Hoje na História, 18 de julho de 1918, nascia Nelson Mandela
Data: 18/07/2014
Por Douglas
Belchior
Dia 18 de Julho é aniversário de Nelson Mandela.
O grande ícone da luta antirracista na África do Sul faria 96 anos. Sua
morte em 5 de dezembro de 2013 comoveu e mundo e seu exemplo em
vida é uma verdadeira lição de resistência e humanidade.
Como reconhecimento de sua luta, a ONU instituiu ainda em
2009, a data de 18 de Julho como o Dia Internacional Nelson Mandela – Pela
liberdade, justiça e democracia, uma homenagem à sua dedicação e seus
serviços à humanidade, pela mediação de conflitos, pelo combate ao racismo
e pela promoção de direitos humanos.
Em tempos de continuidade de conflitos e da barbárie, das
ações violentas por parte dos Estados aos povos oprimidos em todo o mundo, do
avanço da prática do genocídio como se vê por parte do Estado de Israel
sobre o povo Palestino ou do Estado Brasileiro sobre o povo negro, me pergunto…
Mandela, o que fizeram com sua mensagem e seu exemplo?
Abaixo um bom documentário sobre sua vida, seguido da
transcrição de seu histórico discurso de posse como presidente eleito da África
do Sul.
Mandela vive!
“Chegou o momento de construir”
Nelson Mandela, Pretória, 10 de Maio de 1994.
Hoje, através da nossa presença aqui e das celebrações que
têm lugar noutras partes do nosso país e do mundo, conferimos glória e
esperança à liberdade recém-conquistada.
Da experiência de um extraordinário desastre humano que
durou demais, deve nascer uma sociedade da qual toda a humanidade se orgulhará.
Os nossos comportamentos diários como sul-africanos comuns
devem produzir uma realidade sul-africana que reforce a crença da humanidade na
justiça, fortaleça a sua confiança na nobreza da alma humana e alente as nossas
esperanças de uma vida gloriosa para todos.
Devemos tudo isto a nós próprios e aos povos do mundo, hoje
aqui tão bem representados.
Sem a menor hesitação, digo aos meus compatriotas que cada
um de nós está tão intimamente enraizado no solo deste belo país como estão as
célebres jacarandás de Pretória e as mimosas do bushveld.
Cada vez que tocamos no solo desta terra, experimentamos uma
sensação de renovação pessoal. O clima da nação muda com as estações.
Uma sensação de alegria e euforia comove-nos quando a erva
se torna verde e as flores desabrocham.
Esta união espiritual e física que partilhamos com esta
pátria comum explica a profunda dor que trazíamos no nosso coração quando
víamos o nosso país despedaçar-se num terrível conflito, quando o víamos
desprezado, proscrito e isolado pelos povos do mundo, precisamente por se ter
tornado a sede universal da perniciosa ideologia e prática do racismo e da
opressão racial.
Nós, o povo sul-africano, sentimo-nos realizados pelo facto
de a humanidade nos ter de novo acolhido no seu seio; por nós, proscritos até
há pouco tempo, termos recebido hoje o privilégio de acolhermos as nações do
mundo no nosso próprio território.
Agradecemos a todos os nossos distintos convidados
internacionais por terem vindo tomar posse, juntamente com o nosso povo,
daquilo que é, afinal, uma vitória comum pela justiça, pela paz e pela
dignidade humana.
Acreditamos que continuarão a apoiar-nos à medida que
enfrentarmos os desafios da construção da paz, da prosperidade, da democracia e
da erradicação do sexismo e do racismo.
Apreciamos sinceramente o papel desempenhado pelas massas do
nosso povo e pelos líderes das suas organizações democráticas políticas,
religiosas, femininas, de juventude, profissionais, tradicionais e outras para
conseguir este desenlace. O meu segundo vice-presidente o distinto F.W. de
Klerk, é um dos mais eminentes.
Também gostaríamos de prestar homenagem às nossas forças de
segurança, a todas as suas patentes, pelo destacado papel que desempenharam
para garantir as nossas primeiras eleições democráticas e a transição para a
democracia, protegendo-nos das forças sanguinárias que ainda se recusam a ver a
luz.
Chegou o momento de sarar as feridas.
Chegou o momento de transpor os abismos que nos dividem.
Chegou o momento de construir.
Conseguimos finalmente a nossa emancipação política.
Comprometemo-nos a libertar todo o nosso povo do continuado cativeiro da
pobreza, das privações, do sofrimento, da discriminação sexual e de quaisquer
outras.
Conseguimos dar os últimos passos em direcção à liberdade em
condições de paz relativa. Comprometemo-nos a construir uma paz completa, justa
e duradoura.
Triunfámos no nosso intento de implantar a esperança no
coração de milhões de compatriotas. Assumimos o compromisso de construir uma
sociedade na qual todos os sul-africanos, quer sejam negros ou brancos, possam
caminhar de cabeça erguida, sem receios no coração, certos do seu inalienável
direito a dignidade humana: uma nação arco-íris, em paz consigo própria e com o
mundo.
Como símbolo do seu compromisso de renovar o nosso país, o
novo governo provisório de Unidade Nacional abordará, com maior urgência, a questão
da amnistia para várias categorias de pessoas que se encontram actualmente a
cumprir penas de prisão.
Dedicamos o dia de hoje a todos os heróis e heroínas deste
país e do resto do mundo que se sacrificaram de diversas formas e deram as suas
vidas para que nós pudéssemos ser livres.
Os seus sonhos tornaram-se realidade. A sua recompensa é a
liberdade.
Sinto-me simultaneamente humilde e elevado pela honra e
privilégio que o povo da África do Sul me conferiu ao eleger-me primeiro
Presidente de um governo unido, democrático, não racista e não sexista.
Mesmo assim, temos consciência de que o caminho para a
liberdade não é fácil.
Sabemos muito bem que nenhum de nós pode ser bem-sucedido
agindo sozinho.
Por conseguinte, temos que agir em conjunto, como um povo
unido, pela reconciliação nacional, pela construção da nação, pelo nascimento
de um novo mundo.
Que haja justiça para todos.
Que haja paz para todos.
Que haja trabalho, pão, água e sal para todos.
Que cada um de nós saiba que o seu corpo, a sua mente e a
sua alma foram libertados para se realizarem.
Nunca, nunca e nunca mais voltará esta maravilhosa terra a
experimentar a opressão de uns sobre os outros, nem a sofrer a humilhação de
ser a escória do mundo.
Que reine a liberdade.
O sol nunca se porá sobre um tão glorioso feito humano.
Que Deus abençoe África!
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