine não demonstrou surpresa com as
acusações de lavagem de dinheiro dentro de uma igreja: "O que eu vou falar
todo mundo sabe, qualquer pessoa que frequente esses templos ou tem algum
cargo, tem a ciência de que esses templos são isentos de impostos. Nenhum
templo religioso contribui com imposto pro Estado brasileiro", afirma.
"E este é o ponto de partida para toda a picaretagem:
como eles são isentos de impostos, viabiliza que ali se lave dinheiro do
narcotráfico, de bicheiro, de político e de milícias. Esses templos religiosos
são o melhor lugar para se lavar dinheiro no Brasil", diz Constantine, que
afirma existir muita gente honesta, tanto que frequenta como que tenha cargos
eclesiásticos nas igrejas, mas, segundo ele: "A alta cúpula sabe até os
ossos, estão enterrados até o pescoço nisso".
Além da corrupção e da lavagem de dinheiro, outra
característica dessas igrejas e de seus líderes que incomoda Constantine são as
aspirações políticas: "O que mais me preocupa, principalmente no segmento
religioso protestante, é a intenção que existe nele de obter poder de Estado.
Eles elegeram diversos vereadores, deputados estaduais e federais. O Marcelo
Crivella (PRB) quase virou governador do Rio. A bancada evangélica é a mais
conservadora, vê as alianças que eles fazem: ruralistas, bancada da bala... Na
Marcha para Jesus estava o Bolsonaro. Aquilo ali virou carnaval e palanque
político. Cada eleição que passa essa bancada cresce mais. Eles alavancam o
fascismo e o conservadorismo através do discurso da 'família brasileira', mas
por trás dele há um discurso machista, homofóbico e racista", acredita
André.
Questionado sobre se essas denúncias contra Eduardo Cunha ou
outras lideranças religiosas evangélicas suspeitas de corrupção abalam a fé dos
fiéis, Contantine responde: "Isso não diz nada ao ouvido dos fieis. A
mente da maioria deles está tão cauterizada que, infelizmente, não conseguem
enxergar as coisas de forma mais abrangente. Eles fazem um trabalho muito forte
de condicionamento mental nessas igrejas", defende.
"Na favela, hoje, quando o morador vivencia um problema
existencial, financeiro ou de saúde, existem duas portas sempre abertas para o
acolher: a da droga e do crime, e a de um igreja", afirma o ex-diácono,
antes de iniciar uma crítica à interpretação das escrituras nas igrejas
neopentecostais: "Eles se utilizam de artifícios bíblicos. Para eles a
Bíblia é a inerrante palavra de Deus. O Malafaia que usa muito isso. Eles confiam
cegamente nesse livro, e é um livro muito fácil para você criar diversas
interpretações. Eles sempre pegam alguma coisa fora do contexto para fazer a
base ideologia deles verdadeira".
Constantine afirma que foi a leitura da Bíblia que o fez
escolher a apostasia, aos 23 anos: "Eu percebi que estava tudo errado
lendo a própria Bíblia, principalmente na questão do dízimo. Na Bíblia ele era
recolhido em forma de alimento, e apenas poderia ser recolhido pela tribo de
Levi, e só poderia ser destinado às viúvas, aos órfãos e aos estrangeiros. O
dízimo era uma parte da colheita separada pra fazer essa distribuição. Aí que
eu comecei a contestar. Hoje eles alegam que precisam pegar um dinheiro para a
manutenção da obra de Deus. E isso é uma grande deturpação da obra de Deus. Não
tem nada de espiritual nisso. Há também as questões naturais, como quando eles
falam que pagar dízimo vai repreender o gafanhoto. Eles demonizaram os
gafanhotos. Dizem que se você não entregar o dízimo na Igreja, os gafanhotos
mexem nas suas finanças. Eles espiritualizam coisas que são do campo natural.
Qualquer pessoas racional que leia aquele texto verá o que estou falando. Tudo
isso está no Malaquias 3:10, o livro mais utilizado por esse cães gulosos, por
esses vagabundos, pata justificar a cobrança de dízimo. Cães gulosos é como o
próprio profeta chama os falsos pastores, veja em Isaías", sugere.
Questionado sobre se pastores e políticos evangélicos
metidos em corrupção têm fé, Constantine é taxativo: "Pra mim esses caras
são os verdadeiros ateus. É tudo empresa cara, a estrutura toda funciona como
empresa. E na lógica do capital a empresa foca o lucro, assim como essas
instituições religiosas. A nossa sorte é que eles ainda são muito fracionados,
há interesses pessoais muito grandes envolvidos. Se não estivessem tão
fracionados a possibilidade de eleger um presidente evangélico seria muito
maior. Olhe o Malafaia: ladrão pilantra e safado. Apoiou o Cunha, e agora sai
por aí dizendo que não tem, nem nunca teve, nada com o Cunha. Esse Malafaia é
um dos maiores safados e pilantras do Brasil", acusa o ex-diácono.
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