sexta-feira, 14 de abril de 2017

MINEIRINHO NO ESGOTO: Marqueteiro de Aécio assinou contrato de ficção para receber por campanha de tucano

MINEIRINHO NO ESGOTO: Marqueteiro de Aécio assinou contrato de ficção para receber por campanha de tucano
14 de abril de 2017
 

JORNAL O GLOBO

Um contrato de projeto de publicidade com o objeto fictício de “aproximar o governo de Angola e a população do país” foi a saída encontrada pela Odebrecht e pelo marqueteiro do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Paulo Vasconcelos, para justificar uma contribuição de R$ 3 milhões em caixa 2 para a campanha do tucano à Presidência, em 2014.

O pagamento — realizado em duas parcelas de R$ 1,5 milhão — foi repassado pela empreiteira diretamente na conta da PVR Marketing e Propaganda Ltda., empresa do marqueteiro, e não foi declarado à Justiça Eleitoral.

O empresário Alexandre Accioly foi citado nas delaçõesDelator acusa Accioly de receber pagamento em nome de Aécio

Na tribuna, Aécio Neves cobra divulgação de banco e suposta conta em Nova York

Odebrecht: Grupo de Aécio recebeu R$ 50 milhões por influência no setor elétrico

O senador Aécio Neves (PSDB) é alvo do maior número de inquéritos Aécio pode ter pretensões eleitorais afetadas com lista de Fachin

Anastasia na Comissão Especial do Impeachment de Dilma Rousseff para ouvir testemunhas de acusação Nova lista de inquéritos tem 12 investigados da primeira lista

A informação consta dos depoimentos do diretor de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior, e do superintendente da Odebrecht em Minas Gerais, Sérgio Neves. 

Segundo os delatores, não foi a primeira vez que isso ocorreu: em 2009 e em 2010, a Odebrecht pagou R$ 1,8 milhões a Vasconcelos, em parcelas mensais de R$ 150 mil, como colaboração para a pré-campanha de Antonio Anastasia (PSDB-MG) ao governo de Minas.

Os valores também não passaram pelas contas oficiais. 
De acordo com os delatores, a época foi criado um contrato com “escopo fictício”, no caso, um “plano estratégico de comunicação da Odebrecht”.

— Em junho de 2009, Benedicto Júnior me procurou reportando que havia acertado com Aécio Neves apoio para a pré-campanha de Antonio Anastasia ao governo de Minas. Ele me indicou que o valor que a empresa iria contribuir era no valor de R$ 1,8 milhão e que deveria ser feito via um contrato com o marqueteiro do Aécio, o Paulo Vasconcelos – narrou Sérgio Neves em seu depoimento à força-tarefa da Lava-Jato.

O executivo da empreiteira diz que não conhecia Vasconcelos, mas foi procurado por ele, a exemplo do que havia avisado Benedicto.
Ele me trouxe algumas opções de escopo fictício, diga-se de passagem. 

Nessa época a empresa tava fazendo todo um trabalho de estudo, de comunicação. A gente pegou esse escopo como sendo o adequado para elaborar esse contrato – narrou o executivo, segundo o qual valores foram pagos “integralmente, sem que nenhum serviço tivesse sido prestado”.

Segundo Sérgio Neves, o mesmo teria ocorrido em 2014, quando, de igual forma, Benedicto Júnior o teria ligado e informado que havia acertado com Aécio a contribuição no valor de R$ 6 milhões para a campanha tucana à Presidência. 

O superintendente da Odebrecht em Minas diz ter feito novo contato com Vasconcelos, quando marcaram reuniões no escritório da empreiteira em Belo Horizonte e também no escritório do marqueteiro.

— Eu disse que estava desconfortável em fazer contrato neste valor (R$ 6 milhões) sem prestação de serviços. Eu sugeri: vamos fazer os R$ 3 milhões, e os outros R$ 3 milhões só no início de 2015. O Paulo concordou — afirma o executivo.

O contrato foi anexado ao inquérito que investiga o caso, e prometia desenvolver “projeto com foco no desenvolvimento social e na promoção da cidadania da população de Angola, mediante a criação, pela contratada, de instrumentos que permitissem a aproximação entre o governo de Angola e a população do país”.

“Caso o governo de Angola desejasse implantar o projeto”, estavam previstas ações como produção de cartilhas para mostrar “o real papel dos cidadãos no desenvolvimento do país” e iniciativas como a “criação de postos de atendimento médico nas comunidades, locais para implementação de documentos de identidade”. Até um filme sobre uma “Nova Angola para novos cidadãos” foi prometido no contrato.

No início de 2015, Vasconcelos teria voltado a procurar Sérgio Neves, para cobrar o saldo de R$ 3 milhões da eleição anterior.

— Eu pedi a ele que trouxesse algumas sugestões de escopo (para o novo contrato fictício). As sugestões que ele trazia, eu não me sentia confortável, o cenário não estava adequado, ou seja, a gente não conseguiu chegar a consenso em relação a (proposta de) escopo dos R$ 3 milhões finais. Não teve esse pagamento — contou Sérgio.

OUTRO LADO
Nesta sexta-feira, por meio de sua assessoria, Paulo Vasconcelos disse: “Os dois serviços relatados pelo delator foram efetivamente prestados pela PVR, como teremos possibilidade de comprovar ao longo da investigação.”

Já a assessoria do senador Aécio Neves informou que o tucano “jamais solicitou qualquer tipo de apoio de forma ilegal”, e não tinha conhecimento sobre “como a empresa (Odebrecht) fazia contribuições eleitorais”. 

A assessoria destacou trecho de depoimento de Benedicto Júnior em que ele afirma que “o senador fazia o pedido de doação e não se envolvia se ia ser feito por caixa 1 ou caixa 2”.

A assessoria destacou, ainda, que três dos cinco inquéritos contra Aécio mencionam pedidos de apoio para campanhas eleitorais de outros candidatos. “Na condição de dirigente partidário, o senador pediu apoio a diferentes doadores e sempre de acordo com a lei”, afirmou a assessoria.

A Odebrecht informou que “após a colaboração dos executivos e ex-executivos”, a empresa “reconheceu seus erros, pediu desculpas públicas e assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça, e também com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.

A empresa diz estar fazendo sua parte ao adotar “um novo modelo de governança” e implantar “normas rígidas de combate à corrupção”, com vigilância para que suas ações, “principalmente na relação com agentes públicos”, ocorram “dentro da ética, da integridade e da transparência”.



Nenhum comentário:

Postar um comentário